Vasco

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sábado, 2 de março de 2019

O VENENO DO ESCORPIÃO - SAGA DOS HABITANTES DO PLANETA MUTANTE

Roupas espalhafatosas -  LP de 1969 - ... 
  O rock´n´roll desembarcara no Brasil, pela metade da década-1950, fazendo a moçada subir pelas pardes - ou melhor, pelas cadeiras de cinemas -,  esquentada pelo som de “Rock around the clock”, com Bill Halley and his Comets.
 Foi o bastante para o governador de São Paulo, Jânio Quadros, proibir a execução daquele embalo em bailes no seu terreiro, a partir de 16 de fevereiro de 1957.  
Pra o juiz de menores da capital paulista,  Aldo de Assis Dias, aquilo era imoral. E proibiu menores de 18 de idade de assistirem ao filme traduzido por aqui por “No balanço das horas”.
Não adiantou. O visitante chegara pra ficar, fazendo surgir cantores e conjuntos que jogavam a guitarra no pescoço e tocavam em mi maior, lá maior, si maior, mi maior, e “vamu ki vamu”.
 Foi por ali que, em São Paulo, os garotos Cláudio, Arnaldo e Sérgio Dias Bapista aderiram à onda, carregando no sangue o gen de uma mãe – Clarisse Leite Dis Baptista – que fora a então primeira e única mulher deste planeta a compor um concerto parta piano e orquestra.
  Rola o calendário e, no 5 de outubro de 1962, chegava às lojas de disco da inglesa Liverpool um 45 rotações com “Love me do” e P.S I love you”, de uns tais The Beatles. Arnaldo, péssimo aluno de piano, aprendeu a tocar baixo eletrônico e manteve seus primeiros contatos roqueiros por meio de Neil Sedaka. E teve sua primeia aventura musical tocando em uma programação de igreja do bairro paulistano de Pompeia, por um conjunto anunciado por The Thunder. Sérgio, desde os 11, já tocava violão, de ouvido. De sua parte, Cláudio logo mudou de ideia, preferindo desenhar e produzir aparelhos eletrônicos.
... marcaram, inicialmente, a carreira...
  Além de Pompeia, os Baptista curtiam tocar na Vila Mariana. Por lá,  conheceram Rita Lee Jones que, aos 18, havia cantado para o “Túlio Trio” e até  em festivais.  
 Em janeiro 1964, chegava ao Brasil o primeiro compacto dos Beatles, com “ She loves youy” e “I want to hold youyr hand ”.  Durante festa de formatura na Vila Mariana, o baixista Arnaldo, então no Wooden Faces, voltou a encontrar Rita, cantando com as Teenager Singers.  Durante o show, ele mandou ver a beatlemaníaca “Tewist anda shout”, com os rapazes.
 Após três anos, os Baptista já tocavam pelo “Os Flashs”. Em agosto de 1965, surge a Jovem Guarda, com Roberto, Erasmo Crlos e Wanderléa mandando aquela brasa, mora? Mas o recado era só coisa de jovens, em tempo de ditadura militar e na esteira da beatlemania.
 Por ali, Rita Lee deixou de tocar bateria e pegava aulas de baixo com Arnaldo, que a convidou, juntamente com Sueli (também Teenager Singers), para formarem o Sixseded Rockers, que não demorou a virar O Seis – Arnaldo, Sérgio, Raphael, Luiz Pastura, Rita e Sueli, cantando só em inglês.         
... dessa moçada que teve uma força de Gilberto Gil ...
O grupo tocou no programa Jovem Guarda, da TV Record-SP, mas não curtia aquilo. Achava seu som ultrapassado e queria e algo mais à frente, inclusive roupas espalhafatosas, o que  não agradou ao público. Foram dois anos daquela aventura, da qual restaram os Baptista e Rita. Foi quando eles passaram a se apresentar como O Konjunto, que tocou a “Marcha Turca”, de Mozart, no programa de Ronnie Von, na mema TV Record. Tempinho depois, em outubro, Ronnie Von já fazia o programa ”Pequeno Príncipe”, na TV Bandeirantes, competindo com o Jovem Guarda, e chamou o trio, que estava sem nome e pensava adotar Os Bruxos, para uma nova apresentação. Sérgio, ainda menor de idade, tocava por trás das cortinas do palco.
Enquanto o  grupo não ia ao palco, Arnaldo lia “O Planeta dos Mutantes”. Ronnie Von gostou do título do livro e propôs batizar o conjunto por tal nome.   
 Em julho de 1967, lançando o LP ”Sargent Pepper´s Lonely Heart Club Band”, os Beatles, com arranjos inovadores, misturando o clássico ao pop, deram uma porrada forte nos embalos das tardes dos domingos de Roberto, Erasmo e Wandeca, onda que só sobreviveu até 8 de janeiro de 1968, quando abriu passagem, definitivamente, para a “Tropicália”, que já rolava há três meses.
... para a carreira ganhar asas e decolar legal.
 Um pouquinho antes, quando Gilberto Gil, finalizando “Domingo no Parque”, com a qual concorreria no III Festival de música popular brasileira da TV Record, ele achou que deveria ter, naquela música,  algo diferente das tradicionais orquestrações “brasucas”.  Então, o maestro Chiquinho de Morais sugeriu-lhe convidar Os Mutantes para o acompanhamento. Mas foi um outro maestro, Rogério Duprat, quem fez o arranjo definitivo. Foi marcado um encontro em estúdio e Gil perguntou: “Que lance de guitarra é este, cabeludos? Mostrem aí”.
 A moçada mandou ver, Gil se amarrou e deixou tudo acertado para chegarem ao festival da Record. No 11 de outubro de 1967, usando guitarras elétricas, baixo eletrônico e roupas de plástico, um escândalo para os conservadores da música popular brasileira, Os Mutantes ajudaram Gilberto Gil a sair do palco em segundo lugar – e o restante da história deles é assunto para uma futura coluna. Não dá pra esticar isso aqui, pois ninguém tem saco pra ler texto “kilométrico?” Você tem?  

IMAGENS reproduzidas de capas de discos da coleção de www.kikedabola.blogspot.com.br

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