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Esperando a Copa-66 |
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Antes da Copa
do Mundo-1950 |
Ao longo da história gráfica brasileira
dezenas de revistas esportivas chegaram ao mercado de quase todas as partes do
país. Mas poucas demoraram muito tempo nas bancas. Sem estrutura, planejamento
e pesquisa de mercado (isso é coisa mais recente), a sobrevivência fica
difícil. O que deduz-se por um estudo dessas revistas é que, quase sempre, um
aventureiro lançava-se à empreitada só com a cara e a coragem. É de se crer,
também, que os contatos publicitários não tivessem nível cultural suficiente
para convencer um cliente. O que se dizer de uma revista com Pelé na capa
vendendo poucos anúncios? Certamente, não se explorou o detalhe, pela falta de
dados sobre o “Rei do Futebol”, por parte do contato, ou de não haver
concatenação entre o departamento publicitário e a redação.
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Um ano depois
da Copa-1966 |
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Interior gaúcho-1953 |
Não há como negar: a capa vende. No mínimo, faz
o leitor examiná-la e pensar se leva a revista. Quem não pararia para examinar
a do Nº 46, da Hig Sport, de 1969? Confira o desenho artístico. Um outro bom
vendedor é a mulher sexy. As primeiras revistas esportivas brasileiras eram
muito conservadoras, por conta do moralismo da época, e pouco divulgaram as
atletas em capas, assim mesmo, bem circunspectas – saíram mais em contracapas e
no miolo. A Manchete Esportiva, na década-1950, trouxe-as mais despidas, mas
não explorou isso publicitariamente, como o fez Placar já perto do final do
século 20. Enfim, com ou sem estes detalhes, não há como negar: falta de
anúncios é causa dos três itens citados nos primeiros parágrafos, a julgar pelo
que se vê nas grandes revistas antigas, como O Cruzeiro e Manchete,
principalmente.
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Belo Horizonte-1964 |
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Pelé na Foto Esporte |
CONFORME JÁ LEMOS, a Revista do Esporte vendia
poucos anúncios, porque tinha a irmã Revista do Rádio – segunda vendedora
avulsa nacional, durante três décadas – segurando-a. O mesmo ocorria com O
Globo Sportivo e a Manchete Esportiva. Seus proprietários, respectivamente,
Roberto Marinho e Adolpho Bloch, tinham grandes
suportes para elas em sujas empresas. Já a paulistana A Gazeta Esportiva corri
atrás, com vontade. Um outro bom exemplo
de corrida acirrada atrás do anunciante foi a mineira Foto Esporte. Em tamanho desconfortável para o leitor –
32,50 x 23 cm –, toda em preto e branco e com fotografias de qualidade aquém do
desejável, vendeu 14 anúncios para o seu primeiro número, de julho de 1964,
quando ainda não havia ainda e euforia pela nova era surgida no futebol das
alterosas com a inauguração do Mineirão – Agência Silvauto (automóveis);
Andorauto (assistência técnica para Simca); Orion (massas alimentícias); Propac
(revendedor do Vulcapiso); Mesbla (grande loja já extinta e que atuava em
vários setores, divulgando a sua auto oficina mecânica); Banco Moreira Salles;
Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais; Bemoreira (loja de varejo em três
Estados); Eletro Carimbos; Divinal (maçanetas par levantar vidros); Café
Palhares, que batizou-se, simpaticamente, por “Quartel General dos Esportes”;
São Bernardo (lançamentos e incorporações); Sabel (vendas de Simca) e
H.Coscarelli (venda de óculos).
ALÉM DESSES, ainda houve anúncios do Jornal
do Automóvel (suplemento do jornal Diário de Minas) e de O Debate (jornal
esportivo mineiro), o que pode ter sido permuta, e um outro de Eraldo (desenhos
comerciais e publicitários), que pode ter sido cortesia da casa, de vez que o
dono do nome era, também, chargista da revista, produzindo “Eraldo nos
esportes”. Portanto, 17 recados, o que significa ter tirado a bunda da cadeira
e corrido atrás.
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Foto Esporte |
Se mineiro trabalha em silêncio, “Foto Esporte” tentou comprovar. Quinze
números depois, mantendo o mesmo padrão, voltou às bancas com os 17 anúncios,
em sua segunda temporada. Daquela vez, mais focada na Copla do Mundo-1966, na
Inglaterra –Banco Mineiro do Oeste; Astrobel (colchões de mola); Monark
(bicicleta, com Pelé garoto-propaganda); Novatração de Minas Gerais (reparos e
reformas de pneus de máquinas e tratores); Distribuidora Hudson (lubrificantes,
graxas, fluidos par freios, detergentes, estopas para carros); ADEMG (agência estatal administradora do
estádio Mineirão); Recapagem Minas gerais (pneus e câmaras); Brama Extra
(bebida); Academia de Danças Rodolfo Levi; O Debate; Irmãos Machado
(investimentos, exportação, importação e títulos); Itambé (divulgando doce de
leite); Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais (desejando sucesso ao
mineiro Tostão e ao escrete brasileiro
na Copa do Mundo-1966); Loteria de Minas Gerais; Atuo Mecânica Lambertucci;
Prefeitura de Belo Horizonte e Sprotball (bola de futebol) prestigiaram a
edição. Se comparado com a quantidade de espaços vendidos na mesma época pelas
cariocas Revistas do Esporte e Futebol e Outros Esportes, estes levaram um “vareio
de bola”. Isto é, de anúncios.
