121 - O espírito da Marquesa de Santos resolveu dar um chego em um terreiro de Brasília, pra ver como andava o seu ex-mundo, após um século de ausência. Malmente chegou, foi instada, por um Oficial de Justiça, a comparecer à Polícia Federal e a depor na Operação Lava Jato.
Sem problemas! O espírito Domitila de Castro e Canto pintou na área e foi cobrado pelo Delegado:
- A senhora é acusada de corrupção, de ser uma propineira.
- Nesse caso, cobrem do meu amante, o Imperador Dom Pedro I, pois tudo o que eu fiz foi com a ajuda dele. Não nego que mordi muita grana, indicando gente para cargos imperiais. Mas foi só uma graninha que, hoje, seria uma merrequinha, em relação ao que a rapaziada mordeu.
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Se Domitila era esta gataça toda, como no desenho da capa deste livro. Dom Pedro tinha mais era que... |
- Mesmo assim, Marquesa: crime é crime, em qualquer época. Está na lei e deve ser apurado.
- Mas está mais do que apurado, senhor Delegado. Todo o Império sabia das minhas mutretas. Só não sabia, quem não queria saber. Consta-se nos melhores livros de História do Brasil.
- A obrigação da Polícia, minha gloriosa Marquesa, não é ler livros de História, mas apurar denúncias recebidas, como esta contra Vosmecê.
- Então comece, Delegado, fazendo a conversão, de contos de réis para os seus atuais reais e vejamos em quanto meti na boca do cofre. Se o senhor não tiver um economista de plantão, posso voltar ao terreiro e invocar o espírito de Ruy Barbosa, que foi o inventor da inflação brasileira, em temos republicanos. Pediremos ao baiano um diagnóstico da curva inflacionária, do meu tempo para cá.
O Delegado concordou, o espírito da Marquesa voltou ao terreiro, contatou o de Ruy e voltou com os números para apresenta-los à Operação Lava Jato. Após o o homem examina-los, ela disse:
- Como o senhor lê, Delegado, o que propinei não daria hoje pra comprar dois pasteis e um caldo de cana, se comparado ao que os caras presos pela Lava Jato morderam. Portanto, quero um troco. O quanto antes. Caso contrário, escreverei uma carta ao Papa, pedindo a minha santificação. Sou um santa.
Domitila escreveu ao Papa Pio 12, que não surtou e nem assustou-se com a inusitada proposta, a primeira, naquele sentido, recebida pela Madre Igreja Católica Apostólica Romana. Pensou alto:
- Santificar uma mulher que vivia amasiada com um homem casado! Ainda mais, que prevaricava o fundo do cofre! Nenhuma chance! Mas, para não dizerem que sou um sujeito mau caráter, vou levar em conta que Madalena, acusada de ser uma prostituta, terminou santificada.
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... ser um vampirão e chupar todo o sangue dela, como sugere esta capa de livro. |
Diante do exposto, o Delegado chamou um policial e ordenou-lhe colocar tornozeleira eletrônica no espírito da Marquesa. A librou, para ficar em prisão domiciliar e com a missão de voltar ao além e levar uma intimação ao Imperador.
Bola fora do Delegado. Dom Pedro I veio depor e aproveitou a viagem para e executar o seu esporte predileto, traçar tudo quando era mulher que pintasse pela sua frente. E a do Delegado foi um delas.
LEVADO ÀS RESPONSAS, o espírito do Imperador preso julgado, considerado culpado e condenado a um time de temporadas na cadeia. Antes de ser julgado, ele cobrou do Juiz:
- O senhor não tem moral pra me esculhambar. É pago pra morar em sua casa.
- Recebo grana pra isso, sim, mas de forma legal.
- Legal, mas imoral.
Ao saber daquele rolo todo, o marechal Deodoro da Fonseca, compareceu ao mesmo terreiro visitado por Domitila de Castro e Canto e, depois de examinar como andava o Brasil republicano, ficou em dúvida se deveria, ou não, desproclamar a República. Foi convencido pela Marquesa de Santos a fazê-lo:
- Qual é, Marechal! Vamos nessa. No mais, é só deixar por minha conta, que eu curo a sua falta de ar. E de outras coisas. Não curei a epilepsia de Dom Pedro I? Perto de mim, ele sempre deu no couro, nunca escorregou no caroço do abacate.
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Deodoro analisou a possibilidade de desproclamar a República |
De outra parte, a Federação dos Propineiros do Brasil a homenageou como a sua presidência de honra e o Papa Pio 12 lavrou a sua santificação. Afinal, ela era uma santinha, em ralação ao que a rapaziada presa pela Lava havia propinado na atual encarnação.
Passado um tempo, a Justiça do Brasil reviu a condenação ao Imperador e o perdoou. Domitila veio para a solenidade de recuperação do moral do amante. Depois, rolou uma festa, com ele tocando violino e músicas de sua autoria. Ao final de tudo, os dois foram saindo de cena, no terreiro espírita, abraçados, com Pedro I passando a mão na bunda dela.
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