Rolava 1966, e o cineasta Roberto Faria
filmava a peça de Gil. Vera Vianna, que sentia pavor de alturas, pediu
uma dublê para a cena que não toparia fazer. Enquanto assistia a interpretação
de uma vedete do Teatro Recreio, a ex-trapezista de circo capixaba, Adalgisa
Ferreira Nogueira (primeira no cinema nacional a fazer cena perigosa), os telefones
da Central de Polícia, do Corpo de Bombeiros e de redações de jornais não
paravam de tocar. Quem passava pela Rua Santa Clara, em Copacabana, naquela
manhã ensolarada, ficava horrorizado com o que via, uma mulher presa por uma
corda de fio de nailon, no 12º andar de
um prédio residencial, passando a impressão de que seria mandada abaixo.
Mas personagem Daysi não vinha abaixo. As últimas tomadas a filmavam
sendo recolhida para dentro do “ap”, quando Vera Vianna voltava a vivê-la.
Seguia-se uma seção de “strip-tease”, sem dublê e que não deveria ser visto
pelo cinéfilo brasileiro, porque a censura do regime militar que mandava no
país não permitiria o que os espectadores do filme a ser lançado em outros
países veriam.
Para fazer a cena, Vera bebeu um dose de conhaque, par criar coragem, e
exigiu a saída dos técnico, atores secundários, operários e assistentes
desnecessários. A produção fechou uma das janelas do apartamento e acendeu os
refletores na intensidade máxima, a fim de criar um ambiente esfumaçado. Vera
vivia o sonho do personagem Porfírio, interpretado por John Herbert. E o filme,
um dos maiores sucessos de bilheteria do ano, repetiu o sucesso dos palcos. Para
os cronistas da época, isso deveu-se, principalmente, ao carisma de Vera Vianna,
pela sua naturalidade em cena, a espontaneidade e o charme natural que passava
as garotas cariocas que se modernizavam, como tudo na década-1960.
Vera havia estreado diante das câmeras, em 1964, durante as filmagens
das novela “O Desconhecido”, da extinta TV Rio. Fora, também, um escrito de
Nélson Rodrigues, sobre um sujeito que perdia a memória. A sua beleza e
fotogenia chamou a atenção e levou-a para o cinema, também, em “Asfalto
Selvagem” , um outro texto de Nélson Rodrigues, este filmado por JB Tanko, visto
pela crônica como um dos maiores momentos do autor no cinema, levado à tela com
perfeição. Em 1966, Vera foi premiada pela sua atuação em um filme que abordava
a vida de um bandido chamado Paraíba.
Mãe de Vanessa e avó
de João Pedro e de Antonio, a talentosa Vera Vianna é uma glória do cinema
nacional. (Fotos reproduzida da revista Fatos & Fotos de Nº 267, de
12.03.1966).
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