Em 1973, a Seleção Brasileira armou um giro pela África e a Europa, que seria preparativo para a Copa do Mundo-1974. Surpreendentemente, o treinador Mário Jorge Lobo Zagallo não convocou o goleiro Félix, o lateral-direito/capitão Carlos Alberto Torres e os zagueiros Brito e Fontana, que haviam participado da conquista do tri, em 1970, no México. Para as duas vagas na zaga, ele chamou Chiquinho Pastor, do Flamengo, e Moisés, do Vasco da Gama, especialistas em mandar atacantes pelos ares.
Ninguém, entendeu a tal
escolha do Lobo, sobretudo porque o Chiquinho jamais conseguira ser titular no
Botafogo, só vindo a ser efetivado no time do Flamengo quando ele, Zagallo,
passou a comandar a rapaziada rubro-negra. Suas explicações: ‘Ele (Chiquinho
Pastor) é o rei do ar, ninguém lhe ganha bola pelo alto, além de ser rápido nos
lances”.
Beleza! Chiquinho estreou no
amistoso Brasil 5 x 0 Bolívia (27.05.1973), no Maracanã, e depois atuou em
Brasil 2 x 0 Argélia (03.06.1973), em Argel. A seguir, Zagallo resolveu
experimentar Luís Pereira na posição e nunca mais o tirou do time. Chiquinho
achou tudo “ordem do Altíssimo” e foi
esquecido pelo seu convocador que, mais tarde, o trocou por Marinho Peres, do
Santos e que falava inglês, um “must”,
para o Lobo.
No escrete canarinho, entre Leão e Piazza
Rola a bola! Em 1975, após
ter voltado para o Botafogo, Chiquinho resolveu abandonar o futebol e tornar-se
o reverendo Francisco de Jesus Fernandes, da Igreja Messiânica do Rio de
Janeiro. Lá pelas tantas, “alguns muitos tempos depois”, eu estava de
plantão, em um sábado, na reportagem da
Rádio Nacional de Brasília, emissora
do Governo que tinha poucas pautas nos finais de semana, porque ainda não havia
Internet e o pessoal do Executivo não ficava na capital do país, viajava para
seus Estados. Já eram umas 15 horas e eu ainda não havia feito nada. Ainda
teria que ficar até as 18, sentado em um sofá. Então, telefonei para o
Marcelo Agner, no Jornal de Brasília,
onde eu trabalhava, também, pedindo uma pauta, “pelo amor de Deus!”, pois não aguentava mais ficar vendo o dia
passar, olhando para as paredes. Ele respondeu que a coisa “estava feia”, também, por lá e que única
pauta da tarde daquele sabadão seria cobrir a “Passeata pela Paz”, da Igreja Messiânica, para ter alguma foto na
capa do caderno da Editoria de Cidade.
Na zaga do Fla (terceiro à direita), era o cara, para Zagallo
Pronto! Era o que eu precisava
para não ficar mais parado. Me mandei para a Esplanada do Ministérios, em torno
da qual ocorreria a caminhada, e fui procurar o assessor de imprensa dos
messiânicos. Me apresentaram o Reverendo Francisco de Jesus, que era o antigo
Chiquinho Pastor. Depois dos papos para a matéria que eu faria para os
noticiário das 18 horas e os programas da noite na rádio, comecei a falar de
futebol. Lembrei-lhe de uma pregada que ele havia dado no atacante Dé Aranha, do Vasco da Gama, tirando-o de
campo, pelo restante da partida.
O reverendo e ex-zagueiro
Chiquinho justiricou-se dizendo que, na época, ele “era um jovem indefinido e
não via o mundo com sentimentos de responsabilidade”. Para evitar que
atacantes marcassem gols, ele “agia em defesa da felicidade de uma grande massa
(a torcida flamenguista)”, pois entendia que “o importante era a felicidade
coletiva, não a individual”.
Perguntei, depois, ao Chiquinho
Pastor se ele não havia ficado com pena do Dé Aranha, após a tremendo porradaço. Respondeu que, no dia
seguinte ao clássico, havia ido à igreja onde ele era ministro e rezado pelo
adversário e pela humanidade.
Pelo final do papo, o Chiquinho
pastor ofereceu-me uma pomba branca para eu soltá-la pelos inícios da
caminhada. E entregou-me um cartão dele, dizendo que estaria esperando-me, em
sua igreja, quando eu fosse ao Rio de Janeiro – até hoje, nunca compareci ao
recinto, e nem pretendo comparecer, pois, desde 2010, o convidante está no
Altíssimo – perdoado pelas porradas mandadas nos atacantes que o
encararam nas áreas fatais do Botafogo, do Flamengo e da Seleção Brasileira de Zagallo.
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