Quando Portugal começou a colonizar o Brasil, gastava pouco e
desinteressava-se muito pela terra. Então, passou o ofício aos nobres e pessoas
de confiança do Rei Dom João VI, criando as capitanias hereditárias, das quais
algumas prosperaram bastante graças a ação das mulheres dos donatários. De lá
para cá há mulheres admiráveis, mas já esquecidas. Vejamos:
INÊS DE SOUSA, nascida em 1550, foi a terceira
esposa de Salvador Correia de Sá, o governador da capitania do Rio de
Janeiro, a partir de 1557. Uma das
responsáveis pela defesa da cidade do RJ, na década de 1580, quando corsários
franceses a atacaram, reuniu mulheres e crianças, vestiu-as com armaduras
masculinas e as fez simular manobras de defesa na praia. Explodindo muitos
fogos, desorientou os piratas, que bateram em retirada. Inês foi muito
importante para os Correia de Sá conquistarem prestígio e, por três
gerações, governarem o Rio de Janeiro por repetidas vezes. Não se sabe até
quando viveu.
LUIZA GRIMALDI, italiana, nascida
em Nizza, em 1541, veio para a capitania do Espírito
Santo, em 1563, com o marido, Vasco
Fernandes Coutinho Filho, o segundo donatário, que não viveu muito. Sem ele,
Luiza, aos 48 anos de idade, tornou-se a primeira mulher a governar as terras capixabas,
entre 1589 a 1593 – a terceira no Brasil, precedida por Leonor Teles, em São
Paulo, e Brites Albuquerque, em Pernambuco. Em 1592 com o Espírito Santo
ameaçado pelo pirata inglês Thomas Cavendish, a governadora Luiza Grimaldi organizado
a defesa da baía da Vitória e surpreendido o invasor, obrigando-o a desistir. Luísa
incentivou a vinda de missionários franciscanos e beneditinos que atuaram no
plano religioso, ideológico e cultural da colonização espírito-santense. Em
1593, ela viajou para Portugal e recolheu-se ao Convento Dominicano do Paraíso,
em Évora, Portugal, onde viveu até 1626.
ANA PIMENTEL, procuradora de Martins Afonso de Souza, o donatário
da capitania de São Vicente, em São Paulo, administrou-a a partir de 1534, e
por mais de dez anos. Implantou na terra o cultivo da laranja, arroz, trigo e a
criação de gado.
BRITES MENDES DE ALBUQUERQUE, mulher de Duarte Coelho Pereira,
donatário da capitania de Pernambuco. Sem o marido, a partir de 1554, e com
seus dois filhos estudando em Portugal,
assumiu o comando da capitania e encarou ataques dos indígenas contra os
portugueses e engenhos de açúcar. Coordenou o trabalho de centenas de colonos e
escravos. Viveu até 1584.
AS BANDEIRANTES – Duas mulheres chamadas
Ana marcaram o tempo das “Entradas e
Bandeiras”, entre o final do século 16 e início do 17, quando expedições
embrenhavam-se pelo país a fora, com finalidades que iam de exploração do
território brasileiro à busca de riquezas minerais. ANA DE OLIVEIRA, nascida em
uma região da Bahia, hoje Sergipe, foi uma aventureira participante de duas bandeiras, com marido e irmãos. Saiu em
busca da conquista de terras pelo sertão paraibano.
ANA
PAES D´ALTRO, a ANA DE HOLANDA, imagina-se ter nascido na Bahia, em torno de 1605, mas
tendo feito fama em Pernambuco. Abrigou, em seu engenho, mulheres e filhas dos
principais líderes da revolta pernambucana, em agosto de 1645. O local viveu um
dos combates mais violentos da guerra contra os holandeses. Era tida como
mulher poderosa, sedutora e avançado à época do domínio holandês.
MARIA DIAZ FRERRAZ DO AMARAL
foi outra colonizadora e bandeirante famosa. Ficou conhecida como a
“Heroína de Capivari”, por lutar ao lado de homens contra os índios Caiapós. no
interior de Goiás.
Duas índias também escreveram os seus nomes
no rol das mulheres admiráveis do seu tempo: ANA BASTARDA E IGUAÇU. A primeira deixou testamento com a
finalidade de mostrar que era uma mulher livre, no século 17, quando índios e
descendentes eram frequentemente ameaçados em sua liberdade. De sua parte, a
segunda, índia Tamoio, casada com o importante chefe indígena Aimberê,
lutou ao lado dos franceses na disputa pelo domínio das terras da baía de
Guanabara. Mas foi abatida, em janeiro de 1567, quando os portugueses venceram
os invasores.
É, também, daquela
época, a professor potiguar Nísia
Floresta. Lutou por educação de qualidade para as mulheres e escreveu
textos questionando a supremacia masculina. Além de publicar vários livros, é
considerada uma das primeiras feministas brasileiras.
