Vasco

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domingo, 21 de fevereiro de 2016

O ADMIRÁVEL ALMIRANTE - 2

                         O craque e a voadora
 Minha fantasia sobre os poderes mágicos do Expresso da Vitória, que eu imaginava como os Globetrotters do futebol, saíram do sonho para a realidade no dia 31 de julho de 1.955. O garoto de 17 anos mal completados estava ali, minúsculo na grandiosidade do Maracanã, para ver de perto o time que o encantava desde a final de 1950, quando bateu o América para alcançar o quarto título em seis anos, três deles invicto.
Antes, na infância vivida na pacata Conceição das Pedras, Sul de Minas, os encontros com o Vasco aconteciam nas tardes domingueiras, pelas ondas curtas da Rádio Nacional, quando as vozes de Jorge Cury e Antonio Cordeiro criavam aquele ‘’espetáculo’’ esculpido pela imaginação. De Maneca para Ademir, deste para Chico, lá vai a bomba, e mais um gol da artilharia pesada do ‘’Almirante’’.
Era dia de Torneio Início. Um desfile de pré-apresentação de quem teria garrafas para vender durante o campeonato. Trinta minutos de cada jogo, em dois tempos. Vasco, Flamengo, Bangu, Botafogo, Fluminense, América, Olaria, Canto do Rio, São Cristóvão, Madureira, Bonsucesso e Portuguesa. Com Zizinho, tirado do Flamengo, o Bangu também era grande. E foi campeão, disputando a final daquele torneio, contra o Vasco.
Uma senhora tarde para quem gostava de futebol e só conhecia times e jogadores pelas ondas do rádio. Na minha terra, as ‘’discussões’’ sobre futebol terminavam na velha pendenga sobre quem era melhor: Zizinho ou Ademir? Discussões acaloradas que já vinham do começo dos anos 40 e serviram para esquentar mais ainda a rivalidade de Vasco e Flamengo, protagonistas eternos, àquela época, do chamado "Clássico dos Milhões".
O Botafogo tinha um eterno reserva, mas bom de bola, chamado Neca. Num time de Paraguaio, Geninho, Pirilo, Otávio e Braguinha, com a intermediária campeã de 1948 – Rubinho, Ávila e Juvenal – não havia mesmo lugar para ele. Nem para Zezinho, Ariosto e outros que apareceram depois no time principal. Sílvio Parodi era o ponta esquerda do Vasco. Foi importado do Paraguai junto com o goleiro Victor Gonzalez. Não era um grande driblador e nem tinha tanta velocidade. Mas fazia cortes mortais, limpando a jogada, e desferia um dos chutes mais potentes do futebol da época, ao lado de Jair da Rosa Pinto, Nívio e uns poucos outros.
No jogo em que o Vasco eliminou o Botafogo, Parodi tirou Neca de campo, com uma entrada violenta e desnecessária, numa jogada normal  no meio do campo. Zizinho, que assistia ao jogo, sentado no banco dos reservas, guardou. E no jogo final, em que venceu o "Esquadrão da Colina", por 1 x 0, ele tentou vingar o caso Neca, com dose exageradamente potencializada. Partiu para cima de Parodi, aplicando uma tesoura voadora. Se pega, jogaria o nosso ponta pra lá de Assunção. ‘’ Se o paraguaio não fosse de circo’’...comentou, no dia seguinte, um colunista.
É essa a minha pequena estória sobre o primeiro encontro com o Vasco, fora da fantasia das transmissões radiofônicas. Não há muito a contar sobre os jogos do time naquele torneio de 61 anos passados, em que só demos vexame. Fo quando o Flamengo ganhou um tricampeonato sabe-se lá como, numa final em que tudo aconteceu, do apito aos bastidores, para impedir a vitória do melhor time da época, o América, de Martim Francisco.  O grande Zizinho, o melhor de todos os tempos em sua posição, construiu na memória deste  vascaíno uma imagem difícil de apagar. Sem apagar, porém, a admiração que sempre manteve pela qualidade do futebol do ‘’Mestre Ziza’’.  Aluísio Raimundo de Carvalho (jornalista) - Brasilia.

KIKE NO LANCE: o Torneio Início do Campeonato Carioca-1955 foi disputado na tarde de 31 de julho, no Maracanã. O Vasco estreou na segunda partida, mandando 2 x 0 no Bonsucesso, com Pinga, no primeiro tempo, e Valdemar (contra), na segundo, mexendo no placar. Eunápio de Queirós apitou. A seguir, a “Turma da Colina” manteve a formação e eliminou a Portuguesa, da Ilha do Governador (3 x 2, nos pênaltis, batidos por Parodi, e 0 x 0 no tempo regulamentar), novamente ouvindo o apito de Eunápio. Próxima vitória: 1 x 0 sobre o Botafogo, com mesma formação anterior, gol de Vavá e arbitragem de Alberto da Gama Malcher.  E foi para a final, encarar o Bangu, que havia eliminado o São Cristóvão (3 x 2 nos penais), o Fluminense (1 x 0, no tempo normal), e o Flamengo (3 x 0, nas penalidades máximas). Nesta, apitada por Mario Vianna, a rapaziada saiu vice, caindo por 0 x 1, com gol de Zizinho, na segunda fase. Vitor Gonzalez; Paulinho e Bellini; Mirim, Orlando e Dario; Sabará, Iedo, Vavá, Pinga e Sílvio Parodi foi o “vice-almirante” da tarde e formação de todos os jogos.











 
 

 

Um comentário:

  1. O jornalista Aluisio Raimundo de Carvalho relembrou muito bem os narradores Jorge Cury e Antônio Cordeiro, da Rádio Nacional. Ambos foram os criadores de uma forma muito interessante de transmitir jogos: cada locutor narrava os lances que se desenrolavam numa das metades do campo. Por exemplo, num jogo Vasco e Botafogo, se a bola estivesse no campo de defesa do Vasco, Antônio Cordeiro narraria as ações da defesa do Vasco e as do ataque do Botafogo, e caso a bola estivesse no campo de defesa do Botafogo, Jorge Cury narraria os lances de defesa do Botafogo e os de ataque do Vasco. No segundo tempo invertiam, cada um com seu estilo característico de narrar. O resultado seria, por hipótese, mais ou menos este:
    - ANTÔNIO CORDEIRO: “Bola nos pés de Danilo que dribla Braguinha e entrega a Eli. Eli a Ademir, que parte para o ataque...”
    - JORGE CURY: “Ademir avança com a “pelota” nos pés, rola para Eli que deixa passar para Heleno. Heleno perde para Nilton Santos que chuta pra frente na direção de Braguinha...”
    - ANTÔNIO CORDEIRO: “...Recebe Braguinha, avança rápido pela esquerda...”
    E assim a narração tomava nova dinâmica, nova vibração. Eles próprios comentavam o jogo após um pequeno intervalo para os patrocinadores, geralmente Brahma Chopp, Melhoral... Comentarista de arbitragem não existia nem em pensamento. Em suma: pouca gente, nenhuma vinheta, nenhum “parabéns pra fulano”, nada de sambinha, pagode, muito raramente um abraço. Apenas qualidade e emoção.

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