Esta história começa em 1922, quando Adão Antônio Brandão chegou ao Brasil. Para os pais, um castigo, por o garoto não gostar de estudar. Preferia o que chamavam, em Portugal, de “esporte dos desocupados”, rolando a pelota com a rapaziada do Porto e do Real Grandeza. De repente, estava d´além mar. Para a sorte dele, um selecionado futebolístico de sua terra exibiu-se no Rio de Janeiro e levou a colônia lusitana a aderir ao “balípodo”, fundando os clubes Lusitânia e Centro Português de Desportos.
De nada adiantou o castigo no Adão. No Brasil havia, também, a pelota para ele chutá-la. Entrou para ao time do Centro Desportivo e, por causa de uma briga do seu time, com a turma do Lusitânia, decepcionado com a atitude dos colegas, os abandonou e mudou de lado. Para o lado do nascente Club de Regatas Vasco da Gama. E foi, então, que o destino disse-lhe: Você é o cara. Vá lá e comece a história vascaína nas redes.
Era 3 de maio de 1916 e o Vasco da Gama estreava no Campeonato Carioca da Série C, promovido pela Liga Metropolitana de Sports Atléticos. A torcida presente ao estádio da Rua General Severiano já havia contado oito bolas mandadas ao barbante, por um adversário muito superior, o Paladino, quando Adão balançou a rede. Os adversários marcaram mais dois e enceraram a goleada por 10 x 1.
Passadas quarenta temporadas daquele vexame, Adão relembrou – ao Nº 44 da “Manchete Esportiva”, de 22 de setembro de 1956 –, dos apuros passados na volta a São Januário; “ ...elementos que combatiam o ingresso do futebol no grêmio cruzmaltino, abriram a guerra franca. Fomos alvo de tremenda vaia, acompanhada de uma chuva de laranjas...”
O Vasco seguiu perdendo os seus jogos – 13.05 - 1 x 5 Brasil; 28.05 - 0 x 4 Icarahy; 14.07 - 2 x 4 Parc Royal; 16.07 - 3 x 4 Ríver; 03.09 - 0 x 2 Paladino; 07.09 - 0 x 3 Parc Royal; 22.10 - 1 x 4 Icarahy. Até chegar o dia 29 de outubro, quando venceu um adversário do bairro da Piedade, o River, que apresentou-se sem dois jogadores. Adão estava, também, naquele outro dia glorioso – Ary Correia, Jaime Guedes e Augusto Azevedo; Victorino Rezende, João Lamego e Manuel Baptista; Bernardino Rodrigues, Adão Antonio Brandão, Joaquim de Oliveira, Alberto Costa Júnior e Cândido Almeida foi a formação – da vitória, por 2 x 1, mas sem comparecer ao filó. Aconteceu à Rua Figueira de Melo.
Em 5 de novembro, o time de Adão voltou vencer, mas, pelo não comparecimento a campo do adversário, o Brasil. E ele encerrou o seu primeiro campeonato em sexto luar e último lugar. Em declaração à mesma revista, disse que a paz entre os vascaínos, após os desentendimentos, gerados pela desão ao futebol, só ocorrera um ano depois da estréia, quando o time venceu o Boqueirão – 02.09.1917 - 3 x 0 –, com o Vasco promovido, por manobra dos cartolas da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres, à Segunda Divisão do Campeonato Carioca. “...Os rapazes do remo ovacionaram-nos e saímos numa passeata que simbolizaria a união do Vasco em torno de um mesmo ideal”.
Embora a pacificação desportiva tivesse ocorrido em setembro de 1917, o time vascaíno havia vencido três partidas, antes – 27.05 – 4 x 2 Icarahy; 10.06 - 2 x 0 Paladino; 05.10 – 5 x 2 Progresso. Segundo Adão, quando rolava a adesão vascaína ao futebol, “ouve até quem fosse eliminado (do quadro social) pelo ‘crime’ de solicitar tal proposta”, recordava.
Adão atuava pelo ataque e a então chamada linha média, o que, hoje, seria uma espécie de jogador de intermediária, entre a defesa e o meio-de-campo. Após deixar o time de futebol, passou para a turma do remo. Chamado a substituir Carneiro Dias, o fez tão bem, que o presidente vascaíno, Francisco Marques da Silva, comemorou a sua grande atuação derramando champanhe sobre a sua cabeça. E o incorporou-se à galera do imbatível barco “Íbis”, campeão carioca, invicto, por 19 vezes, invicto.
Campeão nas águas, em 1919 e em 1921, Adão voltou à terra. Para as pistas de atletismo. Depois de ganhar medalhas de bronze, em provas dos 100 e dos 200 metros rasos, decidiu partir para o que os desportistas de 1922 consideravam impossível: vencer o “invencível” flamenguista Ulisses Malagutti. Foram para a pista do estádio do Botafogo, e Adão o deixou para trás, levando um dos mais importantes dos 67 troféus que ajudara a levar para a sede da “Turma da Colina”.
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