Vasco

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domingo, 20 de outubro de 2013

ANIVERASARIANTE –- FRIAÇA

 Albino Cardoso Friaça foi o autor do gol brasileiro na final da Copa do Mundo-1950, durante os desastrosos 1 x 2 de 16 de julho de 1950, no Maracanã, ante o Uruguai. Encerrada a maior tragédia nacional, o carinha ficou transtornado. Ele já era jogador do São Paulo, mas foi parar em São Januário. Não sabe como e nem porquê. “Não consigo atinar com quem me levou, ou como fui parar por lá. Meu carro ficou no Vasco, minhas coisas também. É um mistério que não consigo compreender”, contou à “Manchete Esportiva” Nº 157 de 22 de novembro de 1958.
Friaça tinha em Jair Rosa Pinto o seu protótipo de atleta profissional. “Ao Jair devo bastante do que sou. Procurei sempre guiar-me por ele, e ser como ele foi”, revelou ele, para quem esta seria a Seleção Brasileira de todos os tempos: Barbosa, Augusto e Domingos da Guia; Zito, Danilo Alvim e Nilton Santos; Tesourinha, Zizinho, Ademir Menezes Jair Rosa Pinto e Carrero
PELADEIRO - Friaça rolava a sua bolinha no futebol amador de Carangola, em Minas Gerais, sem sonhos nada mirabolantes. Como em toda cidade de interior, a vida corria tranquila para seus munícipes, em 1942, sem nenhum prenúncio de grandiosas novidades. Até 1943 chegar. Naquele ano, correu a notícia pela pacata cidade: o Vasco da Gama queria levar o melhor atacante da terra. E levou.
Friaça desembarcou em São Januário e mostrou que sabia muito mesmo daquele negócios de bola no pé . E na rede. Comprovou o que dele se falava. Tanto que o São Paulo, ao precisar de um sujeito que colocasse a pelota pra dentro, apresentou um checão polpudo aos cartolas da Colina e o carregaram, em 1949. Friaça, porém, era um vascaíno. Dois anos depois estava de volta. Ficou até 1952, quando foi emprestado a um outro time com uma camisa quase igual, a Ponte Preta, de Campinas. Passou três anos servindo à Macaca, até mudar de lado, o do maior rival dela, o Guarani.
Como vascaíno, Friaça serviu à Seleção Brasileira no Sul-Americano de 1947 e na Copa Rio Branco de 1948. Em 1949/50, vestiu a farda do selecionado paulista. De 1950, garantia: “Se, naquela época, eu estivesse melhor de finanças, se tivesse alguma coisa firme... teria deixado de jogar. Nunca mais entraria num campo de futebol”.
ÚLTIMA ENTREVISTAS - Foram 191 jogos e 106 gols com a camisa do Vasco. Porque tanto amor ao Vasco? "Porque é o meu time". Respondeu-me Friaça,  da última vez em que falou com um jornalista. Foi em 1º de julho de 2007, em sua casa de Porciúncula-RJ. Nascido naquela cidade, em 20 de outubro de 1924, Friaça viveu 84 anos, casou-se com Maria Helena e gerou os filhos Ronaldo, Rogério e Maria Inês.
Se dependesse da vontade dos pais fazendeiros – Albino Ferreira Cardoso e Ignez Friaça Cardoso – o garoto Albino teria sido médico, advogado ou engenheiro. Só que, o que ele queria mesmo era chutar uma bola, fosse de meia, bexiga de boi, ou até uma laranja. Matava aulas pra jogar. Não perdia os treinos do Fluminense, o melhor time de sua terra, no qual ingressou, como juvenil. Aos 10 anos, parrudinho,já jogava entre os meninos maiores.
