Como lemos no capítulo de ontem, a troca de
favores entre o rádio e a revistas esportiva foi um dos casamentos que deram
mis certo nas décadas passadas. E quem mais se casou foi a Revista do Esporte, que
fez permutas com várias emissoras, não só para divulgar transmissões da turma
da “latinha” nos gramados, tablados, pistas e quadras, entre outros, como,
também, programas humorísticos, com leremos em um outro post.
No rol dos parceiros da semanária do
comendador Anselmo Domingos, trocou-se gentilezas com várias rádios, entre elas
Panamericana-Record, de São Paulo, e as cariocas Nacional; Guanabara, Mauá, Vera Cruz; Mauá; Mayrink Veiga, Tupi e a a Emissora Continental, a única que não usava o nome rádio.
Os anúncios eram sempre idênticos. Por uma
página inteira colocava-se fotos e nomes dos integrantes da equipe, frases
valorativas do trabalho, slogan e, as vezes, nomes de patrocinadores. Em 1969, durante
a penúltima temporada da RE, o recado da estatal Rádio Nacional do Rio de
Janeiro era o mais simples possível, dentro do esquema citado acima. Dispensava
fraseados e preferia dizer que “O Brasil torce com a Nacional”, citando os
patrocinadores Companhia Fiat Lux de Fósforos de Segurança e a também estatal
Petrobras – Petróleo Brasileiro S.A.

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Cozzi fazia transmissões marcantes, inesquecíveis |
Quando colocava o rosto “do vibrante Waldir Amaral” dentro de uma bola, a RE estendia a divulgação à TV Continental (Canal 9), que
prometia “no seu receptor as mais empolgantes partidas de futebol no Brasil ou
no exterior”, avisando que 1959 seria o seu ano, isto é, iria lutar forte
contra a concorrência.
A troca de
gentilezas incluía divulgação, também, do programa “Basquete em Foco”, que Noli
Coutinho (colunista/repórter da RE) apresentava na emissora “100% esportiva e
informativa”, sob patrocínio da aguardente Praianinha que, no entanto, colocava
os seus anúncios mais criativos e alegres na Manchete Esportiva, muito
provavelmente, porque encontrava espaço maior – a RE media 27cm de altura, por
18,5 de largura, enquanto a ME tinha 34,5cm x 25,5cm. É muito provável, também,
que a Alpargata, o Brim Coringa e os
Encerados Locomotiva preferissem, pelo mesmo motivo da maior visibilidade, divulgar as suas jornadas esportiva, pela
Rádio Bandeirantes-SP, na revista
esportiva de Adolph Bloch – ele publicava, também, a magazine Manchete,
semanal, divulgando de tudo.
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Craque na bola, Leônidas, por aqui, não era o principal |
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Telê Santana comentava para este time |
AS PARCERIAS DA RR informam aos pesquisadores quais foram os primeiros futebolistas, de
dentro e de fora dos gramados, que passaram para a “latinha”. Como lemos acima,
a Mauá teve como comentarista Ademar Pimenta, o treinador da Seleção Brasileira
da Copa do Mundo-1938, na França, quando o atacante Leônidas da Silva foi
chamado de “Homem Borracha”, voltou com
o principal artilheiro, marcando 8 gols,
e virou o “Diamante Negro”. O mesmo Leônidas, que tornara-se comentarista esportivo
logo depois de encerrar a carreira, em 1950, e aparece nas parceria do
comendador como comentarista da Rádio Panamericana-Record-SP, falando por 620
kc na primeira, e em 1.000 kc, na segunda, para “A Academia Esportiva do Rádio”,
membro de uma turma, de 1966, que reunia mais Darcy Reys, Braga Junior, Joseval
Peixoto, Claudio Carsughi e Orlando Duarte.
Em seu recado, as emissoras
diziam oferecer ao torcedor brasileiro as “maiores emoções do futebol
bi-campeão (escrevia-se assim) do mundo”, onde quer que ele esteja. E
prosseguiam: “Pela Pan ou pela Record, o futebol é de primeira com a Academia
Esportiva do Rádio sob o comando de
Braga Júnior e Darcy Reis! Faça a prova...”, desafiava. Como era costume
prestigiar mais os chefes de equipes, Leônidas aparecia como terceiro destaque,
afinal Darcy e Braga eram mais craques que ele nesse lance.
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Este anuncio foi colocado em uma revista... |
SEGURAMENTE, poucos sabem que Telê Santana, que foi atacante do Fluminense e treinador da Seleção Brasileira, em duas Copas do Mundo-1982/86, também já chegou na "latinha". Em 1966, permuta da Rádio Tupi com a RR mostrava a sua foto como integrante da "Equipe G-3, sob o comando de Doalcei Camargo com os mellhores locutores e comentaristas do rádio esportivo brasileiro", no caso, Benjamin Wright e Mário Vianna (ambos de arbitragens), Affonso Soares, Waldemar de Barros, Orlando Campos, Wilson |Lucas, José Resende e Roberto Alves. Com eles, garantia o anúncio permutado, "Rádio é tupi, som é Philips".
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... em que o patrocinador teria maior visibilidade. |
SE TODA EMISSORA
se dizia a tal no esporte, era natural que a Rádio Guanabara, pelos seus 1.360
kc, fizesse o mesmo dentro de sua parceria com a RR. Teve estampado por um dos
seus anúncios de 1963, uma foto marcante do jogo em que o escrete canarinho virou
o placar e eliminou a Espanha da Copa do Mundo-1962, no Chile, eslogando:
Futebol é com a Guanabara”. E anunciava as suas “feras” – Doalcei Carmago (narrador
e estrela maior do bloco), José Dias (criador da primeira agência noticiosa
esportiva brasileira, a Sport Press”), João Saldanha (futuro treinador do selecionado
nacional, em 1969), Mário Vianna (ex-árbitro e participante da Copa do Mundo-1954,
na Suíça), Vitorino Vieira, Geraldo Serrano, Otávio Neme, Sérgio Paiva, Halmalo
Silva, Fernando Carlos, Arnaldo Moreira, Alfredo Raimundo, Luís Bayer, Rujany
Martins, Moisés Maciel e Paulo César Tenius, que iam ao ar por “gentileza dos
revendedores Firestone (pneus) e Cizano (bebida).
Como lemos, muitos anúncios veiculados nas
revistas esportivas eram o que hoje considera-se politicamente incorretos,
colocados onde são incompatíveis com o meio, o esportivo. 
No tempo em que Dodô jogava no Andaraí, nossa vida era mais fácil de viver, assistência era passe pro gol, o ataque era a melhor defesa.. coisas como "jogar com o regulamento embaixo do braço", "falta inteligente", "bola parada" não tinham tanta importância. A gente jogava e deixava jogar. O futebol não era o que é hoje. Como dizia o Nelson Rodrigues: saúde de vaca premiada".
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