Discurso firme e de cunho próprio |
A Brasília dos inícios da década-1960 hospedava dois presidentes. E moravam na mesma
casa. Um comandava o país, João Goulart. O outro, isto é, a outra, a sua
parceira, Maria Tereza, fora eleita para
comandar a Legião Brasileira de Assistência-LBA - por unanimidade.
Uma das primeiras atitudes dela ao tomar posse
foi convocar as mulheres à formação de um grupo voluntário para atacar obras
sociais. Assumiu o cargo fazendo um discurso firme e objetivo, prometendo
dirigir a agência estatal livre de influências personalistas e de interesses
estranhos aos seus objetivos. Foi um recado de próprio punho, sem “ghost
righter”. Por ele, elogiou uma sua antecessora, a conterrânea gaúcha Darci,
mulher do presidente Getúlio Vargas, a quem considerou ter sido um exemplo de
desprendimento e de amor ao próximo.
Com Maria Tereza, Brasília hospedava uma
primeira dama de bom nível cultural. Escrevia poesias,e gostava da músicas dos
mestres Mozart, Brahms e Lizst e das boas composições da música popular
brasileira e da italiana. Elegante, ela não dispensava ser vestida pelos
melhores costureiros do Rio de Janeiro.
A pobreza vista de perto |
Quem quisesse desagradar a primeira dama
brasileira era chamar o seu marido de comunista. “Se fosse comunista, eu não
teria me casado com ele”, reagia. À revista “O Cruzeiro”, disse:
“Só quem não
conhece a família Goulart pode chama-lo (o presidente) de comunista. Ele estudou
em colégio de padre e as minhas cunhadas Neuza, Maria, Sila, Landa e Fia foram
educadas em colégios de freiras. A minha sogra, a Dona Tinoca, vai à missa,
diariamente. Colocar-se ao lado de interesses dos trabalhadores não significa tendências
comunistas. É, sim, espírito cristão e
solidariedade ao próximo”.
Maria Tereza só discordava de um detalhe da
vida do presidente: seus horários de refeição, que poderiam ter o almoço às 17h
e a janta às 03 da madrugada.
Em seu
segundo dia como presidente da LBA, Maria Tereza visitou uma favela do Rio de
Janeiro e ficou impressionada com a miséria vista. Foi cercada por numerosos
grupos de crianças lhe estendendo as mãos e pedindo uma esmola. Distribuiu tudo
o que tinha dentro de sua bolsa e que não era dinheiro público. À imprensa,
declarou: “Chocante! Mas não é com esmola que vamos resolver este problema” –
não teve tempo para resolver.
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