Vasco

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sábado, 26 de dezembro de 2020

O VENENO DO ESCORPIÃO - O CAPTURADOR DE ALMA DA BELEZA MULHER DE BRASÍLIA

  A feira da Torre de TV de Brasília - sempre aos sábados e domingos - está incompleta. Sumiu de lá o desenhista Carlos Henrique de Oliveira, um cara da lua. Não foi que ele trocou o pedaço pelo Reverendo Moon! Pois foi!

 Exímio retratista, ele chegava, instalava um banquinho em qualquer ponto, puxava papel, lápis e borracha, e nem precisava fazer sobrevoos sobre rostos femininos, que eles lhe chegavam, de montão.  “Enquanto houver mulher bonita, querendo eternizar a sua beleza jovem, nunca ficarei sem trabalho”, dizia ele, comparando a sua arte com uma fotografia: “O meu desenho envolve sensibilidade mais apurada do que um click na máquina.  A foto passa uma sensação fria em relação ao desenho; o meu traço vou buscá-lo no fundo da alma retratada”.

Henrique "Dentiale" clicado por Gustavo Mariani
 Poético, ou puxador de brasa para a sua sardinha? Uma ou outra opção, o certo era que o Dentiale (apelido devido a sua assinatura artística parecer reproduzir tal grafia) tornava-se, pelos finais de semana, o único homem  de Brasília, altamente, assediado por mulheres que faziam fila diante do seu cavalete, como inteiro consentimento de namorados, noivos e maridos – que, ainda, lhe pagavam, por roubá-las, pelos cerca de 30, 40 minutos gastos para replicá-las no papel.

 Para desenhá-las, inteiramente, dentro das expectativas delas, primeiramente, ele levava um plá com elas. “É preciso paquerar, identificar os seus mais profundos sentimentos. Penetrar em sua alma. Sem ver as suas características psicológicas, nenhum desenhista de rostos femininos consegue produto final do agrado de uma mulher”, afirmava o moreno Carlos Henrique, de 1,67cm de altura.

 Para atingir o “ponto g” delas no traço, Carlos Henrique observou, rápido, que todas as que pousavam para os seus desenhos chegavam com a expectativa de saírem mais belas do que se apresentavam. "Queriam se mostrar assim às amigas, com a vaidade falando  mais alto. Mas faz bem ao ego”, ressaltava ele, revelando ser normal se deparar com mulheres que  ficavam tão nervosas, ao ponto de se levantarem do banquinho pra verem como estavam ficando. “Transferem o sucesso da estética do desenho para o desenhista. Daí a minha necessidade de paquerar a sua alma”, discursava e revelava algo interessante: os acompanhantes delas ficavam muito mais ansiosos pelo resultado do que ele riscava.

   Os desenhos na vida de Carlos Henrique surgiram quando ele tinha 10 de idade. Garantia não ter sido influenciado por nenhum  artista e, também,  jamais encontrado rosto difícil de retratar. “Basta senti-lo, viajar pelas suas formas e contar com boa qualidade no material (de desenho) que você usa.    

 Durante o tempo em que desenhou e fotografou a alma feminina na feira da Torre de TV de Brasília, o Dentiale viu a mulher brasiliense sonhadora, dona de bom gosto, adorando ser admirada e sentindo-se bela. “Só a  mulher de baixo poder aquisitivo não tem vaidade com a eternidade da beleza”, viu.      

     

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