Vasco

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quinta-feira, 26 de outubro de 2023

O VENENO DO ESCORPIÃO - LALÁ ASSANHOU CABELO DA MULATA

           Hino nacional do Carnaval brasileiro teve"sambinha" na Justiça   

              

Não havia ninguém mais “bola murcha”, no janeiro do Rio de Janeiro de 1932, do que Francisco Alves, o cantor mais popular do Brasil. Culpa dele mesmo, que recusara gravar uma marchinha - O teu cabelo não nega - lhe oferecida por Lamartine Babo, preferindo uma outra – Marchinha de Amor – que não foi amada por ninguém.

 Já que o Chico não botava fé na composição do Lalá (como amigos apelidavam o Lamartine), estee propôs aos comediantes Castro Barbosa e Jonjoca grava-la. Os caras toparam, o Lalá falou com Pixinguinha, que levou uma galera de velhos amigos para um estúdio, onde ele mesmo conduziu a gravação - Luís Americano e Sousa Aragão (saxofones); Bonfliglio de Oliveira (piston); Donga (banjo); Vantuil de Carvalho (trombone); João Martins (contrabaixo) e Elezar de Carvalho (tuba). Além destes, o Lalá formou um coro que reuniu, ainda, ele, a sua amiga Carmem Miranda, Murilo Caldas e o Jonjoca.

 Amigo de diretores futebolísticos cariocas, Lamartine Babo conseguiu, com o Fluminense, autorização para lançar a marchinha em um dos bailes do clube, por aqueles dias em que se aproximava o Carnaval. Chutou pra fora. Os refinados sócios do Flu, indignados com a presença na casa de 18 músicos, alguns negros,  se retiraram - sem problema! 


 Quando janeiro terminava, Carmem Miranda fazia show no Teatro Eldorado e deu uma forcinha pro seu amigo Lalá, cantando a marchinha dele, que incendiou a Cidade Maravilhosa. Saída dali, “O teu cabelo não nega” tornou-se uma espécie de hino nacional do Carnaval. Era tocada e cantada onde houvesse Brasil. No entanto, quando o "Carná" chegou, só quem se deu mal foi o Lalá. 

 O sucesso de “O teu cabelo não nega” não deixava ninguém sentado em um salão de festas. Em Recife, quando ouviram, os irmãos João e Raul Valença se espantaram. Foram à imprensa e garantiram que aquela marcha era deles e se chamava “Mulata”. Mas quem iria dar ouvidos a eles, se Lamartine Babo, que aparecia como o autor era famoso, por dezenas de composições que todos os brasileiros haviam cantado? Os carinhas, porém, resolveram encarar. Explodiram um escândalo no Rio de Janeiro. Como o Lalá poderia fazer aquilo?  Era inacreditável - nem tanto!

Sujeito sempre duro, sem dinheiro, Lamartine Babo trabalhava para a gravadora Victor, que recebia centenas de letras para apreciação, e mandava-lhe arrumar as de bom nível. Por gostar de “Mulata”, que tinha apelo totalmente popularzão pernambucano, ele fez uma outra letra, a que inicia com o que todos ainda hoje cantam – O teu cabelo não nega, mulata/Porque és mulata na cor/ Mas como a cor não pega mulata/Mulata eu quero o teu amor. No original dos irmãos nordestinos, os versos começavam assim: Nestas terras do Brasil, aqui/Não precisa mais prantá, qui dá/Feijão muito doutô e giribita/ Muita mulata bonita.

Neste cartaz a gravadora Victor já escreve "adaptação" de  Lamartine Babo

 Os irmãos Valença foram á Justiça e pediram có-autoria da marcha. Enquanto o barato rolava no barraco da “Dona Justa”, a “mulata” conquistava popularidade avassaladora. O Lalá que ficara sendo “o cara dela", é o mesmo que compôs todos os hinos que a torcida carioca canta hoje em estádios lotados por milhares de torcedores. Não precisava chutar “bola fora”, Lalá! Como o seu amigo Chico Alves.                      


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