Quando a Loteria Esportiva mandou o seu primeiro volante às ruas – 19 de abril de 1970 -, o entendido em futebol sonhou, logo, com riqueza fácil. Mas não foi tão fácil assim. Tanto que na primeira rodada de emoções ninguém fez os 13 pontos - alguns, acertaram 12 jogos.
Com a operadora Caixa Econômica Federal listando clubes de todo o Brasil em seus testes, a inserção de times desconhecidos pela maioria dos apostadores dificultava, ainda mais, o acerto nos vencedores. Por sinal, fez surgir a zebra como sinônimo da logo apelidada Loteca – futuro nome oficial da loteria -, quando um timeco venceu um grande favorito.
Embora o futebol candango fosse inexpressivo, amador, ignorado pela maioria dos brasilienses, mesmo assim, para desespero dos apostadores, o Teste Nº 16 teve Piloto x Planalto, no Jogo 6 do volante de 19/20 de setembro daquele 1970, quando o Brasil vivia a euforia da conquista do tri da Seleção Brasileira na recém encerrada Copa do Mundo do México. A revista paulistana Placar – Nº 27, de 18.09.1970 -, de circulação nacional e primeira e então única a correr atrás de informes sobre times incluídos nos testes lotéricos, disse aos seus leitores que o futebol do DF era “peladas jogadas durante o descanso do almoço dos candangos, nas construtoras, que davam nomes aos times” - exagero. Não era bem assim. As equipes, normalmente, eram formados dentro das empresas construtoras, mas já havia uma federação que promovia campeonatos.
Enfim, lá estavam Piloto x Planalto no Teste 16 da Loteria Esportiva obrigando apostador fora de Brasília a fazer palpite triplo. Quem imaginaria os últimos resultados dos dois times e que eles se enfrentariam pela terceira rodada do Campeonato Amador do DF? Só se tivesse bola de cristal pra saber que Planalto 1 x 0 Gráfica e Planalto 0 x 1 Jaguar haviam sido os placares do time da Coluna 2 (menos apostada) nas partidas anteriores, enquanto o Piloto - formado dentro da empresa pública Transportes Coletivos de Brasília-TCB - vinha de 0 x 0 Gráfica e 3 x 3 Grêmio Brasilense. Deu Piloto 2 x 1 Planalto, bom para 74 ganhadores que levaram (cada um) Cr$ 73 mil, 930 cruzeiros e 35 centavos, na moeda da época, boa grana quando o salário-mínimo era de Cr$ 187 cruzeiros e 20 centavos.
A experiência da Loteca com o futebol amador candango foi repetida no Teste Nº 17, em 26/27 daquele mesmo setembro, com Defelê x Planalto, no Jogo 12. O máximo que se soube lá fora foi que o Defelê fora criado dentro do Departamento de Força e Luz de Brasília (depois, Companhia de Energia Elétrica de Brasilia) e havia sido tri do Amadorzão-DF-1960/61/62. Não se sabia que seria seria aposta irrecomendável, por ter perdido nas três rodadas disputadas do Candangão-70 - 0 x 1 Coenge; 1 x 2 Gráfica e 1 x 3 Civilsan. Rolou a bola e o Planalto, que não brilhava desde 1965, mandou 2 x 1, para gáudio de 12 ganhadores que faturaram (cada um) Cr$ 505 mil, 358 cruzeiros e 14 centavos.
Com certeza, a pouca informação (fora do DF) sobre os times candangos aumentava o grau de dificuldades de acertos para o apostador. E piorou quando o Teste 19 trouxe os jogos 8 – Civilsan x Piloto – e 9 – Defelê x Colombo, para o 11 de outubro. Como Piloto e Defelê já haviam sido apresentados ao apostador, os desconhecidíssimos Civilsan e Colombo eram prognósticos dificílimos. Só quem telefonou para a Federação Desportiva de Brasília soube que o Civilsan (também formado dentro de construtora), dividia a liderança do Amadorzão/DF, com o Colombo. O retrospecto inimaginável para o apostador de fora de Brasília marcava: Civilsan 2 x 0 Grêmio Brasiliense; 1 x 1 Colombo; 3 x 1 Defelê; Piloto 0 x 0 Gráfica; 3 x 3 Grêmio Brasiliense; 2 x 1 Planalto; Defelê 0 x 1 Coenge; 1 x 2 Gráfica; 1 x 3 Civilsan; Colombo 2 x 0 Jaguar e 1 x 1 Civilsan. Daquela vez, com Piloto 1 x 1 Civilsan e Colombo 3 x 1 Defelê, 744 apostadores levaram (cada um) Cr$ 10.424,17.
Time do Defelê
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