Brasileiros consideram o mineiro Alberto Santos Dumont pai da aviação.
E antigos historiadores contam que o Brasil foi o primeiro país sul-americano a
usar aviões, militarmente. Não foi bem assim - deveria ter sido. Vem comigo,
isto é, venha comigo!
Certa vez, estando em Curitiba, em férias, aproveitei
para pesquisar, no Arquivo Público do Paraná, sobre Maria Rosa, uma heroína da
Guerra do Contestado. Achei pouca coisa sobre ela e muito mais da tal
guerra, disputa
territorial entre Paraná e Santa Catarina, com participação de fanáticos
religiosos, tipo Guerra de Canudos (1896/1897), a Bahia – assuntos para futuras
colunas. Tempos depois, novamente em férias, mas no Rio de Janeiro, pintou
vontade de pesquisar sobre Contestado e fui levantar poeira nos arquivos
do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil e
no Arquivo Histórico do Exército. O que anotei, porém, foi bem diferente do que
havia lido sobre aviação militar em Contestado. Vamos para o parágrafo abaixo.
Ouvia-se falar que os italianos haviam ido à Guerra Ítalo-Turca
(1911/1912) usando aviões e sobrevoado linhas turcas, na primeira missão
de reconhecimento aéreo do mundo ((23.10.1911), e dias depois (01.11.1911),
lançado a primeira bomba aérea sobre as tropas turcas (em território da Líbia).
O Exército brasileiro gostou do que ficara sabendo sobre os tais aviões (ainda
com motores
fracos e construídos com madeira, bambu, lona e fios de arame) e, como o país
enfrentava a Guerra do Contestado, o general Fernando Setembrino de Carvalho,
chefe do gabinete do ministro da Guerra, requisitou cinco aparelhos junto ao Aeroclube
Brasileiro (criado em 14.10.1911) para dar um alô na situação.
Aparelhos requisitados, o tenente Ricardo João Kirk e o
italiano Ernesto Darioli montaram e os embarcaram, por via férrea, para a
área do conflito. Durante a viagem, fagulhas saídas da locomotiva transportadora atingiram um galão de
gasolina e o fogo alastrado deixou apenas três aeronaves em condições
operacionais. Pior: os
militares desconheciam relevo e clima na região conflitada, o que só permitia a um aviador
se guiar pelo curso dos rios e da estrada de ferro.
Pois bem - isto é, mal! Era o 1º de março de 1915,
quando o tenente Kirk, pilotando um modelo Morane Saulnier Parasol L,
colidiu com um pinheiro, durante espionagem a redutos dos sertanejos conflitantes,
quando tentava provar ao governo brasileiro as vantagens do emprego de aviões
no campo militar. No entanto, como não sobrevivera ao acidente,
por ali encerrou-se a intenção brasileira de usar aviões
militarmente em conflitos - está nos arquivos consultados.
Com aquilo, o primeiro uso militar do espaço aéreo pelos brasileiros
ficou sendo mesmo durante a Guerra da Tríplice Aliança
(Brasil/Argentina/Uruguai), contra o Paraguai (1864/1870), usando balões
de tecido de algodão, revestidos por verniz para proteger a tela e diminuir o
escape de gás (junho a setembro de 1867), com os “brazucas” – aí, sim -
sendo os primeiros sul-americanos a fazê-lo.
Publicado pelo Jornal de Brasília de 23.03.2025 e trazido para cá pelo Túnel do Tempo. Veja link:
https://jornaldebrasilia.com.br/noticias/politica-e-poder/povo-mais-aereo-do-mundo/
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