Com quse dois metros de altura e pesando quase 100 quilos ele era o dono da área
Ter zagueiros altos e fortes sempre foi uma recomendação do futebol brasileiro. Mas com peso que não lhe tirasse mobilidade para combater os velozes atacantes magrinhos. Assim, por muito tempo, nenhum time exibiu um becão que mais parecesse um jogador de basquete. Até o dia em que o Operário, da sul-matogrossense Campo Grande, adentrou ao gramado com um zagueiro que espantou a sua torcida, medindo 1m86cm de altura e pesando 97 quilos. Acharam que o treinador Carlos Castilho (antigo goleiro do Fluminense e da Seleção Brasileira) estava caducando.
Mesmo com aquele tamanhão todo, parecendo, segundo torcedores gozadores, uma jamanta, o zagueirão foi merecendo a simpatia da galera. Se impunha na força física, ganhado todas as bolas divididas e jogadas aéreas. E o que ninguém imaginava: quando precisava se antecipar em um lance, ganhava na corrida dos atacantes. Incrível! Com quase 100 quilos, corria 100 metros em 11seg6 décimos – o recorde mundial era de 9seg9 e vigorava desde 1968.
https://operario.com.br/noticias-celebra-meio-século-de-glória
O cara em questão (primeiro em pé à esquerda na foto acima) foia registrado por Mário Amado Gomes, já tinha vivido 24 viradas de calendário e, com todo aquele tamanhão e peso, ganhou o apelido (mais do que óbvio) de Marião. Rola a bola! Quando o Operário anunciou a ida de um diretor ao interior paulista a fim de contratar um zagueiro para atuar do lado do veterano Luís Carlos Galter (ex-Corinthians, Flamengo e Seleção Brasileira), a torcida alvinegra sul-matogrossense espantou-se, em sua chegada, com a encomenda. O cartola contratara, exatamente, o cara errado. Recentemente, o Guarani de Campinas levara 3 x 0 do São Paulo, com Mirandinha, quem ele deveria segurar, fazendo os três gols. Torcida e imprensa pegaram no pé dele, que ainda jogou mais duas vezes pelo Bugre Campineiro. Marião abateu-se e decidiu parar com o futebol, e só não parou porque o treinador Zé Duarte gostara dos seus treinos - o escalara, com apenas 20 dias de trabalhos no clube, por falta de opção - e o indicou aos sul-matogrossenses.
Assim que se firmou ao lado de Luis Carlos Galter, no time do Operário, o antigo zagueiro corintiano comparou Marião a um outro velho zagueiro e ídolo da torcida do “Timão” da década-1960, Ditão (Geraldo de Freitas Nascimento). Um outro veterano que estava no clube, Liminha, ex-meia do Flamengo e chamado por “carregador de piano”, o via sabendo a hora exata pra sair da área jogando ou dar um chutão pra fora de campo. De sua parte, o treinador Castilho garantia: “Joga em qualquer time do Brasil”.
O começo de carreira de Marião foi complicado. Jogava no futebol amador de sua terra, São José dos Campos-SP, quando o levaram pra fazer testes no Guarani de Campinas. Aprovado, para providenciar documentos, voltou para a sua cidade e não voltou para o Guarani, porque o São José o convidou para vestir a sua jaqueta. Como a grana era curta, voltou para Campinas e, achado que era muita cara de pau voltar ao Guarani, fez testes na Ponte Preta. Aprovado, pouco depois, sofreu uma lesão de joelho, em treino, e passou seis meses sem poder jogar. O Guarani ficou sabendo e foi busca-lo e o profissionalizou, em 1973.
O sucesso no Operário-MS levou Marião para o Internacional-RS, para formar dupla de zaga com Figueroa, tendo à sua frente Falcão, Batista, Dario e Lula, protegidos pelo goleiro Manga, uma das mais fortes equipes do planeta na primeira metade da década-1970. Entre 1978/1980, Marião defendeu uma outra grande equipe, o São Paulo, mas o seu peso já o fazia sofrer com os atacantes velozes, como o rapidíssimo Juary, do Santos, que o desempregou. Depois, passou por mais seis clubes, entre o quais o mesmo Operário-MS (1984/85), que não o esquecia. Parou, em 1987 e viveu até 24 de agosto de 2011, com 59 de idade.
Este texto foi publicado, também, pelo Jornal de Brasíla de 14 e abril de 2021. Viajou no tempo para ser colado nesta páguina de 9 de julho de 2013. Logo, 11 temporadas de viagem. Valeu?
Tudo bem , são brincadeiras, mas a verdade é que bastou a presença dele em São Januário para que o Vasco entrasse numa nova era.
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