Para
espanhóis e portugueses, a danada era uma grande “filha daquelas mulheres de
menos responsabilidade”, como as classifica o intrépido presidente da Rússia,
Vladimir Putin. Na verdade, eles até tinham razão, pois o pai dela, o Rei
Henrique VIII, mandou cortar a cabeça de
sua mãe (dela), Ana Bolena, e anulou o
seu casamento (dele), o que a tornou-a filha ilegítima. Logo, ela virou isso
mesmo que você pensou.
Mas,
porque tanto ódio por uma chinoca, tchê? Seguinte: os soberanos da Espanha e de
Portugal, quando estes eram a maiores potências marítimas do planeta, desconsideravam a existência do restante do
mundo. Fizeram tabelinha com o espanhol Papa Alexandre VI e este abençoou a
assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1594, conferindo-lhes o direito de
dividirem o que achassem pela frente durante as suas navegações. Elizabeth I se
arretou. Mandou Alexandre e a sua Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana
à PQP e enfiar a sua benção ao tratado no seu santíssimo “curriculum”. E, achando
pouco, convocou a sua patota e entregou-lhes cartas de corso, autorizando o
confisco das a riquezas que os navios de “portugas” e espanhóis desfilassem
diante de suas barbas.
-
Que pílantra! – bradou Felipe II, Rei da Espanha e casado, por procuração, com
Catarina de Aragão, a primeira ex-mulher do Henricão cortador de cabeças.
Movido a um efervecente sangue ibérico, o
Felipão resolveu sair na pancada com Elizabeth
I. E se deu mal. Quando pretendia conquistar a Inglaterra, em 1558, levou
porrada da moça.
Serviço feito, a festa da pirataria rolou
pelas águas do mundo, patrocinada, ou com despesas divididas, com investidores,
pela “Betona” que, além de tornar-se “filha da pata”, aos três anos de idade,
ainda “tirou férias”, aos 21 anos de idade, atrás de grades da Torre de Londres,
acusada de conspirar contra a sua meia-irmã e Rainha Maria I. Mas estava
escrito que nada a barraria. Em 1558, ela chegou ao trono inglês, como um uma fera, e, anos mais tarde, mandou
este recado ao desafeto rei espanhol:
- Você, Felipe II,
ladra, mas não morde.
Com tanta adrenalina acumulada, a gloriosa
“Betona” não iria envergonhar o seu pai Henrique VIII, e nem a sua irmã “Bloddy
Mary”, isto e, Maria Tudor, que diziam beber sangue de protestantes. Tanto que, em 1587, ela mandou cortar a cabeça
de sua prima e rival Maria Stuart, déspota na Escócia. Danadinha, hem?
Por jamais ter
colocado argola no anular da mão esquerda e nem parir nenhum “filho da pátria”,
a “Tia Beth” ganhou a alcunha de “Rainha Virgem”. Nem tanto! Às escondidas, o
Conde de Leicester, Robert Dudley, mandava-lhe umas beliscadinhas, o que fazia
muito bem a uma “perseguida” que passara muito tempo “zerinho quilômetro” e,
também, fora excomungada pelo Papa,
quando ela contava 28 temporadas no pedaço.
Nem
só contra europeus, Elizabeth I mexeu. Já que os ingleses ficaram sabendo das
riquezas do Brasil, desde 1579, pela turma de Francis Drake, ela não perdeu
tempo. Mandou a moçada dar um chego por aqui e bater uma bolinha com os
“brasucas”. Primeiramente, Thomas Cavendish que, pouco depois de pedir-lhe uma
carta de corsário, pilhou dos espanhóis o maior butim da época, no mesmo 1588
em que a Inglaterra botou pra correr a esquadra de Felipe II. Entusiasmado, o
carinha veio para o Sul Maravilha, dominou as indefesas Santos e São Vicente (atual “Sampa”), em
1591, e tocou o terror.
Mas
o piratão inglês que se deu melhor por aqui foi James Lancaster. Em 1595, ele atacou, espetacularmente,
Pernambuco, que os ingleses chamavam de “Fernambuck”, e roubou o equivalente a
dois milhões de libras esterlinas, um assombro e maior soma já pirateada no
Mundo Novo. Para se ter uma ideia melhor, quando o corsário francês René
Duguay-Troin atacou e dominou o Rio de Janeiro, em 1711, o governador Castro Morais negociou o
resgaste da terra por 615 mil cruzados, em três parcelas, 200 caixas de açúcar
e 200 bois. Uma ninharia em relação ao valor do pau brasil, do algodão e do
açúcar pernambucano, além de pedras preciosas e mais 12 outros produtos de grande valor comercial na Europa.
Elizabeth I só não disparava tiros de canhão e
passava a navalha na jugular da moçada pilhada. Era o de menos. No fundo, no
fundo, jogava no mesmo time dos flibusteiros e bucaneiros que assombraram os
mares do Caribe e das Antilhas. Era uma pirataça!
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