Vasco

Vasco

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A LENDA DO PÁSSARO DO EXPRESSO

Ele caminhava pela floresta da Tijuca, calmamente. De repente, cansado, sentou-se debaixo de uma árvore. Nem tinha mais noção de onde estava. Perdera o rumo. Enfim, dormira, por um bom pedaço de tempo. Quando acordou, são sabia se ainda dormia, se sonhara, ou se já estava acordado. Só sabia eu vira dois pássaroas –um todo preto e o outro amarelo –, pousando perto dele, trazendo um copo de vidro em seus bicos. O deixaram ali e se foram.
Sem entender nada do que ocorria, ele o apanhou o recipientre, com a mão direita, o examinou e o achou diferente. Tinha a base entortada, parecendo coisa de algum artesão. Media cerca de uns dois centímetros e meio, talvez. Era de cristal. Dentro, vira um líquido escuro, à altura de uns quatro dedos. Resolveu experimentar.
Um inocente golinho depois, e lá se viu o sujeito no meio da torcida cruzmaltina, em São Januário, comemorando os gols do ‘Expresso da Vitória”. Vibrou com o tento que fez o Vasco rasgou o cartaz do Arsenal, que se considerava o melhor do planeta. E assistiu aos gols da conquista do Mundial de Clubes Campeões de Futebol Sul-Americano; do Campeonato Carioca de 1947, de 1950 e de 1952. Santo cansaço. Lhe fizera dormir e sonhar com tantas alegrias que, pessoalmente, não as assistira. Só sabia de tudo aquilo lendo na revistas antigas, como “O Cruzeiro”e “Esporte Ilustrado”.
Levantou-se, com o copo ainda na mesma mão que o apanhara onde os dois pássaro o pousaram, olhou no fundo, já vazio, e teve a impressão de ler a receita do que aquilo fora feito. Seria um licor? Não tinha tanta certeza. O sabor era bem diferente de todos os que  já provara. Olhou em seu relógio e viu que era hora de pegar o caminho de volta. Em vez de voltar, caminhou em frente. Escutou um pppsssiiiuuu! Viu um anjo-mulher, um fada, uma bailarina, algo assimo, imaginou. Ela o convidou a se aproximar.
- Não se espante. Sou a Fada da Cruz de Malta – ela apresentou-se, usando um vestido branco, com uma faixa em diagonal contendo uma cruz inserida à altura do peito esquerdo.
- Mas esta cruz em seu vestido não e da Ordem de Malta. É da Ordem de Cristo – ele a corrigiu.
- Não tem importância. Foi usada, também, pela outra. Além do mais, eu venho da Ilha de Malta – ela justificou-se, propondo: - Espere, sem sair daqui. Volto, rápido.
A Fada da Cruz de Malta desapareceu, entrando em uma caverna, em frente de onde  estavam. Como prometera, voltara logo. Troxera uma garrafa branca, transparente, cheia de algo que ele imaginava ser o mesmo que bebera há pouco.
- Tome! É um presente. Mas só consuma quatro dedos, de cada vez. Rigorosamente, não passe disso. Se passar, não fará efeito. E observe o espaço de uma semana, no mínimo, ingerindo-o aos domingos, por volta das cinco da tarde, ou das nove da noite – ela recomendou.
- Como se chama este licor? – ele indagou.
-Claun! – ela o informou
Ele obervou que a fada tinha asas. Não se lembrava de ter visto estilização de nenhuma assim.
- Você se apresentou como uma fada. Agora é uma anja? – ele cobrou.
- Anja, não. Anjo. Os anjos não são assexuados. São como as mulheres de malta. Anjos e fadas – ela afirmou.
Instantinhos depois, eles se despediram e ele tentou ir embora. Porém, estava perdido no meio da floresta. Por sorte, por intermédio do seu telefone celular, contatou o Corpo de Bombeiros, que o resgatou.
Ele passou de dezembro, data daquela aventura, a fevereiro do ano seguinte, seguindo as recomendações da fada/anjo, ao beber do claun. Vibrava com as preezas do “Expresso da Vitória” durante os seus lindo sonhos delirantemente cruzmaltinos.
 Em 29 de fevereiro de 2012, ele foi a São Januário e assistiu ao empate, por 2 x 2, com o Bonsucesso. De volta para casa, bebeu os últimos quatro dedos de claun e dormiu. Acordou, na manhã seguinte, cedinho, com a fada em pé, diante de sua cama. Ela sorria para ele.
- Olá! -  a cumprimentou.
- Olá! – ela respondeu.
Ele foi levantando-se da cama e, sem querer, derrubou o copo e a garrafa que estavam em cima do criado mudo.
Ela fez um sinal com os braços, as mãos e os ombros, e foi desaparecendo, como fumaça.
- Volto no próximo 29 de fevereiro, para quebrarmos o tabu – e se foi.
No mesmo instante, dois pássaros, um preto e o outro amarelo, entraram pela janela e foram juntando, com bicadas, os cacos de vidros espalhados pelo chão. Fizeram uma trocha, com um lenço que encontram pelo quarto, e voaram, carregando-o. Saíram pela mesma janela que haviam entrado. Despareceram no horizonte de um mar bem azul mar. Ele ficou olhando, tentando decifrar que pássaros eram aqueles. Corvos não eram, porque eram menores; marrecos, muito menos; sofrês, figueiras, também não. Nem conhecia figueiras amarelas. Foi a uma redação jornalística e contou aquela história maluca. Falou de apenas um pássaro. No dia seguinte, leu na manchete.
“Pássaro desaparece no horizonte”.
 Quatro anos depois, leu no mesmo jornal:
“Caravela traz pássaro de volta ao Brasil”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário