Maria
Lúcia Marquesine do Amaral, atriz e modelo fotográfico que usava o “nome
artístico” Sabrina, conheceu e não resistiu aos encantos de um sujeito que
sempre tivera fascínio misterioso sobre as mulheres. Adorou os cuidados lhe
dispensados. Uma dia, porém, o sujeito mudou de modos. Durante uma discussão,
agrediu-lhe, com palavrões, agarrou-lhe, pelos ombros, sacudiu-lhe,
violentamente, jogou-lhe sobre uma poltrona e ameaçou quebrar-lhe todos os
ossos. Ela conseguiu escapar de sua fúria e foi a uma delegacia de polícia
registrar queixa.
Sabrina era atriz e modelo fotográfico |
Sabrina namorava “Rodolfo” há poucos meses. Não
se lembrava, mas ele dizia tê-la conhecido, onze anos antes, quando ela era
secretária de um dos seus advogados. Não dava pra reconhecer Ronaldo, pois o
“Rodolfo” este era mais gordo, barrigudinho, tinha penteado diferente e não
usava os óculos escuros “de playboy” que ficaram famosos na época do crime – as
novas lentes, contra miopia, eram mais claras e tinham graus aumentados.
Devido à tranquilidade que seu namorado
aparentava, Sabrina não ligou muito para o fato de ele ter uma arma. Ao indagar-lhe
do motivo, ele contou-lhe ter dissuadido um amigo (general), de matar um rival
(major), por causa de uma mulher. A recebera, de presente, pela sua atitude. Como o major
terminou assassinado, por um tiro no peito, Sabrina ficou apavorada, intuiu que
o seu amor inventara aquela história, mas ficou na dela, quietinha.
MEMÓRIA
- Condenado a 37 anos de prisão, Ronaldo
apelou para novo julgamento e, em março de 1959, o advogado Romeiro Neto
conseguiu inocentá-lo do crime de homicídio, ficando condenado só por atentado
violento ao puder e tentativa de estupro.
Após cinco temporadas de bom comportamento
no xadrez, o juiz João Claudino, da 20ª
Vara de Execuções Criminais do
Estado da Guanabara, concedeu-lhe liberdade condicional. Mas deveria arrumar
emprego – passou um tempo comprando e vendendo automóveis importados – e
comprová-lo à Justiça, a cada 60 dias, bem como comunicar eventuais mudanças de
endereço residencial, não frequentar locais atentatórios à moral, aos bons
costumes e a ordem pública, e não usar armas de fogo. No entanto, só cumpriu o
combinado por pouco tempo – voltou às manchetes, visitando à cidade, a capixaba
Vitória, sem avisar às autoridades cariocas.
Tempos depois, houve ainda um terceiro julgamento, por
homicídio simples e tentativa de estupro, e condenação a seis anos de reclusão.
O promotor Pedro Henrique Miranda recorreu e aumentou a pena, para oito anos e
nove meses. Ronaldo cumpriu seu “mandato de cadeia” e voltou à liberdade.
O falso "Rodolfo" era o real Ronaldo |
Filho de família tradicional do Espírto
Santo, ao sair da prisão, Ronaldo passou a viver em casa de tios, no Rio de
Janeiro, sem gastar nada. A mesada – NCr$ 650 novos cruzeiros – lhe enviada
pelo pai, era gasta em roupas, bebidas alcoólicas e jogos de cartas.
Quando
Sabrina registrou queixa e “Rodolfo” foi preso, em agosto de 1969, a polícia
entrou em sua valise uma pistola e documentos falsos. A nova prisão, além de
anotar porte ilegal de armas, incluiu ligação com grupos terroristas, chamados,
então, por subversivos. Engrossava um currículo que, a partir dos seus 19 anos
de idade, quando chegou ao Rio de Janeiro, listava, entre outros itens, ser devasso,
integrante da juventude transviada de Copacabana, expulsão de colégio, prisão
durante o serviço militar e acusação por roubos – Ronaldo voltava a atacar.
A última notícia sobre ele dizia ter-se tornado empresário, em sua terra,
casado-se e ser pai de uma menina.
FOTOS REPRODUZIDAS DA ANTIGA REVISTA 'FATOS & FOTOS'
FOTOS REPRODUZIDAS DA ANTIGA REVISTA 'FATOS & FOTOS'
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