Os poetas escrevem que “Garrincha saíu desta vida para viver na história”. Exatamente! No 30 de janeiro de 1983, brincaram os humoristas, ele chegou em uma nova dimensão e já foi convocado, por São Pedro, lhe dizendo: “Vamo qui vamo, Mané! A seleção do Céu está perdendo, por 2 x 0, do time do inferno. Vá lá, entorte os capetas e vire o placar”, que Deus tá na torcida!"
Aqui na terra, quis o destino eu Garrincha encarnasse o papel do “Demônio ds Pernas Tortas”, pela última vez, exatamente, pelo Natal de 1982, quando vestiu a camisa de um time amador chamado Londrina, que nem existe mais. O relógio marcava 15h30, no Estádio Adonir Guimarães, em Planaltina. O árbitro Eano Carmo Correa, que iria apitar a pugna, aproximou-se dele e disse-lhe: “Antes de mais nada, quero agradecer-lhe por estar vivo”. Mané não entendeu nada. Eano, então, relembrou-lhe: “No tempo em que eu era do Departamento Autônomo da Federação Carioca de Futebol, fui apitar um jogo em sua terra, Raiz da Serra. De repente, um cara resolveu me desmoralizar, arrancando o apito da minha boca, me chamando de ladrão. Você foi até ele, passou-lhe um carão e o obrigou a devolver o apito e a me pedir desculpas. Só assim saí vivo do campo”, contou.
Instantes depois, naquele 25 de dezembro, o Mané partia pra cima do seu último “João”, como ele chamava os marcadores, dos quais nunca sabia do nome. O cara da vez era Marcelo, isto é , Marcelino Teixeira de Carvalho Branco, que havia combinado, com Manoel Esperidião Filho, o Manelzinho, promotor do jogo, não dificultar a marcação, para a torcida vibrar com o velho Garrincha, que receberia marcação folgada. E, já que sria assim, no primeiro lance, o Mané, malandro, dominou a bola, partiu pra cima do seu último “João”, gingou, a torcida gostou, ele passou e cruzou, não acertando o alvo para a galera gritar “uuuuuhhh!”.
Aos 49 de idade, sem se cuidar, com problemas com o alcoolismo, Garrincha não teria muito o que mostrar. Mesmo assim, colocou para trabalhar o goleiro Paulo Victor, do Fluminense e da Seleção Brasileira, que estava em férias por aqui e foi para o gol do time da Associação de Garantia ao Atleta Profissional do DF. “Mané chutou duas vezes ao meu gol. Da primeira, cobrou uma falta, da entrada da área, e me obrigando a ceder escanteio, na base da experiência; da segunda, passou por dois e cruzou, para eu ceder novo escanteio”, contou o ex-goleiro Paulo Victor, quie havia voltado a residir em Brasília.
Garrincha não teve fôlego para jogar durante todo o segundo tempo. Aos 15 minutos, foi substituído por Valdemar Pereira da Silva, um goiano que ficou famoso em sua terra, São Domingos, por causa daquilo. Como o placar foi o que importou, 1 x 0 para o time da casa, o Mané saiu de campo aplaudido, posando para fotos e distribuindo autógrafos. Na véspera da partida, como se tivesse lido o seu futuro, dissera a Manelzinho, de quem eram amigo, desde 1960, quando o organizador do amistoso jogava pelo América-RJ. “Talvez,esta seja a minha última partida”- e foi
Antes do jog daquele Natal de 1982, Garrincha havia jogado só duas vezes no DF. Nos amistosos Botafogo 6 x 0 Clube de Regatas Guará, em 17 de setembro de 1961, quando marcou um gol, e Flamengo 3 x 1 Seleção Brasiliense, em 3 de março de 1969. Como botafoguense, a patota era: Manga (Adalberto), Cacá, Zé Maria, Chicão e Nilton Santos (Rildo); Garrincha, Amoroso, Amarildo (Aírton) e Zagallo. Já o seu time flamenguista teve: Dominguez, Marcos, Onça, manicera e Paulo Henrique; Rodrigues Neto e Liminha: Garrincha (Cardosinho), Dionísio (Zezinho), João Danel e Arilson (Reyes). Na última patota do Mané, todos os atletas do Londrina jogaram: Luis Ribeiro, Joel, Paulo Ferro, Vicente e Tonho
Esteves; Israel, Tião e Amauri; Garrincha, (Valdmar),Tião Mafra, Paulo Lira, Tião Jorge, Apolinário, Pires, Geraldo Martins e Cirilo.
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