Vasco

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domingo, 20 de setembro de 2015

DOMINGO É DIA DE MULHER BONITA - MAYSA CANTOU E ENCANTOU O BRASIL

Dois olhos como um oceano, absolutamente,
 não pacífico 
Ela foi uma mulher que, para o poeta, tinha olhos que eram um oceano não pacífico. Realmente, a menina rica, bisneta do barão de Monjardim, governador no Espírito Santo,   neta do senador Monjardim e filha do deputado Monjardim (Alcebíades) não era de poucas marolas. Casada com um filho do conde Matarazzo (André), ela fez de tudo o que as meninas milionárias faziam. Passou pelos melhores colégio, aprendeu música e balé, leu poesias e tornou-se uma das moças mais bonitas do seu tempo. Uma história que jamais caberia em Cinderela.
 O personagem do parágrafo acima, embora vivesse no mundo do conto de fadas, estava mais para uma Gata Borralheira. Em vez de ouvir os clássicos de Frederic Chopin, preferia o samba de Noel Rosa e de Ari Barroso, escandalizando a sua milionária família e os amigos daquele mundo, que escandalizava-se ainda mais quando ela demonstrava muito mais interesse nas vozes de Elizete Cardoso, Araci de Almeida e Carmem Costa, do que nas de Bidu Sayão e de Tito Schipa, que poderia ouvi-las nas elegantes salas dedicadas às operas. Da mesma forma, trocava Brailowski e Yasha Heifetz por Russo do Pandeiro. Nada de anormal para quem preferia os versos de Manoel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e de Vinicius de Morais, em vez do modismo que glorificava Olegário Mariano e Guilherme de Almeida.
 Afinal, quem é esta mulher, de cabeça, (além dos olhos) nada pacífica? Pois bem! Trata-se de uma carioca, casualmente, criada em São Paulo, sempre esportiva e mostrando inteligência nos estudos do internato Sacré Coeur de Marie. A sua mães (Iná), mulher da fina flor da sociedade capixaba, a tinha como uma menina, quando ela surpreendeu-lhe dizendo-se apaixonada por um amigo do pai. E, na verdade, não deixava de ser mesmo uma criança para André Matarazzo Filho, o Andrezinho.    
O sorriso da fera...da canção
 Registrada e batizada por Maysa, a garota que destoava das amigas ricas em preferências musicais e literárias, adorava cantar e tocar violão nas festas da alta sociedade paulistana. Certa vez, mandou “Adeus”, um samba-canção que ninguém conhecia. Quando alguém disse não ter gostado, ela   informou ter leta e melodia de sua autoria. E, nada pacífica, desafinou “Desculpe-me por ter nascido”.  Esta era a Maysa, que tornou-se Matarazzo, ao casar-se com o Andrezinho.
 Ao voltar da lua-de-mel, nos Estados Unidos, Maysa viveu uma vida social intensa na capital paulista. Se lhe pedissem para cantar nas festas em que comparecia, era com ela mesmo. Soltava aquela voz rouca e incomum, sem imitar ninguém, fosse cantando em inglês, francês, ou português, idioma em que havia, sempre, uma audição de algo composto por Noel. Quando mandava os sambas-canções, exibia letra e música próprias, casos de “Adeus”; “Agonia”; “Marcada”; “Tarde Triste”; “Rindo de Mim” e “Quando com a saudade”. Tudo aquilo foi criando-lhe fama e mais fama, espalhada, por jornais e revistas cariocas e paulistas, para todo o país.
 Já que gostava de cantar e não precisava fazê-lo por dinheiro, Maysa não se negava a participar de eventos beneficentes. Até ali, nada de preocupante. Até uma noite em que apresentou-se em uma boate badalada. Os jornalistas elogiaram e repercutiram tanto o show que as famílias Matarazzo e Monjardim começaram a se preocuparem. E mais quando surgiram propostas (recusadas) para Maysa cantar no rádio e na TV.
Cara de seriedade? Não lhe ficava  bem 
 Como os produtores musicais não queriam aceitar que aquela voz tão diferente, acompanhada por intepretações admiráveis, ficando restrita às reuniões dos grã-finos, passaram a pressionar Maysa para ele chegar ao povão. Conseguiram. Mas, para acalmar os familiares, combinou que gravaria as suas composições, cedendo os seus direitos autorais às associações beneficentes. Então,  o maestro Rafael Puglielli orquestrou, para o selo RGE, o LP (long-playing) “Convite para ouvir Maysa”, que tornou-se o mais vendido de São Paulo e rendeu-lhe os títulos de revelação feminina, melhor letrista e  compositor de 1956.            
 Com o nascimento de um filho (Jayme), Maysa teve de desmentir, por várias vezes, a sua adesão definitiva à carreira artística. Mas não tinha como fugir do seu destino. Compôs mais dois sambas-canções (“Ouça” e um dedicado a Noel Rosa, sem dar-lhe título) e terminou assinando contrato com a Rádio e TV Record-SP, graças à insistência de Roberto Corte-Real, para fazer um programa semanal, patrocinado pela “Bombril”, empresa de amigos da família. Reverteu os seus ganhos, com sempre o fazia, para uma associação de caridade, e tornou-se uma das maiores atrações musicais paulistas. Depois, brasileiras. Enquanto viveu, vivendo vários amores, nada pacificamente, entre 6 de junho de 1936  a 22 de janeiro de 1977, deixou gravados 16 discos em estúdios e dois ao vivo. Além de cantar, participou de duas novelas de TV e de uma peça teatral.         

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