Pelo
virada do século 19, quando as cariocas iam à praia, vestiam roupas de banho
largas, não deixando nenhum vestígio de como seria o seu corpo. Só quando
entravam na água colocavam um cinto no roupão e a sua cintura dava o recado. Quando iam sair do mar, é claro, logo tiravam
o dito cujo “entregador”. Mas nem todas se misturavam aos rapazes no mesmo
horário de ir às praias da moda – Flamengo, Russel, Glória e Boqueirão do
Passeio. Só as mais ousadas. Isso, no entanto, não valia par a atriz teatral
Hermínia Adelaide.
Em
daqueles domingos em que um dos programas tradicionais da rapaziada era “grelar”
a saída das moças da missa das 10 da
manhã, Hermínia Adelaide aparece na
praia do Flamengo, usando roupa de banho
coladinha ao corpo, desenhando as suas formas e avisando que tinha seios redondinhos.
Parou a praia. Um escândalo! Mães viravam os olhos e pais faziam que faziam o
mesmo, tentando, é claro, disfarçar uma
espiadinha pelo rabo dos olhos. Súbita aparição que levou muitos rapazes
ao teatro, na noite de domingo, no Recreio, onde ela se apresentava. E foi por
ali que as revistas “O Malho” e “Fon Fon” começaram a estampar fotos femininas
em roupas de banho, para deleite dos paqueras.
Corria
1898 e o Brasil vivia o governo do presidente
Manuel Ferraz de Campos Sales, que substituiu Prudente de Morais e ficou
no cargo, até 1902, consolidando os interesses das oligarquias rurais,
sobretudo dos cafeicultores paulistas.
Na
vida cultural da capital do país, o Rio de Janeiro, em 19 de junho daquele
1898, Afonso Segreto chegava da Europa e filmava a Baía de Guanabara, o que é
considerado o primeiro filme feito no país. Antes disso, em fevereiro, Hermínia
Adelaide estreava a peça “O Jagunço”, de Arthur Azevedo, contracenando com Blanche Grau e Arthur Louro, entre outros.
Hermínia
Adelaide estava nos palcos desde 1885, quando participou da peça “Cocota”. Em
1896, estreou um texto de da parceria Arthur Azevedo/Moreira Sampaio, “O
Bilontra”, tendo Blanche Grau e Arthur Louro, novamente, do seu lado no Teatro
do Recreio, além de gente de nome, como Elisa de Castro, Rose Villiet e Angelo
Agostinelli. Em 1889, ela estava fazendo “Bendengó”; em 1899, “O Buraco”, um outro texto de Moreira
Sampaio, em nova parceria com Elisa de
Castro, e, em 1919, “Babaquara”.
O
Rio de Janeiro de Hermínia Adelaide tinha um clima propício para atividades ao
ar livre. Quando ela ia ao mar, para deleito dos rapazes que fundavam o Grupo
de Regatas do Flamengo, a praia era um espaço muito democrático e a classe
burguesa se formava no país. Surgiam as primeiras cobranças de uma não
constante imprensa feminina, defendendo para elas o direito ao voto, à educação
profissional e a liberdade de decidir sobre o seu corpo. Entre 1860 a 1880,
moças que se prezavam só deveriam usar o mar antes do sol chegar, sem rapazes
por perto.
No início
de 1913, o Jornal do Brasil publicou matéria projetando como seriam as
cariocas naquela temporada, e sugeria-lhes praticar alguma modalidade
esportiva capaz de aperfeiçoar-lhe as belezas físicas e apurar-lhes as “linhas
esbeltas e vigorosas” – o que Hermínia Adelaide já exibia, desde 1895, sexyzada
por roupa colante em um corpo que estava 20 anos à frente.
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