O Brasil vivia comprando produtos e pegando empréstimos financeiros com a Inglaterra. Em 1837, as exportações do café passaram a gerar belos lucros, o país reduziu a sua demanda com os ingleses e passou a negociar, também, com franceses, alemães e os Estados Unidos. Claro que os britânicos não gostaram e armaram pra pagar os "brazucas" no contrapé, via combate ao tráfico negreiro.
A escravatura era base da sustentação econômica dos grandes fazendeiros brasileiros, mas como a nossa elite financeira resolveu encarar as pressões do velho parceiro comercial, estes foram para um "segundo tempo de bola na área". Criaram, em 1845, a Lei Aberdeen, que lhes permitia deter qualquer navio negreiro em qualquer parte do mundo, e pressionaram os políticos brasileiros do Partido Conservador, simpatizantes da proibição do tráfico de escravos, a aprovarem a Lei Eusébio de Queirós, em 1850.
Se havia pressões inglesas de lado, do outro rolavam as dos escravocratas, o que fazia o Império empurrar a questão com a barriga. Pedro II dizia-se favorável ao fim da escravidão, mas não escondia falta de forças para encarar os donos do poder econômico. Em 1861, o deputado britânico William Dougal Christie foi pra cima do Pedro, cobrando-lhe cumprimento de leis. Como o Imperador não lhe dava atenção, surgiu uma "bola rolando na marca do pênalti" para o cobrador executar: o navio inglês Príncipe de Gales naufragara pelas costas sul-brasileira e tivera a sua carga roubada pelos vagabundos de plantão. Motivo para a Inglaterra exigir que o Brasil pagasse pelo roubo e aceitasse um oficial seu acompanhando as investigações sobre o caso.
Novo rolo: o Império recusou a proposta inglesa e, pra piorar, prendeu um grupo de militares ingleses que haviam enchido a cara de cachaça e aprontado bagunças pelas ruas do Rio de Janeiro. Revide inglês: exigiu soltura imediata dos seus "milicos", demissão de quem os havia detido e pedidos de desculpas pelo gabinete de Pedro II. Mais: que navios ingleses aprendessem cinco navios brasileiros ancorados na Baía de Guanabara - demais, para o Império.
Dom Pedro II terminou enchendo o saco com todo aquele rolo. Estava muito mais interessado em seu namoro com a Condessa de Barral, preceptora de suas princesinhas Isabel e Leopoldina. Ele era casado com Teresa Cristina de Bourbon – princesa do europeu Reino das Duas Sicílias -, mas não tinha o menor tesão nela, que não chegava aos pés da beleza da esplendorosa condessa Luísa Margarida de Barros Portugal, casada com o francês Conde de Barral, amigo do Rei Luís Felipe I da França - foram 34 anos de namoro que fizeram o Imperador do Brasil escrevê-la dizendo “sonhar poder chegar de balão até a janela do seu quarto”, quando ele já havia voltado para o marido.
Pois bem! Para não continuar ouvindo futricas a mais dos ingleses e namorar de menos com a condessa, Dom Pedro II propôs à Inglaterra colocaram um mediador na questão. Proposta topada, convidou-se o Rei Leopoldo I, da Bélgica, para escutar os dois lados, examinar documentos e preferir a sua sentença. Passado tudo a limpo, Leopoldo deu ganho de causa ao Brasil.
Dom Pedro II ganhou, mas não levou. No dia em que recebeu o veredito do Leopoldo, tivera uma ardorosa tarde de amor com a bela condessa. De tão satisfeito que ficara, mandou pagar tudo o que os britânicos cobravam. Quer dizer: politicamente, ganhou e ficou feliz no jogo e no amor. No cofre, ganhou, mas não levou!
TRAZIDO PARA ESTA PÁGINA APÓS PUBLICADO NO Jornal de Brasília do domingo 09.06.2024
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