Detentor da vergonhosa conta de 5 milhões de negros
africanos trazidos como escravos, o Brasil, só a partir da década-1930 passou a
discutir, timidamente, democracia racial,
embora durante a maior parte do século
20 nada fizesse para combater racismos. A abolição da escravatura, em 1888, nem
ajudou tanto, devido ausência de norma
legal definindo desigualdades. Com isso, mesmo com acentuada presença africana na cultura brasileira, o Império desconsiderava propostas para a inclusão do negro no
desenvolvimento nacional.
Imagem reproduzida de capa de livro |
Quando ministro da Fazenda (1889/1891) do primeiro governo republicano, ele ordenou a queima de todos os arquivos sobre a escravidão negra no país, para inviabilizar cálculos indenizatórios que proprietários de escravos receberiam da República, por terem as suas economias abaladas, como pedia projeto de lei enviado à Câmara, 11 dias após a Abolição assinada pela Princesa Isabel .
MESMO COM o baiano Ruy Barbosa queimando a história, o maranhense Nina Rodrigues, especialista em Medicina Legal, descobriu que mestiços e crioulos brasileiros descendiam de camitas africanos, semitas mestiços muçulmanos, sudaneses da Costa do Ouro, bantus e de escravos. Gente de centenas de nações africanas. Muito mais, porém, deixou de ser pesquisado, como as invasões de reinós que destruíram, em 1867, a República Negra dos Palmares, criada pelos bantus, que se insugiram, novamente, 1813, bem cmo os nagôs; religiosidades do candomblé, da macumba e de outros cultos, e a mitologia gêgê-nagô, que os gerou.
Estudos
antropológicos que escaparam da fogueira do Ruy e juntados a outros da
década-1950, mostram que, entre 1872 e a metade do século 20, os negros foram
diminuindo no Brasil, de 24,13% da população, para 12,30%. Pelo mesmo período,
os brancos, que eram 52,21%, subiram para 69,86%. Em 1818, eles somavam 1.728 negros
escravos, contra 1.043.00 brancos. Vale ressaltar que já havia 585 negros e
pardos livres, além de 250 mil indígenas.
Outros estudos
pós-Ruy Barbosa informam que os brancos aumentaram bastante no sul brasileiro,
por conta da imigração europeia, principalmente, para São Paulo, Santa Catarina,
Paraná e Rio Grande do Sul. Só na Bahia a relação seguiu quase parelha, com
926.075 pretos e 1.428.685 brancos. Grande discrepância só na ilha de Fernando
de Noronha, com 39 pretos e 383 brancos.
DE ACORDO COM o
sociólogo Costa Pinto, um dos grandes intelectuais brasileiros do século
passado e autor do aplaudido livro “O Negro no Rio de Janeiro”, mesmo com a
queda da população negra, o Brasil seguia, na época, com um dos mais altos
índices de natalidade do planeta, superando,
inclusive, Rússia, China e Índia, países de imensas dimensões territoriais.
Passada as terríveis brutalidades da
escravidão, o negro brasileiro teve de lutar muito contra as negativas de uma sociedade que dificultava
a sua passagem por portas que o levassem ao magistério, à magistratura, à
administração, ou comandos militares, por exemplo, excetuando-se o Exército,
que sempre usou a democracia racial – Marinha e Aeronáutica negavam-se a aceita-lo.
No que diz respeito à educação escolar, livros didáticos de colégios famosos
chegavam a conter frases assim: “Todos os negros são mais ou menos
preguiçosos”.
Pelé reproduzido da Revista do Esporte |
Para subir na
escala social brasileira, o negro teve de valer-se da música, do canto, do
teatro, da literatura e do futebol, principalmente, podendo-se citar, entre
outros, Pelé, Lima Barreto, Tobias Barreto, Cruz e Sousa, José do Patrocínio,
Juliano Moreira, Gonzaga de Campos, Teodoro Sampaio, Evaristo de Morais, André
Rebouças, Joaquim Nabuco, Machado de Assis, Grande Otelo, Carolina de Jesus e
Ruth de Sousa.
DOS FINALMENTES do século passado para este, a sociedade brasileira passou a olhar com mais respeito pelos negros, por conta de pressões sociais. Em 1995, por exemplo, o Governo criou o Grupo de Trabalho para a Valorização da População Negra e elegeu a Fundação Cultural Palmares para receber investimentos imediatos e buscar transformações. Sabia, porém, o presidente-sociólogo Fernando Henrique Cardoso que decreto não muda contexto social. Só o rompimento de círculos viciosos, orçamentos, leis e programas que ataquem, decididamente, conceitos culturais.
Muito da memória mais recente dos negros no
Brasil era de difícil acesso, com arquivos incompletos, passando longo da
diversidade da raça. Ultimamente, negros e pardos representam 54% da população
brasileira, mas só 17,2 % deles entram nos 30% dos brasileiros com maior nível
de renda, sendo que 40% dos mais pobres recebem apenas 13,3% do que entra no bolso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário