Vasco

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terça-feira, 6 de janeiro de 2015

LENDAS DA COLINA - "GETULIOVASCO"

 O ministro da Fazenda, Getúlio Vargas, devolvera a pasta ao presidente Washington Luís, e aceitara o convite do caudilho Borges de Medeiros para presidir a província do Rio Grande do Sul. Fumava ele o seu charuto, tranquilamente, quando chegou um emissário do seu colega de Minas Gerais, Antônio Carlos. Viera propor-lhe uma aliança “chimarrão-com-leite”, para enfrentar Júlio Prestes, o candidato do governo, no pleito presidencial de 1930.
Getúlio examinou a proposta, ponderou daqui, dali e terminou por aceitá-la. Por sugestão do aliado Oswaldo Aranha, o seu partido, a Aliança Liberal, costurou a candidatura do paraibano João Pessoa à vice da chapa. Mas esta não foi muito longe. O Pessoa terminara assassinado, por motivos sexuais. Traçava a mulher de seu assassino. Então, mais uma vez, por sugestão de Oswaldo Aranha, os aliancistas jogaram a culpa, pelo assassinato, no governo Washington Luís, com plena concordância de Getúlio Vargas que, no pleito presidencial de 1º de março de 1930, tivera 236 mil e tantos votos amenos do que Prestes.
 Oswaldo Aranha, cheio de veneno, bradou: “Tchê! Não  aceitemos esta derrota. Vamos ao Rio de Janeiro botar o Washington Luís pra correr. Vamos tomar o poder, antes que ele o entregue. O poder não se conquista, se toma – e foram.
Os revolucionários gaúchos faziam um churrasco, com os seus cavalos amarrados no obelisco da Avenida Rio Branco, quando um deles pegou uma bola, e começou a chutá-la para cima, e a agarrá-la. “Bá, tchê! A revolução está ganha. Chega de pelejas. Preciso, agora, é voltar a peleiar pelos gramados. E foi ao Vasco da Gama, que estava sem jogar desde o dia 23 de fevereiro, pedir para treinar com a “Turma da Colina. Chegou à Rua General Almério de Moura e apresentou-se: “Sou o Eurico Lara, goleiro do Grêmio de Porto Alegre, tchê!”.
 Treinou por alguns dias e voltou ao Sul – por que quis. Se dependesse da vontade dos cartolas vascaínos, estaria no time que voltou a jogar no dia 30 de março, mandando, amistosasmente, 4 x 1 na Seleção da Associação Metropolitana de Esportes Athléticos.
PROVISORIAMENTE -  O tempo passou rápido e, em 3 de novembro daquele 1930 , Getúlio Vargas tomou posse, como presidente provisório, com o apoio do Exército. Semanas depois, quando preparava-se para jantar, indagou ao seu preparador de chimarrão,  o já amigo Ezupério Flores (gaúcho que vivia no Rio de Janeiro, há mais de 20 anos, como servidor do Palácio do Catete), qual fora a grande novidade daquele dia na cidade. E ouviu que o Vasco da Gama goleara o Fluminense, por 6 x 0, pelo Campeonato Carioca da AMEA, citada acima. “Barbaridade, tchê! Mas que pancadaria!”, considerou Getúlio – e foi jantar.
 Tempinho depois, mais precisamente no dia 26 de abril de 1931, o presidente, ao final de um domingo, perto do jantar, voltou a perguntar ao Seu Ezupério qual fora o grande acontecimento daquele domingo no Rio de Janeiro. “O Vasco mandou 7 x 0 no Flamengo. Só o Russinho fez quatro gols, presidente”, respondeu o homem.
“Mas que barbaridade, tchê!”, considerou Getúlio – e foi jantar.
 Getúlio Vargas partia para o seu segundo ano como chefe do governo provisório. Consolidava-se no poder. Aos domingos, gostava de ficar sozinho com a família, no Catete, lendo os jornais, fumando charutos e bebendo chimarrão. De preferência, que nenhum, membro do seu governo o telefonasse.
 Perto do jantar do 17 de abril de 1932,  como já era de costume,  o presidente perguntou ao seu preparador de chimarrão fora o grande acontecimento do dia na cidade.  O homem disse-lhe: “O Vasco ficou, hoje campeão do Torneio Início. Bateu no São Cristóvão, no Flamengo e no Botafogo”. Getúlio exclamou: “Báááá!” – e foi jantar.
 No dia 9 de julho, o presidente andava muito nervoso. Disse ao seu chimarreiro: “O meu governo entrou em guerra contra São Paulo. Não fiz uma revolução para ter brasileiro matando brasileiro. Hoje, não quero jantar, perdi a fome”. O servidor olhou para o seu rosto tristonho, preocupado, e disse-lhe: “Presidente, tenho a certeza de que o senhor debelerá esta crise, rapidamente, para a gente só falar de vitórias do Vasco”.
-Mas, tchê!  Tu és gaúcho. Porquê torce pelo Vasco, e não pelo Inter, ou pelo Grêmio?
 - Presidente, vivo há 20 anos nesta terra. O Vasco me encanta. Não vejo os times da minha terra jogar há duas décadas.  
No dia 10 de outubro, perto do jantar, Getúlio  mandou chamar o seu fiel servidor e o informou: “Ezupério! A guerra acabou. Estou alegre”. O homem retruco: “E eu estou mais alegre do que o senhor, presidente. O Vasco ganhou hoje, do América, por 3 x 1.”
- Barbaridade, tchê!, balbuciou – e foi para os seus aposentos.
CONSTITUCINALISSIMAMENTE - O tempo foi passando, Getúlio Vargas tornou-se presidente constitucional, de 1934 a 1937, e ditador, a partir deste último ano. As formas de governo mudavam, mas não a fidelidade do seu fiel servidor Ezupério Flores. Os dois já eram até compadres. O presidente fizera a crisma de um dos filhos déle. Ser compadre do homem mais poderoso do país, no entanto, não era o grande orgulho do Seu Ezupério Flores. Era ter sido convidado pelo homem a acompanhá-lo, em sua comitiva, ao estádio de São Januário, no dia em que foi assinada a lei de criação do salário mínimo, em 1939.
- É para isso que serve o Vasco, meu compadre presidente: para servir ao Brasil, tchê! – disse-lhe.
Como uma partida de futebol, o tempo rolava e Seu Ezupério estreitava, cada vez mais, os laços de amizade com Getúlio Vargas. Contava-se, nos círculos palacianos, que, às escondidas, havia domingos em que o presidente saía, secretamente, do Catete, para comer um saborosíssimo arroz carreteiro preparado pela Comadre Severiana,  no longínquo bairro de Jacarepaguá. Quem o levava seria o sobrinho predileto, Vargas Neto. Verdade, ou não, contava-se, também, que na noite de 9 de novembro, após receber a sua cuia de chimarrão das mãos de Seu Ezupério, este pediu ao chefe:
-Presidente! Gostaria que o senhor me liberasse mais cedo, amanhã. O Vasco vai enfrentar o Fluminense, nas Laranjeiras, e eu quero ir. O time vem de três vitórias seguidas. Goleou o Bonsucesso,  por 5 x 0, mandou 4 x 3 no América, e 3 x 1 na Portuguesa. Não quero perder o quarto triunfo seguido.
 - Tudo bem, compadre. Mas tome cuidado, porque na noite de amanhã poderemos ter escaramuças. Fale ao  Gregório Fortunato para levá-lo e buscá-lo no estádio. Telefone à comadre e diga-lhe que você dormirá aqui, no Catete, a meu pedido.
- Mas que tumulto poderá haver numa cidade tão calma, presidente?
- Você, Ezupério, é um homem humilde, que vive para o seu trabalho e para acompanhar o time do Vasco da Gama. Não está informado sobre certas coisas que este seu compadre aqui tem enfrentado. Fique sabendo que os comunistas querem tirar o seu emprego. Então, vou dar um jeito neles, amanhã – e deu.
 Enquanto Vasco era batido pelo Fluminense, por 2 x 4, no 10 de novembro de 1937, o presidente Getúlio Vargas aplicava um golpe de estado e tornava-se ditador, criando o Estado Novo. E, com ele, foi levando
O seu governo, como ditador, sem que o Seu Ezupério Flores percebesse.
 Um dia, o preparador de chimarrão olhou para um calendário apregado em uma das paredes do Palácio do Catete. Já era agosto de 1942. Meses depois, no 15 do novembro daquele mesmo ano de 1937, quando entregou-lhe a cuia de chimarrão ao presidente, notou-lhe bem diferente do habitual. Estava como o vira por ocasiões de grandes crises nacionais. No dia 17, comunicara-lhe que o Vasco havia empatado, no dia anterior, por 1 x 1, com o América, e ele nem fizera comentário. Apenas, olhara-o,  carrancudo, para revelar-lhe:
