Vasco

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sábado, 11 de abril de 2015

TOSTÃO NA ROTA DO "ALMIRANTE" - 3

 Entre o cidadão e tímido Eduardo e o craque de prestígio internacional Tostão havia um muro. Em casa, a sua fama não entrava. Ele continuava sendo o primeiro. No apartamento nº 1.201, do Edifício Pilar, na Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte, onde morava com os pais, até casar-se, o apelido era impronunciável.
 Tostão sentia a vontade de driblar a fama, fazer o que todo jovem de sua idade fazia. Mas não podia. Ser celebridade lhe proibia de curtir a noite de BH, ir a um barzinho, beber um chope, ou jantar em um restaurante, com amigos. Ele achava aquilo muito chato. Principalmente, comparecer a um evento social, admirar uma moça, sinalizá-la disso e ela ir pedir-lhe um autógrafo. Quebrava o encanto, na hora. Gostaria que todos lhe vissem como Eduardo, não como Tostão.     
Foi o que a estudante universitária de química Vânia Lucia viu. Com um detalhe: ela não curtia futebol. Portanto, quando ele a convidou para dançar, em uma churrascaria de Belô, aquele seu par era, meramente, mais um dos muitos rapazes que lhe paqueravam. Terminaram no altar.

Um dia, Tostão e o Cruzeiro pensaram diferente. Imediatamente, o Fluminense tentou ser o novo parceiro do atleta. Mas, assim como já o fizera, em 1942, quando tirou Ademir Menezes do caminho das Laranjeiras, o Vasco passou-lhe nova rasteira e levou mais um craque para São Januário. Para isso, a sua cartolada tivera de ouvir um aviso do empresário Amadeu Aguiar: “Ou o Vasco contrata o Tostão, ou esqueçam do meu bolso, para sempre”.  O homem, além de ter dinheiro sobrando, em seu “Moinho de Ouro”, só via o ex-presidente João Silva mais forte do que ele na Colina. E o negócio saiu por Cr$ 3,5 milhões de cruzeiros, o mais caro do futebol brasileiro e que subiria para Cr$ 5 milhões, após os dois anos de parceria, incluindo salários, “bichos” e contratos de publicidade. Na época, recorde mundial.
 Tostão, que levou no acerto um apartamento para residir no Rio de Janeiro,  havia pedido Cr$ 800 mil, por dois anos de serviços ao grêmio cruzmaltino, em parcelas, um adiantamento de Cr$ 240 mil e quitação contra promissórias bancárias nos vencimentos mensais. Mas ficou por Cr$ 720 mil, mensalidades de Cr$ 35 mil (o que ganha um juvenil, hoje) e mais Cr$ 10 mil mensais participando de eventos da empresa “Promoplan”, que levantaria grana para cobrir os gastos da sua contratação.
 Com o Cruzeiro, o Vasco, garantido pelo Banco Português do Brasil, acertou pagar Cr$ 1 milhão, de saída, e mais quatro parcelas de Cr$ 500 mil, a vencerem, sempre, nos dias 30 de abril, maio, agosto e setembro, além de mais uma, de Cr$ 300 mil, em 30 de dezembro de 1972. E o passe do atacante Luís Carlos Lemos, para livrar-se de botar, ainda, Cr$ 200 mil na mão da “Raposa”. Mais? Os cartolas vascaínos ficaram, ainda, de negociar com os comerciantes portugueses de supermercados a venda da cerveja produzida em Minas Gerais pelo presidente cruzeirense Felício Brandi. O “Almirante” se virou, para tirar Tostão da história do Cruzeiro.        

Quando Tostão viajou ao Rio de Janeiro, para se apesentar ao Vasco da Gama, 15 mil torcedores o esperavam no Aeroporto Santos Dumont. Por conta de uma terrível histeria coletiva, oito daqueles fanáticos desmaiaram  e 11 se feriram durante a confusão que levou a polícia a bater em repórteres. Devido aquilo, 237 passageiros que esperavam pelas duas decolagens perderam os seus voos.
Do lado de fora do aeroporto, caminhões de supermercados engarrafavam as ruas das proximidades. De cima deles, serpentinas e papel picado jogados ao chão juntaram mais de 15 quilos de lixo. Não acostumado ao barulho das escolas de sambas cariocas, Tostão, de repente, já era seguido por mais de 150 mil torcedores, promovendo um novo carnaval na cidade. Assustado pelos estrondos dos foguetes, ele acenava para a galera e apertava, com a mão direita, um escapulário  de Santa Luzia, lhe dado pela mãe, antes de deixar BH, em um jatinho, acompanhado pelo presidente vascaíno, Agatyrno Gomes e o vice Amadeu Sequeira. Momentos antes, só o seu pai e um irmão comparecerem para despedirem-se dele, que já era passado para cartolas e torcida cruzeirense.  
 Passada a carreata, de cindo horas de duração, a euforia da torcida pela sua chegada a São Januário, Tostão avisou à galera que ele não seria nenhum salvador da pátria, que o seu esforço isolado não tiraria o time da crise técnica que ora vivia, pois não tinha como melhorar, imediatamente, sozinho, o futebol do grupo, que considerava bom. Precisava, porém, da de comunhão de propósitos dos companheiros. E garantia que, com o tempo, provaria que a sua contratação seria útil ao clube.
 Naquele momento em que contratara Tostão, o Vasco vivia uma terrível crise financeira, também. Os déficits subiam de forma incontrolável. Mas o pior estaria por vir      

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