NADA DE NOVO. Entre março e abril de 1950, vésperas da primeira Copa do Mundo no Brasil, a carioca revista “Goal!!!”, com o numero sete totalmente sobre o evento,
só vendeu quatro recados em 32 páginas –
Cafiaspirina; A Equitativa (seguros de vida);) Madalena (comércio de
papel) e Eno (sal de frutas), este aparecendo duas vezes. Na segunda, podendo ter
sido o chamado “calhau”, na linguagem de redação o anúncio que cobre o espaço
para onde não se tem texto.
Com os contatos publicitários cariocas devagar, mergulhemos
no mapa e no tempo. Adiantemos três temporadas.
Em setembro de 1953, quando a gaúcha Revista dos Esportes, da cidade de Pelotas,
chegava ao número 55, em um mercado infinitamente menor do que o do Rio de
Janeiro, a publicação circulava com 37 anúncios – Bolinder´s (trastr); Cimer (importadora agrícola);
Oficina Técnica Fonseca (maquinaria agrícola); Mesbla (loja de produtos
variados); Casa Krentfh e Casa Americana (artigos esportivos); Pelotense (reformadora
de pneus Tyresoles); Peitoral de Angico Pelotense e Faycal (remédios contra tosse); Drogaria
Unicum; Bazar Edison; Casa Champion( baterias Heliar); Garage do Centro (estadias,
oficinas, equipamentos); (VARIG (viação
aérea); Rubens Cosa Vitório (oferecimento de consertos de relógios,
calculadoras, máquinas de escrever, etc e reformas); CH Nogueira (vendas de
terrenos); Tipografia Arauto; Círculo Operário
Pelotense; Cerâmica São Jeronimo; Cerâmica Pelotense; Cine Pelotas (empresa com
três salas projetoras na cidade); João F. Pires de Lima (representante de firma
Barcelos & Frank, arquiteto, construção
em geral); Cooperativa de Laticínios Pelotense; Tabacaria (divulgando os cigarros
Douradinho Extra, Misturas Fina, Columbia, Piccadilly, Cairo, Luiz XV, Albaniz,
Finesse, Lincoln e Beverly); Audácia (cigarro do fumo Virginia); Café Lamego; Alfaiataria
Vargas; Jardim (pinturas em prédios,
caiações, letreiros, desenhos); Banco Industiral e Comercial do Sul; Agência
Jacaré (Bicicletas); Casa Sedutora (calçados); Sayão & Gomes (representante
de Bom Bril); Agripino L. Alencastro (leiloeiro oficial); Jockey Club de
Pelotas; Joaquim Oliveira (fabricante de adubos) e Ferragem Carvalhal (divulgando
os Encerados Locomotiva).
Para uma revista interiorana, dedicada ao esporte da
terra e com pouquíssimas visitas ao futebol nacional, com fotografia de
qualidade fraca e a capa em sécia, era uma demonstração de que os buscadores de
anúncios se viravam.
De um extremo ao outro, em Manaus-1967, após o
insucesso do Brasil na Copa do Mundo-1966, época em que o Amazonas ainda ficava
“longe do mundo”, a “Esporte em Revista” vendia mais anúncios do que as cariocas
citadas acima. Embora fosse de impressão nada boa e sem padrão editorial,
misturando todo o tipo de informação – o material dos principais centros do
futebol brasileiro era fornecido pela agência noticiosa Sport Press – seu sétimo
número, por exemplo, circulou com nove visitas
– Bazar Esporte e Bazar Costantinópolis (lojas esportivas); Drogaria
Haddad; Lojas Boliche (elegância masculina); Antarctica; Selvatur (aluguel de
apartamentos para turistas no Rio de Janeiro); Loja Cearense (tecidos e
produtos das Zona franca de Manaus, como rádios, eletrolas gravadores, etc) e
Depro e Avianca (elegendo a Garota Turismo-1967).
Há ainda um anuncio da PRH-4, Rádio Cultura, que pode ter sido permuta. Portanto, ou corre atrás, ou fica parado. Com revista
esportiva sempre foi e será assim.
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