E já que o garoto Albino não queria ser doutor, mas jogador de futebol, seus pais o internaram no ginásio de Carangola-MG. Chutaram pra fora, pois a escola tinha o seu time. Pouco depois, ele já vestia a camisa do Ipiranga carangolense, time no qual o Vasco o descobriu. Mas, como era época de provas, ele só pôde ir para São Januário após os exames escolares, tendo ele sido contratado, após um mês de testes, na categoria "não-amador", isso, em 1943. Jogou uma vez pelo quadro profissional.
Em 1945, Friaça esteve emprestado ao Botafogo, para uma excursão ao Chile. Tinha 21 anos e os alvinegros tentaram aliciá-lo. Preferiu, porém, profissionalizar-se pelo Vasco. .
CENTER-FORWARD - Foi jogando pela ponta-direita, na Copa do Mundo de 1950 que Friaça entrou para o imaginário nacional. Pelo "scratch nacional", entre 1948 e 50, fez 12 jogos um gol, este a um minuto do segundo tempo, na final, contra os uruguaios, que viraram o placar, para 2 x 1, no dia 16 de julho, o dia do "Maracanazo", como apelidaram os uruguaios. "E nem viu nada, depois, com tanta gente pulando em cima dele, pra comemorar", contam velhos amigos, como os artistas Ricardi de Paula (plástico) e Eponina Sanches (artesã), o mestre jongueiro Joaquim Raimundo, e os pediatras Leonardo Medeiros e Carlos Porto, nos papos com visitantes, no principal ponto de encontro de Porciúncula, a Praça Antônio Amado.
"Seu Friaça" era um eterno ídolo pra sua gente, nome de estádio, garoto-propaganda da terra, divulgado até em caixas de fósforos. Quando o visitei, Ronaldo me alertou de que seu pai sofrera um início de derrame, em 2005. Logo, poderia "variar" durante a conversa. E aconteceu, quando lhe indaguei sobre o lance do seu gol contra a Celeste. Por aquele tempo, pelas manhãs, ele fazia fisioterapia e voltava pra casa, cansado, para se esticar em uma cadeira-cama. Foi ao lado dela que conversamos, auxiliados pela sua mulher.
Com a ajuda dos filhos, Dona Helena, aos 76 anos, gerenciava três lojas de materiais de construção, que a família Friaça mantinha em Porciúncula, Itaperuna e Campos. Segundo ela, o ex-atacante vascaíno começou a se debilitar, a partir de 1990,quando perdera o filho Ricardo, aos 33 anos, durante um acidente de voo livre.
Nos momentos de lucidez, com voz forte, como era seu chute, Friaça fazia questão de ressaltar que gostava de ser "center-forward", o camisa 9 do passado, o homem-gol, como fora na sua primeira grande disputa, o Torneio do Atlântico, logo após se profissionalizar.
Em 1947, ele exibiu-se na Europa, quando o Vasco foi à Lisboa, participar dos jogos comemorativos da centenária capital portuguesa. No entanto, foi em 1948, durante o Tornei dos Campeões Sul-Americanos, no Chile, que veio a sua consagração. Voltou campeão, marcando quatro gols em seis jogos – contra Nacional (URU); Municipal (PER) e Colo Colo (CHI). Jogou ainda, contra Litoral (BOL), Emelec (EQU) e River Plate (ARG). Aquilo não apagava em sua memória.
PIPOCAS NO FLAMENGO - O prestígio dos gols e do título no Chile valeram ao rápido atacante vascaíno, que encantara o técnico Flávio Costa, a convocação para a Seleção Brasileira que disputou, logo em seguida, a Copa Rio Branco-1948, no Uruguai, que ficou com o título, pior causa de 1 x 1 e 4 x 1. Friaça atuou pela meia-direita, sem ter, do seu lado, Ademir Menezes e Zizinho, os principais jogadores brasileiros, que estavam machucados. Pior, porém, acontecera antes. Contundira-se, num jogo, contra o América, ficando três meses em tratamento. Mas, quando recuperou-se, mandou duas "pipocas" nas redes do Flamengo, dentro da Gávea, nos 5 x 2 de 30 de novembro de 1947, com mais dois gols de Maneca e um de Lelé.
