Vasco

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sábado, 30 de dezembro de 2017

O VENENO DO ESCORPIÃO - LUÍS DA CÂMARA, UM SUJEITO MUITO CSCUDO

Reprodução de capa de livro
 Em 1918, o mundo saía da I Guerra Mundial. No Brasil, o presidente e mineiro Wenceslau Braz tentava recuperar, economicamente, o país. Quando chegou o eleitoral primeiro de março, os paulistas emplacaram Rodrigues Alves – bom ministro da Fazenda em momentos difíceis –, mas a  saúde frágil deste, aliada a uma matadora gripe espanhola, o levou a ser empossado mas como o figurante do mundo da “turma lá de cima”.
Pior para o Brasil, pois vice-presidente eleito, o mineiro Delfim Moreira, não tinha o menor tesão por negócios de Estado e levou o país para 253 dias de apatia – passou o empego para o paraibano Epitácio Pessoa.
Por aquele tempo, o sertanejo era miserável e faminto. De rico, só o seu espírito, que chamou a atenção de Luís da Câmara Cascudo, rapaz de 20 de idade – chegou a graduar-se em Direito e a advogar, por cerca de 1.100 dias, tempo suficiente para sacar que a sua era outra, pesquisar a cultura  de sua terra e do seu povo.
Luís chocou toda a provinciana Natal, pesquisando o que ninguém ligava a menor importância. Onde já se viu um jovem  inteligente, promissor  preocupado com o catimbó, festas do povão! Por causa daquilo, um dos puxa-sacos do governador Juvenal Lamartine de Faria o acusou de doido.  “Muito preocupado” com as finanças do  Rio Grande do Norte, cobrou:
- Governador, o Estado está pagando um empregado para pesquisar lobisomem! Isso e uma indignidade para o nosso ensino.
 Luís era professor estadual desde 1922 e tornara-se catedrático defendendo a tese da intencionalidade portuguesas no descobrimento do Brasil. Antes, havia publicado o livro Alma Patrícia” e colaborado na pesquisas de “A Mulher na Literatura Brasileira”, o começo do caminho para escrever mais de 120 livros, mais de dois mil artigos, em jornais brasileiros e estrangeiros, e prefácios em uma centena de livros.
O folclorista potiguar que virou dinheiro

 Quem pensasse que Luís da Câmara Cascudo fosse um sujeito fechadão, enganava-se. Era brincalhão, bem humorado. Por exemplo, dizia ter medo de ser nomeado ministro da Fazenda, por ser o inimigo número um da matemática. E que dava graças a Deus por nunca ter aprendido a gramática da língua portuguesa, pois a via inutilizando  talentos,  com exceção de Machado de Assis, do qual dizia assombrar-se com o livrinho.
 O bom humor de Luís foi despontado, também, quando ele já era reconhecido como grande pesquisador, em todo o planeta, e presentearam-lhe com o seu busto em praça pública de Natal. Ao ser comunicado, retrucou:
- Um busto em praça pública deve ter muitas utilidades, mas eu preferia que vocês me presenteassem com um piano. Não toco há 10 aos, por não ter um.
Quando entidades culturais potiguares tentaram convencê-lo a candidatar-se à Academia Brasileira de Letras-ABL, respondeu:
- Nada tenho contra a Academia, mas ela fica muito longe de minha casa. Prefiro ficar por aqui mesmo.          
 Após lançar o livro “Geografia dos Mitos”, quando não havia mais ninguém considerando-o maluco, a ABL concedeu-lhe o Prêmio João Ribeiro”, valendo antigos 50 contos de reis. Luís torrou toda a gana na farra com um amigo.  
Cascudo foi denunciado ao governador do
RN acusado por ser pago para pesquisar lobisomem
Reprodução de www.ocultopedia.blogspot.com
 Luís da Câmara Cascudo surpreendeu os repórteres, certa vez, contando que o seu elogiado livro ‘Dicionário de Folclore” jamais fora projetado. Nascera por acaso. Tinha um caderninho de notas que facilitavam o seu trabalho e nele anotara tanto que, quando percebeu, já tinha um trabalho pronto.
Embora dissesse que não ter saco para apolítica e economia, Luís foi nomeado deputado estadual potiguar. Avisado, por telefone, pelo governador que se recusara a demiti-lo, por pesquisar lobisomen, aceitou ser empossado –  em 1º de outubro de 1930. Três dias depois, estava cassado pela Revolução que levaram Getúlio Vargas ao poder.      
Luís da Câmara Cascudo, que dizia ter sempre acreditado em Deus, fugia de todas as comemorações litúrgicas. Papo com o Céu, só quando pegava no rosário, atendendo ao único pedido de sua mãe. Preferia o papo com os contadores de histórias de lobisomens e dos catimbós que levavam aos guerreiros indígenas o “Espírito da Força”.  

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