BAD BOYS
O Brasil ainda vivia a euforia do tricampeonato mundial de futebol, conquistado no México. Um ano depois, o instinto animalesco de um herói do tri, o zagueiro Hércules Brito Ruas, decepcionava o país. Sentindo-se prejudicado pela marcação de uma falta, pelo árbitro José Aldo Pereira, o Britão desferiu um potente soco contra o estômago do magro juiz, que envergou-se de dores perante todo o estádio do Maracanã. Tempos depois, Brito admitiu seu erro, que, à época, provocou a antipadia de toda a torcida nacional. Resultado: ele levou um ano de suspensão, a sua carreira entrou em declínio e, na volta aos gramados, foi parar no futebol paranaense, de onde sucumbiu para o exterior. Quando bateu em José Aldo, Brito jogava pelo Botafogo.
Júnior Baiano - Do alto dos seus quase dois metros de altura, o zagueiro Raimundo Ramos Ferreira Filho chegou a ser considerado pela imprensa carioca como “muito mais para animal irracional do que para homo sapiens dentro de campo”. Ele distribuía murros e pontapés indiscriminadamente como zagueiro do Flamengo, chegando ao ponto de ser afastado do elenco, por causa do seu instinto selvagem. A TV mostrou, por várias vezes, Júnior Baiano batendo como um boxeur peso pesado. Seu lance fatal foi aquele que ele deu vários socos no zagueiro são-paulino Gilmar, justamente o que lhe valeu o afastamento do elenco rubro-negro.
Cocada - final do Campeonato Carioca de 1988. O Vasco empatava, por 0 x 0, com o Flamengo, resultado que lhe garantia o título. Quase ao final do jogo, o lateral-direito Cocada, dispensado do Fla, pelo técnico Carlinhos (que estava no comando técnico rubro-negro, naquela noite), entrava em campo para reforçar a defesa vascaína e garantir o placar. Quis o destino, no entanto, que Cocada marcasse um golaço, com um chute violentíssimo, disparado da intermediária. Em vez de comemorar o gol junto com os seus companheiros, Cocaca tirou a camisa, correu para o banco dos reservas do Flamengo e a jogou na cara de Carlinhos. O Maracanã viveu uma noite de pancadaria, uma das maiores que o estádio sediou. Na mesma sessão, o rubro-negro Renato Gaúcho agrediu o baixinho vascaíno Romário.
Mário Sérgio - quando jovem, no Vitória, aprontou muitas confusões, como sair nu dentro de um carro, pelas ruas de Salvador. No São Paulo, puxou um revólver e colocou torcedores do São José pra correr. Em 1984, depois de muitas confusões, e quando era palmeirense, foi suspenso, por três meses, acusado de ingerir estimulante antes de um jogo, no qual o Palmeiras venceu o São Paulo, por 2 x 1. Depois de encerrar careira de atleta, tornou-se uma pessoa completamente diferente do agitado jovem craque que encantou o futebol brasileiro.
Beijoca - sinônimo do animalesco dos gramados, Beijoca participou de todas as indisciplinas possíveis e imagináveis enquanto jogou o futebol. Mas sempre jurou que jamais começou nenhuma briga, o que não é verdade. No final da década-70, por exemplo, ele foi contratado pelo Flamengo para reviver a mística do brigão Almir Pernambuquinho, e promoveu uma das mais lamentáveis cenas de pancadaria no gramado do Maracanã. Jogavam Flamengo e Palmeiras, pelo Campeonato Brasileiro, o time paulista goleava, por 6 x 0, e prometia mais humilhações ainda ao time rubro-negro. Minutos depois de entrar em campo, Beijoca bateu em meio-time palmeirense, encerrando por ali as humilhações na bola. Como a pancadaria repercutiu mal por todo o país, para justificar a goleada sofrida, o Flamengo devolveu Beijoca ao Bahia.
Almir Pernambuquinho - brasileiro não é bom de memória, costuma-se dizer. Mas, para quem viveu as décadas-60 e 70, a figura exponencial da saga animalesca nos gramados foi Almir Albuquerque, que saiu, garoto, do Sport Recife, para se consagrar no Vasco da Gama e, depois, ser contratado, pelo Corinthians, como o “Pelé Branco”. Almir entrou par o time dos bandidos ao quebrar a perna de um zagueiro do América, Hélio. Mas o seu grande momento foi conduzir o Santos o título de bicampeão mundial interclubes, em 1963, no Maracanã, diante do Milan. Ameaçou o ex-botafoguense Amarildo e instigou todo o time italiano. De um placar adverso, 0 x 2, o Santos virou, para 4 x 2, comandado pelo Pernambuquinho. Naquele segundo jogo, o Santos havia perdido o primeiro, na Itália, pelos mesmos 4 x 2 ?, Almir comandou a vitória santista, no seu velho estilo estilo, com brigas e pancadarias. Pelé estava contundido e não jogou, naquela noite em que Almir foi o rei.Quando entrava em campo, Almir ia logo par cima do destaque do time adversário, e prometia quebrar-lhe, na pancada. Em seu livro, “Eu e o Futebol”, conta que Gérson e Ademir da Guia corriam dele sempre que eram ameaçados. Almir era mestre em provocar expulsões de adversários. Na Argentina, quando defendai o Boca Juniors, tornou-se ídolo da torcida do clube, ao ser expulso e levar junto com ele dois inocentes adversários, episódio que proporcionou a vitória ao time de La Bonbonera.
"Rei Pelé " - foi fiel ao manual da catimba. Edson Arantes do Nascimento, indiscutivelmente, o melhor atleta do futebol de todos os tempos, foi coroado porque ninguém fazia com a bola o que ele fazia. Marcou 1.281 gols na carreira, conquistou todos os títulos que disputou, e encerrou a carreira sendo ídolo de todas as raças e nações. Pelé, ministro do Esporte, no segundo governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, no entanto, jamais foi um santo dentro de campo. Mas tinha um detalhe: era inteligente e sabia a hora certa de bater, de revidar. A cena que melhor ilustrou isso foi uma sua disputa de bola com o alemão Schulz,na década-60, no Maracanã, quando o adversário saiu de campo com uma perna fraturada.
Outro polêmico lance protagonizado pro Pelé foi contra o zagueiro Procópio, do Cruzeiro, no início da década-70, no Mineirão. O marcador passou um longo tem po parado, devido uma fratura no choque com o camisa 10 santista. Marcou muito, também, as artimanhas de Pelé um “cotovelaço” no uruguaio Matosas, durante a Copa do Mundo de 1970, no México. Longe das vistas do árbitro e correndo lado a lado com o marcador, o “Rei” desferiu-lhe tamanha bordoada no rosto, sem que nada fosse marcado contra a Seleção Brasileira. Pelé iludia os árbitros, entrelaçando seus braços nos dos zagueiros, para caracterizar o pênalti, provoczar o adversário, cavar expulsões. Fez de tudo o que a cartilha da tradicional catimba sul-americna ensinou. O “Rei” também teve o seu lado “animal”.
ESTA MATÉRIA LEVOU O PRÊMIO OK DE JORNALISMO-
https://jornaldebrasilia.com.br/blogs-e-colunas/historias-da-bola/animal-2 (REPUBLICAÇÃO) em 22.05.2025 e trazido para cá pelo Túnel do Tempo.
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