- Meu compadre Ezupério. Vou mandar o Brasil pra guerra. Os alemães afundaram cinco navios nossos, que nada tinham a ver cm a Segunda Guerra Mundial – e mandou.
 Um ano depois, enquanto os pracinhas brasileiros lutavam na Europa, Seu Ezupério, tinha a cabeça em uma outra guerra: a disputa de vários clubes por três jogadores do Madureira – Jair , Isaías e Lelé.
- Os três são bons demais – disse ao presidente, em uma das noites em que servia-lhe o chimarrão.    
Dias depois de Getúlio ter ouvido aquilo do compadre, o seu  ministro das Relações Exteriores, o velho colega de escaramuças políticas e seu antecessor no governo gaúcho, Osvaldo Aranha, telefonou-lhe, marcando uma visita particular, à noite, no Palácio do Catete.
- Presidente! Temos uma outra guerra a entrar. Já tomamos o governo deste país da camarilha do Washington Luís e do Júlio Prestes, e já declaramos guerra ao Eixo. Agora, só venceremos esta outra guerra com a sua ajuda.
- Bááá! Mas do que se trata, tchê!  Não venha me dizer que invadiram o Rio Grande do Sul? – indagou Getúlio.
- Não, presidente. Antes fosse. Seria uma guerra mais fácil, a gente botaria o invasor pra correr, rapidamente. Esta é muito mais complicada -  achava Osvaldo Aranha.
- Então, do que se trata, tchê? – cobrou Getúlio.
- O Cyro, o meu irmão presidente do Vasco da Gama, estás tentando levar três meninos do Madureira, para São Januário. Mas tem muitos outros clubes também querendo. O negócio está ficando difícil. Muito difícil. Por isso, vim pedir-lhe ajuda para o Cyro nesta peleja – jogou aberto.
- Tchê! Mas tu não já ajudaste o Vasco a ganhar a guerra contra o Fluminense, no ano passado, para contratar o Ademir Menezes?  Porque não ganha mais esta guerra, sem a minha participação? – tentou esquivar-se
- Esta tá duríssima, tchê!  Os três meninos são bons demais, e isso é assunto para presidente, e não para ministro – considerou.
- Muito bem, convide a diretoria do Madureira a visitar-me – ordenou Getúlio.
Dois dias depois, o presidente Getúlio Vargas recebia os cartolas do Madureira, no Palácio do Catete.
- Meus desportistas. Dei leis sociais ao país, que nenhum homem público antes pensou. Tirei de cena os comunistas, para o bem de suas famílias. Juntei o Brasil os aliados, na guerra que ora vivenciamos, do outro lado do mundo, em defesa da nossa hora. Então, vocês me devem alguma coisa, não devem? Se bem que, fazer o melhor para o meu povo, claro, é o meu dever, como chefe de estado, comandante de uma nação. Desejo, porém, um pagamento: que vocês negociem os passes de Jair, Lelé e Isaías com o Vasco da Gama.           
Mesmo com o presidente Getúlio Vargas chamando os cartolas do Madureira para uma conversa particular, eles não facilitaram nada para o Vasco. Motivo para o ministro Osvaldo Aranha queixar-se ao ditador, que aumentou as pressões – que funcionaram.
Poucos dias depois, nos tradicionais inícios de noite, Seu Ezupério entregava a cuia de chimarrão ao presidente-compadre, quando voltou a fazer-lhe uma indagação tradicional:
- Tchê! O que me contas de novidades, hoje, por cidade?
- Só eu que estou ficando mais velho, presidente.
- Bá, tchê! Então, quero dar-lhe um presente de aniversário.
- Precisa, não, compadre. Só a sua amizade já me basta.
- Mas duvido que tu não aceites este presente, tchê!
- Do que falas, presidente?
- Pressionei o Madureira, e Vaco acaba de contratar  Lelé, Jair e Isaías.
- Babaridade, tchê! Presidente! Fiquei pateta – disse Seu Ezupério, abraçando o ditador e exclamando:
- Muito obrigado, presidente “GetúlioVasco!”

OBS: ESCREVI ESTA BRINCADEIRA, MERAMENTE, PARA BRINCAR COM O NOSSO GLORIOSO CLUB DE REGATAS VASCO DA GAMA. NÃO TEM NENHUM VALOR LITERÁRIO. OK?
Gustavo Mariani

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