SÉCULO 18 - Tivemos mais “Anas Coragem” na história do Brasil. ANA JOAQUINA
PERPÉTUO viveu quando a mineração era rigorosamente fiscalizada por Portugal,
que cobrava a quinta parte do ouro extraído no país. Habitante de região
mineradora de Minas Gerais, era rica e muito honrada. Quando viúva,
Portugal a expulsou de suas terras, arbitrariamente. De outra parte, a
ex-escrava CHICA DA SILVA encarou
a sociedade colonial branca da região de Diamantina-MG, em defesa de sua
liberdade. Na Bahia, o destaque era ANA SUTIL, dona de engenho açucareiro Foi
das poucas mulheres chamada de “Dona”, distinção hierárquica da sociedade de
sua época. No mesmo século, veio, da tribo cearense dos Jucás a corajosa ANA DE
FARIA, bisavó de Padre Cícero, de Juazeiro do Norte.
SÉCULO 19 - Período da vinda da família
real para o Brasil; da proclamação da Independência; de revoltas; da abolição
da escravatura e da chegada da República, quatro mulheres se destacaram: BÁRBARA PEREIRA DE ALENCAR, pernambucana,
PERNAMBUIANA, mas radicada no cearense Crato, participou da revolução
republicana no Nordeste, em 1817. ANA LINS, mulher valente e líder, envolveu-se
na revolta conhecida como Confederação do Equador, em 1824, sendo um orgulho do
povo alagoano, como também são as baianas. MARIA QUITÉRIA, participante das lutas pela independência de sua
terra, em 1822. Em 1823, aparece a figura da freira JOANA ANGÉLICA (selo), assassinada por um soldado português, ao impedir a
invasão do seu convento. É uma heroína do povo baiano, chamada de “Mártir da
Independência”.
No Ceará, surgiu também, Maria
Tomásia Figueira Lima, abolicionista, nascida em Sobral e participante
da fundação da Sociedade das Cearenses Libertadoras que lutavam pela abolição
da escravatura, em 1822. Do Maranhão, saiu o exemplo de Maria Firmina dos Reis, professora e escritora negra de São Luiz,
considerada a primeira romancista brasileira, autora da obra abolicionista “ÚRSULA”,
publicada em 1859. Enquanto isso, a Bahia mandou para o Rio de janeiro, a Tia Ciata, quituteira de Salvador, que
tornou-se grande referencia da comunidade negra na cidade. A sua casa é tida
como o berço do samba.
Do Rio Grande do Sul, vem a contribuição de
IZABEL DE SOUZA MATOS que, em 1885, requereu e ganhou o alistamento eleitoral,
com base na Lei Saraiva, garantindo o voto a quem tivesse título científico. Chegada
a República, ela tentou fazer valer o seu direito, mas o governo republicano
negou-lhe, considerando o seu pedido “absolutamente improcedente”. A
Constituição de 1891 vetava o voto aos analfabetos, mendigos, soldados e
religiosos, mas não aludia às mulheres.
Berta em foto reproduzida de www.buendia8.blogspot.com |
SÉCULO 20 - Elas acirravam a luta por seus direitos à cidadania. Exigiram votar,
o fim dos regimes autoritários e equiparação ao homem, em vários setores da
vida nacional. A paulista BERTHA LUTZT (foto), bióloga formada na França, e líder
feminista, foi uma das expoentes da época. Uma das criadoras da Federação
Brasileira Pelo Progresso Feminino, liderou grande parte do movimento pelo
direito ao voto na década-1920. Em 1931, participou da elaboração do Código
Eleitoral.
De Minas Gerais, o século 20
teve o exemplo de CAROLINA MARIA DE JESUS, nascida em Sacramento e descendentes de escravos. Também foi escritora,
priorizando a vida da mulher negra e favelada em São Paulo. Fez muito sucesso
com “Quarto de Despejo”. Também,
revelou a admirável LÉLIA GONZALEZ, antropóloga que, na década-1970,
ajudou a fundar o Movimento Negro Unificado, tornando-se uma das referências
nos debates sobre a raça no país. São
Paulo apresentou a paulistana NIETA
CAMPOS DA PAZ lutando, pelas
liberdades democráticas por meio de várias entidades defensoras dos direitos
das mulheres. Por fim, este texto cita a
historiadora ÂNGELA BORBA, integrante
da Ação Popular, fundadora do Partido
dos Trabalhadores (PT) e do grupo Nós Mulheres, no Rio de Janeiro. Encaminhou
políticas públicas para as mulheres e militante feminista.
Se o século passado a mulher
brasileira nem podia votar, no último, ele já pode ver uma sua representante
tornar-se ministro de Estado, a professor Esther Figueiredo Ferraz, e
governadora de Estado, Rosena Sarney.
Muitas atingiram o Congresso Nacional e assembleias legislativas
estaduais. Luta coroada, neste século 21, com a eleição da primeira mulher
presidente da república, Dilma Roussef. No campo esportivo, a mulher passou a
ter direito a quase todas as práticas antes lhe negadas. A brasileira Marta, por
sinal, foi eleita, por cinco vezes, a melhor atleta do futebol mundial. E,
assim, também, passou a pilotar aviões de carreira, dirigir veículos de
comunicação e a se destacar nas ciências médicas, físicas e matemáticas. Enfim,
em todas as áreas da vida brasileira. Viva a mulher!
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