Vasco

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domingo, 18 de novembro de 2018

DOMINGO É DIA DE MULHER BONITA - A CHEFONA DA MESA DO SR. PRESIDENTE

Reprodução de sudbrakbookreleaspress
  Esta é uma história que estava escrita. Só faltava o dia marcado para acontecer. Veja só: uma gaúcha vai aos Estados Unidos estudar veterinária e, para ganhar uma graninha, passou a cozinhar. Na quentura de forno e fogão saca, logo, que aquela era a sua. Depois, vem para Brasília e se vira preparando jantares encomendados.
 Foi por ali que a história prevista rolou. Aos 31 de idade e há 10 temperando a sua conta bancária, Roberta Sudbrack foi indicada para preparar um jantar na casa do então secretário nacional de Justiça – depois ministro da Justiça - José Gregori. O cardápio do destino levou à mesa  um casal Cardoso - o presidente da República, Fernando Henrique e a primeira-dama, Ruth – e ela começou a beliscar a fama.
 Ruth Cardoso, que detestava a alcunha “primeira-dama” e era uma socióloga respeitada, adorava cozinhar. Se não fosse uma intelectual, poderia se destacar como  “chef” dos mais sofisticados restaurantes do país. Grande conhecedora do tema, terminou de saborear a entrada servida – queijo brie gratinado com alho poró crocante e vinagrete de framboesa gelada - e quis saber quem era o autor da combinação.
   Passados 90 dias, a socióloga convidou a cozinheira para preparar uma mesa em torno de umas 20 bocas que iriam derrubar um rango no Palácio da Alvorada. Entre os comensais, “El Comandante” cubano Fidel Castro”, que gostava de conversar muito, mas, daquela vez, conversou menos, por conta do creme de aspargo com açafrão e do queijo brie, sobretudo.
 “El Comandante” voltou para a sua ilha e Roberta ficou no Palácio da Alvorada. Topou o convite para comandar as cozinhas da casa, onde trabalhou com cinco militares que usavam 30 panelas, um forno industrial e três frigoríficos para servir ao chefe da nação uma autêntica “gororoba” - prato brega da galera nacional.
Reprodução de sud-roberta-sudbrack2 com Roberta em seu restaurante carioca 
 Primeira “chef”,  em quatro décadas de serviços prestados pelo Palácio da Alvorada à República brasileira, Roberta, de saída, ordenou o banimento dos caldos industrializados, os famosos “faça-se gordinho” e “decretou” o uso de ingredientes frescos, preparados em cima da “hora do garfo”. Ensinou à moçada que um bom purê, por exemplo, com batatas “brasucas”, exigia pouca água e, depois de bem cozida, meximento em fogo baixo, cuidando para não queimar. Seguia-se passar o “grude” por uma peneira fina e derramar em cima leite e manteiga gelada.
 Roberta, nascida em Porto Alegre, apresentava às segundas-feiras o seu cardápio semanal a Dona Ruth Cardoso (como a imprensa se referia à socióloga que criou um programa social chamado “Comunidade Solidária”). De sua parte, esta, no máximo, sugeria adicionar um quiabo às carnes – picadinho de filé minhon com purê de cenoura e banana à milanesa era o prato predileto do presidente.   
 Em seus inícios de trabalho no Palácio da Alvorada, a gaúcha notou que o FHC (apelido criado pelo jornal Folha de São Paulo) nem beliscava uma salada. Então, misturou cortes de rosbife e presunto cru (podia ser, também, alcachofra) com os verdes. Deu certo.
 Roberta nunca repetia um cardápio para visitantes. Por exemplo: em julho de 1999, durante jantar do FHC com o já ex-colega argentino Carlos Menem, mandou ver um risoto em verde e amarelo; em maio de 2000, em "dinner" para Carlo Ciampi, o presidente italiano, serviu camarão com purê de papaia (entrada), salada de feijão branco e risoto de carne seca com mascarpone em minimorangas, além dos finalmente codorna em emulsão de castanha de caju e “foie gras” – um banquete renascentista, par o convidado.
 É de se imaginar que o mais difícil do “Governo FHC” tenha sidio, mesmo, ele  manter diária calórica de 1.500  - 1.300 para a primeira-dama, que contava com a nutricionista Izabel Mofati. Embora os números estivessem 25% abaixo do recomendado pela Organização Mundial de Saúde, convenhamos que o fogão da  Roberta n o Alvorada era “uma brasa, mora!” (gíria da década-1960).        

Entrada do restaurante Pássaro Verde, da Roberta, no número 35 da Rua Visconde de Carandaí, no Rio de Janeiro, em reprodução de sud-roberta-sudbrack2

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