Quem chegar no quiosque da praça central de Porciúncula e puxar papo sobre futebol, ouvirá, sempre, os amigos de Friaça contarem que o conterrâneo marcou dez gols em dez jogos, durante uma excursão do Vasco, ao México. No linguajar antigo deles, o ex-atleta vascaíno fora "um admirável dominador da pelota, com chute estudado, matemático, de efeito retardado, sempre surpreendendo a cidadela rival".
DOIS AMORES - Em março de 1949, o Vasco negociou Friaça, como São Paulo. Foi quando ele formou um ataque fantástico, com Ponce de Leon, Leônidas da Silva, Remo e Teixeirinha. Foi campeão paulista e artilheiro, com 24 gols. Dois anos depois já estava de volta à Colina. "Amor como aquele, só igual ao que tem pela Dona Helena", brincava Rosa, a empregada. "Ficamos noivos em 1948, relembrou Maria Helena. "Seu Friaça disse que gostava dela, desde 1936", entregava a empregada.
O amor por Maria Helena foi eterno. Já o casamento com o Vasco terminou em 1957, quando Friaça voltou ao futebol paulista, em final de carreira, para defender o Guarani, de Campinas, do qual foi, também, treinador. No entanto, o que valia mesmo para ele eram fatos como ter marcado o gol da vitória do Vasco, sobre o Madureira (2 x 1), fora de casa, na última rodada do Campeonato Carioca de 1947, garantindo o título, invicto. E ter sido passageiro do "Expresso da Vitória", a máquina cruzmaltina, da década-40, "que não tinha adversários", mandando lenha, com seu poder de fogo municiado por Lelé, Friaça, Maneca, Ademir, Ipojucan e Chico.
A CARREIRA - 1943 a 1949 – Vasco da Gama; 1949 a 1950 - São Paulo; 1950 – Ponte Preta; 1951 a 1952 – Vasco da Gama; 1953 - Ponte Preta; 1953 a 1954 - Vasco da Gama; 1957 a 1958 – Guarani de Campinas.
TÍTULOS CONQUISTADOS PELO VASCO:- 1945 - Campeonato Carioca; 1946 - Torneio Relâmpago; 1946 - Torneio Municipal; 1947 - Torneio Municipal; 1947 - Campeonato Carioca; 1948 - Campeonato Sul-Americano de Clubes.
TÍTULOS PELA SELEÇAO BRASIELIRA: 1947 - Copa Rio Branco; 1950 - Copa Rio Branco; 1950 - Taça Oswaldo Cruz; 1952 - Campeonato Pan-Americano.
PRIMEIRA SELEÇÃO BRASILEIRA, EM 1948: Barbosa (Luis Borracha); Augusto, Nilton (Nena) e Rui; Danilo, Noronha; Cláudio, Friaça (Carlyle), Heleno de Freitas (Adãozinho) e Jair Rosa Pinto, Chico (Canhotinho). Técnico: Flávio Costa.
Friaça  passou duas vezes por São Januário. De 1944 a 1949 e 1951 a 1954. No espaço em que esteve fora do Vasco, defendeu o São Paulo, entre 1949 e 1951. Nascido em 20 de outubro de 1924, em Porciúncula-RJ, depois de sua segunda saída da Colina, Friaça ainda jogou pela Ponte Preta-SP, de 1954 a 1955.
 Pela Seleção Brasileira, foi vice-campeão disputando dois jogos, com duas vitórias, um empate e uma derrota. No total, vestiu a camisa do escrete nacional em 13 jogos, com oito vitórias, três empates e duas derrotas. Só marcou um gol, o da final da Copa de 1950.
Dos seus jogos pela Seleção, 12 foram contra equipes nacionais - sete vitórias, três empates e duas derrotas - e um contra clubes e combinados, saindo vitorioso. 

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