Heróis das revistas em quadrinhos foram para a TV mandar balas |
Mas a violência na TV não é de hoje. Criança,
a nossa inocência já a consumia. Quando a televisão no Brasil fazia 15
temporadas no ar – aberta em 18.09.1950, pela TV Tupi, em São Paulo –, os
chamados “enlatados” vindos dos Estados Unidos traziam para os nossos meninos
rajadas de metralhadoras; enforcamentos; afogamentos; empurrões em precipícios; atropelamentos propositais;
surras violentas e até desintegração por pistolas atômicas.
Seguramente, muitas dessas crianças
consumidoras das brutalidades importadas pela “telinha” aprenderam a produzir
violência e se tornaram os bandidos brasileiros que, tempos depois, viveram
todas aquelas cenas mostradas pela TV.
Há 67 temporadas televisivas no Brasil –
pesquisei pelas revistas Intervalo, Capricho, Contigo, Revista do Rádio-TV e
Realidade –, havia 10 canais entre Rio de Janeiro e São Paulo, as nossas mais
populosas capitais. Eles exibiam, em média, 61 filmes semanais, com um mínimo
de 80 horas de porrada, matando nunca menos de 100 bandidos (no papel, da TV, é
claro).
Outros números citam violência distribuída por
57 películas e 32,5 horas de pancadaria, em aventuras mais consumidos por
adolescentes; 36 filmes e 23 horas de bang-bang, e mais 36 totalizando 27 horas
de ações policiais, com muitos tiros, evidentemente. A violência da bandidagem
só perdia exposição na TV para os 24 mil anúncios comerciais semanais, em 200
horas das programações dos 10 canais cariocas e paulistas.
Reprodução de propaganda de livro |
Mas
a TV que exibia tanta violência, como até alienígena tramando, com cientista
maluco, a destruição do planeta (Quinta Dimensão) e policiais invadindo cervejarias
para massacrar mafiosos (Os Intocáveis), trazia, também, seriados que deveriam
ser violentos, mas, incrivelmente, eram menos inacreditáveis. Caso de “O
Agente da UNCLE”, juntando agente norte-americano da CIA, Napoleon Solo, e o
soviético Illya Kuriakin, da KGB, nos tempos da “guerra fria”. Dá pra imaginar?
Unidos contra trapaças internacionais.
O
seriado, da NBC, entre 1964 e 1968, teve 105 episódios, chegou por aqui pelos
inícios de 1966. UNCLE era abreviatura
de “United Network Command for Law en Enforcement” , isto é, “União de Nações
para Comando da Lei e sua Execução”. Só mesmo o escritor Ian Fleming para criar uma trama dessas.
Diziam ter sido armação dele para levar algo tipo 007 par a telinha.
Hoje, ao ligar a TV e assistir o mocinho
apanhando muito – quando não leva um tiro –, nem precisa ter a expectativa de
que ele vai se recuperar durante o próximo capítulo – claro que vai! Para se
vingar, com muito mais violência, pois a TV precisa de audiência para vender
comerciais, e que se dane a educação. Afinal, existe o dia seguinte e as
caminhadas pela paz – com locutor anunciando-a, fazendo cara de chocado,
revoltado.
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