Lotação do inferno esgotou |
Esta é um tipo de poesia popular, muito prestigiada pelos
nordestinos, mas que só ganhou consideração mais ampla por volta de 1955,
quando Orígenes Lessa escreveu, perto do Natal, um artigo tratando das
estrepolias de personagens desconhecidos pelos leitores da revista
Anhembi.
Contribuiu muito,
também, para o reconhecimento do valor cordelista um artigo do estudioso
francês Raymond Cantel, em junho de 1969, nas páginas do jornal parisiense “Le
Monde”. Foi o que ajudou impulsionar o cordel na direção do reconhecimento dos
estudiosos “brasucas”.
Chamados, também, por
folhetos de trovadores, ou, simplesmente, folhetos, os cordéis trazem,
geralmente, oito páginas, no tamanho 11 x 16 centímetros. Mas há casos em que
apresentem 16, ou 32 folhas, se a história for maior.
O termo cordel tem origem erudita, com influência portuguesa e
com autores se autodenominando trovadores. Sua literatura existiu em vários
países, entre eles a França, até o século 19. Em Portugal e Espanha vingaram
pelas primeiras décadas do século seguinte. Há exemplares até do século 15.
No Brasil, tudo leva a
crer que os primeiros exemplares foram impressos pelo final do século 19,
atribuindo-se o pioneirismo a Leandro Gomes de Barros e a João Martins de
Atahyde. Por aqui, prevalece a prosa, preferentemente, na chamada redondilhas
maior, versos de até sete sílabas contadas até a última tônica. Usa-se, também,
a sextilha, ou versos de “seis pés”, com as rimas aparecendo nos segundo,
quarto e sexto “pés”.
"Diabetes" do Roberto compraram tudo |
De sua parte, Apolônio Alves dos Santos preferiu ir direto ao “Rei” da música jovem, escrevendo “A mulher que rasgou o travesseiro e mordeu o marido sonhando com Roberto Carlos”.
Roberto Carlos, por sinal, visitou a literatura de cordel em várias outras oportunidades, sacudindo o setor. Movido pela estrondosa “Quero que vá tudo pro inferno”, que dominou todas as paradas de sucesso de 1965 e entrou por 1966 na ponta, Enéias Tavares Santos. publicou “Carta de Satanás a Roberto Carlos”.
Viajava ele, a borde de um ônibus, entre Maceió a Aracaju,
quando um radio começou a levar-lhe a canção aos oritimbós. Achando o que ouvia
muito interessante, ao descer em Sergipe, só precisava colocar no papel os
versos bolados durante a viagem. Por eles, virara uma agrura a vida do “Sáta”,
informando ao cantor já estar o inferno superlotado. E cobrava-lhe: “Você
ganhando dinheiro/E eu ficando lascado”.
Se Satanás ficava “durango kid”, o poeta Enéias fazia o
contrário. Seu cordel vendeu tanto que ele pôde pagar tudo o que devia na
praça. Negociou direitos de publicação com a antiga Editora Prelúdio (atual
Luzeiro) e a divertida historinha é editada há quase meio-século. Mais? A carta
de Satanás foi tão bem endereçada ao povão, que levou um outro cordelista,
Manoel D´Almeida Filho, a também morder uma graninha, vendendo às diabetes
“Resposta de Roberto Carlos a Satanás”;
“A chegada de Roberto Carlos no Céu” e ”Roberto Carlos no Inferno”.
O maior clássico, o mais vendido |
Há vários pesquisadores sustentando que o poeta José Camelo de Melo Rezende, de Pilõezinhos, na Paraíba, o teria escrito, em 1923, enquanto outros afirmam o texto publicado não é mais o original, mas versão de história escrita por João Melchíades Ferreira, que o teria ouvido de um outro cantador.
E
não fica por aí. Os direitos autorais são reivindicados pela Editora Luzeiro e
questionados pelo poeta cearense Vidal Santos. Ademais, haveria um texto
original de José Camelo, mas não se conhece ninguém que tenha o livro.
Pra piorar: o texto não conta nada sobre uma ave, mas uma máquina desenhada e desenvolvida na oficina de um engenheiro - coisas da ficção.
Pra piorar: o texto não conta nada sobre uma ave, mas uma máquina desenhada e desenvolvida na oficina de um engenheiro - coisas da ficção.
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