Vasco

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sábado, 26 de setembro de 2020

O VENENO DO ESCORPIÃO - MAR DE TONINHAS, BALEIAS E DE SURFISTAS

Mar e Marinha brasileira nem sempre deslizaram juntos pela crista da onda. Quem se juntar aos malandros dos botecos da esquina ouvirá três inacreditáveis caçoadas iradas sobre a nossa gloriosa Armada. A sacanagem parte de 1917, durante a I Guerra Mundial, quando os nossos marinheiros foram convocados para lutar ao lado dos Estados Unidos, contra a Trílice Aliança, formada por Alemanha , Itália e o império Austro-Húngaro.

 Embora sem traquejo para guerras intercontinentais, os brazucas não tinham como recusar ir à luta, afinal a alemãozada explodira dois dos nossos navios que partiam do porto de Santos carregados com café, em abril daquela temporadas guerreira. E lá se foi a nosssa marinheirada para o outro lado do Atlântico, levando um forcinha para os seus aliados. 

Era novembro já de 1918, quando o almirante Fernando Frotin, comandante do cruzador Bahia, navegava para o norte e pintava pelo  Mediterrâneo, onde  a guerra pegava fogo. Antes de partir, os britânicos lhe avisaram pra ficar esperto, pois submarinos alemães haviam afundado o seu encouraçado Britannia que, por sinal, acompanhara a flotilha brasileira na viagem para o conflito.

 Frontin chegou ao Mediterrâneo pelo Estreito de Gibraltar. E foi, então, que o rolo rolou. Movimentação esquisita perto do seu navio e barato estranho nas águas, fizeram-no crer estar diante de submarino alemão. Rápido no gatilho, ele ordenou abrir fogo. Tocado o rebu, os “alemães” não reagiram. Sangue coloriu o Mediterrâneo. Frotin havia matado um cardume com 46 toninhas, mamífero parecido com golfinhos.

Passadas 35 temporadas, chegava a II Guerra Mundial e mais uma bola fora da marinhada brazuca. O calendário marcava fevereiro de 1943 e o Rio de Janeiro vivia apavorado à espera de ataques por submarinos alemães. Lá pelas tantas, o Forte do Leme tocou a sirena de alarme, avisando que os inimigos estavam chegando. O comandante, capitão Sadock de Sá, repetiu o almirante Frontin e foi acompanhado pelas fortalezas de Santa Cruz, de São João e pelo Forte de Copacabana. Rolaram minutos de intenso tiroteio. Ao cessar fogo, verificou-se que os “submarinos alemães”, na verdade, eram baleias – e nenhum tiro acertou o alvo.       

O terceiro caso é o mais irado. Aconteceu por volta de 1956, no Arpoador, que era área militar fechada após as 18 horas. Verãozão escaldante na Cidade Maravilhosa, em um fim de tarde,  um rapaz entrou no mar da Avenida Francisco Bhering e a primeria onda que pintou o levou até o pedaço proibitivo dos milicos. Pra quê? Pra matar de susto o guarda que tirava sentinela no exato momento em que uma figura rumava, em pé, sobre as águas, em sua direção. Que o recruta soubesse, só Jesus Cristo faria aquilo.

- Assombração! Assombração! Socorro! – gritou o apavorado guarda, que desmaiou, deixando o fuzil estendido ao chão, do seu lado.

 Daquela vez, não era um cardume de tominhas e nem baleias. Era o primeiro surfista brasileiro, Arduíno Colasanti. Também, pudera! (gíria da época). Quem sabia, no Brasil, o que seria o surf? Até os primeiros alunos do pioneirão se sentiam em cima de um jacaré.    

    

 

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