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O nº 1 foi muito animador |
Em 2008, o diário Lance e o site Lancenet estavam
entre as opções esportivas mais consumidas pelo torcedor. Já eram os temos do “tempo
real” e o comandante Walter de Matos Júnior via o avanço tecnológico e novas
mídias oferecendo uma avalanche de informações aos leitores. Então, encarou mais um
jogo, por entender que faltava por aqui um veículo que “acolhesse material
jornalístico mais denso, profundo...e abrisse espaço para outros temas (além do
futebol) de interesse masculino”.
Era outubro daquele 2008, quando a revista
Fut! chegou às bancas, com 100 páginas coloridas e a crença de um time de
anunciante (11) de que abria-se o caminho para mais um grande sucesso nas paradas. O
estúdio Cases i Associados, da catalã Barcelona, ficou encarregado de traçar o
projeto gráfico e, para a bola rolar redondinha, Andrés Buzone foi escalado de meia-armador
(coordenador) e Edson Rossi de chefe da equipe (editor) que entraria em campo.
Fut! rolou a bola com visual mais alegre do
que as revistas do seu tempo que tentaram viver na faixa do esporte, como
Trivela, Invictus e a futura ESPN. Fazia jogo duro com Placar, que já tinha
mais de 30 temporadas na cancha. Com a vantagem de usar intertítulos
(descansadores visuais) em matérias longas, o que as outras, as vezes, ficavam
devendo. Até as tradicionais entrevistas do formato pergunta e resposta saíram
mais leves, graças ao uso de um número maior de fotos e de boxes com a fichas
dos entrevistados.
Foi uma espécie de segundo tempo de
Walter Mattos Júnior no prélio das revistas esportivas. Antes, ele tirara Lance
A + de campo, por sinal, publicação que fazia-se lembrada em muitas páginas da irmã
que chegava. Inclusive emprestou o gen da divertida colunista Mary Fut, prima
distante da “Candinha” da Revista do Esporte das décadas 1950 e 1960, e convocou
as “Evas” ao bate-bate das perguntas e respostas (esportivas, é claro), por
Mulher& Fut – no primeiro número, Luciana Vendramini, a mais famosa das “paquitas”
(dançarinas do programa de Xuxa na TV Globo), respondeu a 11 indagações de Adriano
del Negro, embelezando a página uniformizada de atleta do escrete canarinho,
fotografado por Samantha Dalsoglio.
Fut! sequenciou uma tendência inevitável para
qualquer revista esportiva da hora, de há muito rolando no placar do
consumidor, principalmente o adolescente, concatenador de boas tabelinhas com
os caixas registradoes das lojas. Além de dicas de comportamento, oferecia-lhes
sugestões sobre higiene pessoal, musicas, livros, filmes, games, bebidas, modas
e outros prazeres desses tempos globalizados e ultramodernos. Com certeza, o time
de anunciantes do número de estreia não reclamou – Petrobras, Nestlé, Caixa
Econômica Federal, Avanti Rio (loja de automóveis), Fanáticos por Futebol
(venda de camisas), Antissépitico Granado, Um 2 (patrocinadora esportiva),
Unisuam (cursos de graduação e pós), Fatalsurf, Topper, Sky e Premier Futebol Clube (canais
televisivos a cabo) e TV Bandeirantes. Como a revista contabilizou 11 anunciantes,
possivelmente, dois desses três últimos ciados podem ter sido permutas,
trocas de gentileza.
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Nem precisa ser surfista. Realmente, muito fatal |
Um pecadinho foi cometido pelo Fut! Embora
citasse pelo expediente os nomes de Luciano de Araújo e de Fernanda Rossi como
responsáveis pela arte, e de Cláudia Roberto pela infografia, esqueceu do homem
do bico do lápis, o chargista. Quem pesquisar, por exemplo, a semanária Globo Sportivo,
da década-1940, encontrará divertidíssimas charges e histórias em quadrinhos,
um show de desenhos, também do argentino Molas, o criador de vários “representantes”
de times cariocas. Uma década depois, a Manchete Esportiva tinha em suas
páginas um outro grande nome da história da charge esportiva brasileira, Otelo
Caçador, que tornou-se uma das maiores atrações do caderno de esportes do
jornal O Globo da década-1960, escrevendo e desenhando a coluna Penalty, de
página inteira. Adiante, a Revista do Esporte também convocou mais um desses
grandes astros, Luzardo. Em São Paulo, A Gazeta Esportiva não deixou de entrar
no jogo, bem como Placar, por onde desfilaram craques do grafite, como Henfil,
só para citar um só.
Como todas as revistas, Fut! usava as suas páginas
para divulgar as suas virtudes (anúncios da casa) e abria grande espaço para o
futebol internacional que as TVs a cabo ofereciam, de montão, aos assinantes. No entanto, os seus contatos
publicitários não conseguiram comover muitos anunciantes para a quinta edição,
em abril de 2009. Apenas Rexona, Granado e Heineken (cerveja) “compareceram ao recinto”,
isto é, ao cofre. Com certeza, a conta da produção mensal ficou para ser paga
pelo bem vendido diário, feito em papel jornal, enquanto o outro era impresso
no nada barato couchê.
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Marta, única garota da capa |
A edição 10, trazendo
novidades como a colunista blogueira Fanni Duarte e palavras cruzadas – muito
usadas pela Revistas do Esporte e A Gazeta
Esportiva – até melhorou o quadro – Banco Itaú, Cachaça Pirassununga, Rexona,
Chevrolet, Honda, APAE (entidade com fins sociais) e Fiat prestigiaram, mas
sete peças publicitárias eram pouco para o custo de um projeto daqueles, que
seguia com 100 páginas coloridas. Não seria a hora de rever o projeto?
Certamente, não rolou, pois Fut! Jamais mudou. O número 20 manteve a tendência
dos poucos recados –Itaú, Garnier, Rexona e Granado (higiene pessoal),
Pirassununga (pinga), Chevrolete Fiat –, bem como o 30 – Alog (hosting gerenciado), Granado e Nívea
(higiene pessoal). Já o 40 – Netshoes (produtos esportivos) e Granado –, contando
com infografias de Alessandro Meiguins e Glauco Diógenes, e humor desenhado e computadorizado
por Mário Alberto – colocou o projeto na marca do pênalti.
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Nº 41,o último |
Pelo seu último número, o
41, de abril de 2012, Fut! fez um ensaio com 11 fotos sexy da modelo Emily
Nascimento – tardiamente! Até então, os “mulherões aviões” só pintaram bem comportadamente
pela sessão Mulher & Fut! Apareciam em outras páginas, mas não
escancaravam tanto a estampa como fazia Placar, que as mostrava até com os seis
de fora, para “gáudio da galera”, como deveria ter dito o filósofo de arquibancada.
Na capa, só a superestrela Marta.
Fut! saiu de campo com apenas dois anúncios – material esportivo
da Nike vendido pela Netshoes e o talco antisséptico Phebo. Assim não dava. Desse jeito, o “Tio Walter” iria terminar pegando uma violinha e um chapéu, e
ficando ali na equina cantando pra ver se arrumava uma graninha pra comprar o jornal no dia seguinte.
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