Durante
a ditadura militar que mandou no Brasil por 21 viradas de calendário – 1964 a 1985 –, o mais
temível dos ditadores foi um flamenguista, o general Emílio Garrastazu Médici,
que ia aos jogos dos rubro-negros, no Maracanã, levando um radinho à pilha que colava
aos ouvidos. E os flamenguistas lhe deram muitas alegrias, conquistando sete
campeonatos cariocas nos tempos de chumbo, ou 33 por cento dessas disputas.
Flamengo e ditadura militar brasileira tem
tudo a ver. Pra começar, a república no Brasil começou com um general que se
fez de generalíssimo (seis estrelas na gola da farda) e, sem demora, ouviu isso
do grande ideólogo do novo sistema de governo implantado, o tenente-coronel
Benjamin Constant: "Vossa Excelência derrubou o trono para fazer
isso que estamos vendo: regime do absolutismo. Isto não é república".
|O Vossa Excelência era o alagoano Deodoro da
Fonseca, que devia a sua carreira ao imperador Pedro II, ao qual jurara
lealdade eterna.
Pois
bem! Era 14 de novembro de 1889, quando o Barão de Ladário, membro do gabinete
chefiado por Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto,
informou a este que Deodoro não se envolveria em nenhuma escaramuça contra a
monarquia, sobretudo porque não estava bem de saúde. Quem tinha um informante
daqueles, precisava de inimigo pra quê? No dia seguinte, o generalíssimo deve
ter ingerido um remédio milagroso, pois mostrou-se inteiro para proclamar a
república.
Seis temporadas depois de o Brasil se tornar republicano surgia o Clube de Regatas do Flamengo. Na verdade, dois dias após
a república apagar a sexta velinha, no dia 17 de novembro. Só que a
rubro-negrada preferiu adotar o 15 de novembro consagrado pelo ditador Deodoro
como a data do registro do seu nascimento.
O
“esporte predileto” do Flamengo, na década-1920, era perseguir o Vasco
da Gama, porque este escalava atletas negros e brancos pobres em suas equipes.
Deodoro da Fonseca, após vencer a primeira eleição republicana no Brasil, por
voto indireto, ao contrário do que preconizava a constituição da recém criada
república, passou a perseguir todos os seus adversários, principalmente os
correligionários de Prudente de Morais, que governara São Paula, presidira a
Assembleia Constituinte de 1891 e viria a ser o nosso terceiro presidente da
república (1894/1898). Quatro dias após a sua confirmação na presidência da
república, Deodoro demitiu todo o seu ministério e passou a ditar as ordens no
país com a ajuda do Barão de Lucena,
Henrique Pereira de Lucena.
Para perseguir ao Vasco da Gama, o Flamengo unia-se,
principalmente, ao Fluminense, o que não era de se estranhar, pois um era filho
do outro, representantes da elite carioca, ao contrário do time cruzmaltino,
que era povão.
Pode ser mera coincidência, mas é coincidência
demais como Flamengo e ditadura militar brasileira andaram juntos. Exemplo? Em
1965, o governo do marechal Castelo Branco baixou o AI-2 (Ato Institucional Nº2),
reabrindo processos de cassação, extinguindo partidos políticos, invadindo e
desativando as suas sedes, e, também, intervindo no Judiciário. Naquele ano, o
campeão carioca foi Flamengo. Ano em que a eleição presidencial passou a ser
indireta e a constituição de 1946 foi suspensa, para os generais outorgarem uma
outra ao país.
Veio a década-1970. Médici estava no poder.
Presos políticos desapareciam, torturas que ficariam bem nos filmes de Drácula
eram cometidas e o país tornava-se o campeão mundial do terror. Em campo, em
1972, enquanto a ditadura dos generais apavorava, o Flamengo sagrava-se campeão
do Torneio Internacional de Verão, do Torneio do Povo, da Taça Guanabara e do
Campeonato Carioca. Era muita alegria para o presidente Medici, que comemorou,
ainda, o título de campeão carioca-1974, em seu último ano de mandato.
Em
1982, a ditadura terminou. Antes, porém, em 1981, o Flamengo foi campeão
carioca, da Taça Libertadores e venceu o inglês Liverpool naquele amistoso, no
Japão, patrocinado pela Toyota, e que
seus torcedores dizem ter sido o Campeonato Mundial Interclubes. Como viram, em
tempos de ditadura, só dá Flamengo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário