Vasco

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domingo, 16 de setembro de 2018

131 - DOMINGO É DIA DE MULHER BONITA - A LOBA QUE VALIA DUAS MERRECAS

    O machismo brasileiro costuma dizer que onde há confusão estará presente a mulher. E cita o bíblico caso Eva, que foi no papo de uma cobra, enganou Adão e deu no que deu. 
 Rolo não menos do que o rolado no paraíso se deu quando o Tesouro Nacional lançou a prmeira cédula brasileira contendo ilustração de uma Eva. Meu cháplia, que rolo. O seguinte foi o seguinte: o ministro da Fazenda, o solteirão  Joaquim Duarte Murtinho (1848-1911), um dos casras mais ricos e influentes da virada do século 19 para o 20, convcou o jornalista Artur Guarná, de “O Paiz” para ajuda-lo a achar um belo rosto para estampar a futura cédula de dois mil-réis, que substituiria a que trazia a efígie de Don Pedro II. Durante o Império, circularam 23 cédulas encomendadas pelo Tesouro Nacional ao American Bank Note Company, em Nova York, tendo as primeiras sido emitidas em 1869.
 Convocado para a sacanagem nacional monetária, Guaraná deu no pé e achou, no carioca Estúdio Fotográfico Guimarães, a foto de uma jovem conhecida por Sinhazinha nos círculos literários e jornalistas de São Paulo. A tal escondia o nome, colaborava com poetas e jornais e foi apresentada ao Murtinho. Tempinho depois, rumou à Europa, tendo, na austríaca Viena, posado para o pintor Conrad Kiesel (1846-1921), que fez-lhe vários retratos para a futura cédula a ser gravada pelo japonês Sukeichi Oyama (1858-1922) e confeccionada, nos Estados Unidos, pelo American Bank Note Company.
A partir do trabalho de Kiesel, o “japinha” pegou a que o austríaco nominou por “Saudade”, mandou ver a sua gravura e chamou-a por “Zella”, em 1893. E a “gataça” integrou o nono lançamento da “dinheirama brasuca”. Pela primeira fez, a mulher passou a andar no bolso dos homens brasileiros. E fez rolar um tremendo rebu na Câmara dos Deputados, durante a sessão de 6 de setembro de 1900. 
Joaquim Murtinho reproduzido
do site do Ministério da Fazemda
O seguinte foi o seguinte: o representante sergipano Fausto Cardoso acusou o ministro da Fazenda de reproduzir cédula com a figura de uma meretriz norte-americana. Depois, seria  da Prates, uma das “meré’ mais conhecidas do Rio de Janeiro. A tal, no entanto, terminou sendo dada por Laurinda Santos Lobo, tida por amante de Murtinho. Até o mau caráter do Ruy Barbosa quis “aparecer”, dizendo “ser autêntico o ignóbil corpo de delito" e “não haver nada na efígie daquela mulher que não nomeasse uma rainha do mundo obsceno”.
Passadas 18 temporadas daquele furdunço, a cabeça que seria da “loba do ministro” pintou no reverso da cédula de 100 mil-réis - 11ª emissão -, quando os ministros da Fazenda  foram David Campista e Leopoldo de Bulhões. Enquanto isso, se a Lobo era mordida do Murtinho, isso eles nunca confessaram.
Mas o Brasil não fora o primeiro a dar uma mordidinha nela. Antes, como “Zella”, a gravura fora usada em cédulas de Canadá, Chile e México, entre 1897 e 1898, pois era comum os impressores usarem a mesma gravura em várias encomendas - pior para a “loba”, que não faturou direitos de imagem (que ainda não existiam).  


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