Brasília
é a capital do mimetismo social. Por mínima importância que tenham, os seus
habitantes que circulam pelas artérias que levam ao seu coração se alçam a
prestígios estratosféricos e insinuam tremenda intimidade com o poder.
Quem
mais sofre com eventuais desprestígio do
Palácio do Planalto é o Ministério das
Relações Exteriores, o chamado Itamaraty. Faz beicinhos, calundus e não
disfarça o ciúme. Um dos casos mais marrentos rolou, em 1963, quando o
presidente João Goulart tratou, diretamente, com o embaixador Lincoln Gordon e
trouxe ao Brasil o Secretária de Justiça dos Estados Unidos, Robert Kennedy,
irmão do presidente John Kennedy. Ignorou, completamente, a diplomataiada. Se bem que não era a
primeira vez em que a Casa do Barão de Rio Branco ia a escanteio.
Por aquela época, passada a crise envolvendo
Washington e Moscou, devido a decisão soviética de instalar mísseis nas barbas
do Tio Sam, em Cuba, o Kremlin já reconhecia o pedaço cucaracha como área de
influência do seu rival na guerra fria e desistira de ver, por aqui, países
neutralistas e não alinhados. De sua parte, os “Iztêitiz” queriam um papinho
com Brasília. Se ela fazia parte do seu quintal, porque então o seu governo
encampara empresas norte-americanas? Porque negociara, com a Polônia, a compra
de 100 helicópteros e a montagem de uma usina termoelétrica, em São
Jerônimo-RS?
NINGUÉM MELHOR DO QUE o Itamaraty para correr atrás desse papo, certo? Claro que não,
do ponto de vista do Jango.
Arestas a aparar, João Belchior Marques
Goulart precisava que o Tio Sam dinamizasse, urgentemente, a cota brasuca no
programa Aliança para o Progresso e a continuidade da sua ajuda militar às
nossas forças armadas. Para ele, assuntos muito importantes para deixar por
conta de diplomatas. Deveria ser papo de pé do cangote entre ele e o bico da
“Águia”, num momento em quereatava-se
relações diplomáticas e comerciais com a patota liderada pelo Primeiro
Secretário do Partido Comunista soviético, Nikita Serguêievitch Khrushchovv.
Com o Itamaraty no banco dos reservas, sem
nenhuma chance de entrar em campo, o ciumento “premier” e chanceler interino
Hermes Lima não compareceu ao
desembarque de Robert Kennedy, no aeroporto de Brasília, durante uma madrugada.
Pediu ao Ministro da Guerra, o general Amaury Kruel, para representa-lo. De
quebra, quando chegou ao Palácio da Alvorada, para participar de uma
conferência, Jango já estava trancado na biblioteca com Bob Kennedy, que passou 18 horas na cidade, cinco das quais do
seu lado, sendo três de parrapapás e duas num
regabofe.
O BRASIL VISITADO POR Bob Kennedy vivia um
incômodo processo inflacionário, com Jango precisando reconquistar, por
plebiscito, autoridade e poder diluídos pelo parlamentarismo e, sobretudo,
empossar um ministério estável. Por isso, ele adotou uma diplomacia pessoal e
agressiva. Pela lógica e o bom senso, deveria fazê-lo com a participação de
outros membros do seu Governo – menos do ciumento Itamaraty, que não tinha
força nem para convencer Moscou a não substituir o seu embaixador no Brasil por
diplomata de nenhum prestígio.
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