Vasco

Vasco

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O VENENO DO ESCORPIÃO - ODAIR JOSÉ, O 'TERROR DAS EMPREGADAS DOMÉSTICAS'

 Em 1972, o Brasil apresentava estabilidade política, por conta de o presidente Emílio Garrastazu Médici permitir a direitistas radicais usar da repressão policial-militar contra opositores da Ditadura dos generais-presidentes, o que gerou a maior onda de repressão política da história do país.

  Tempo, também, do chamado milagre econômico, com o  Brasil apresentando índices de crescimento que chegavam 13% à virada do calendário. E época em que a indústria se expandia e as exportações agrícolas  geravam milhões de empregos, o que o Medici dizia serem conquistas do regime militar. Só que a tal prosperidade era muito mais causa da boa situação do quadro econômico externo, tanto que, quando a economia mundial desacelerou, o milagre brasileiro ruiu, deixando brutal concentração da renda nos bolsos dos ricos. Vieram pela frente grandiosas desigualdades sociais e aumento da pobreza, o que não permitia a nenhum pobretão sonhar - caso do cidadão Odair José.

 Vivente do então atrasadão interior de Goiás, Odair, no entanto, decidiu desafiar os tempos difíceis e foi para o Rio de Janeiro, querendo ser cantor, pois compunha e cantava desde 17 de idade. Passou fome, frio, dormiu na rua e tocou em inferninhos da Praça Mauá, até conhecer o cantor/compositor/produtor de discos Rossini Pinto, que gostou do que ouviu dele e o levou para a gravadora CBS (atual Sony Music).   

 Naquele mesmo 1972, Odair gravou “Eu vou tirar você desse de lugar”, em homenagem ao cantor baiano  Waldick Soriano que, ao fazer um show em um cabaré de zona meretrícia de Belém do Pará, apaixonara-se por uma “prima” e prometera-lhe tirá-la daquele lugar, o que cumpriu, casando-se com ela.

 Com “Eu vou tirar você desse lugar” vendendo muito bem, Odair José pode sair do meio da turma castigada pelo modelo econômico do Governo Médici e até frequentar shows de cantores da linha de frente da Música Popular Brasileira-MPB, como Nana Caymmi. E foi por ali que ele teve grande surpresa. Reconhecido por Caetano Veloso, este disse-lhe que gostaria de gravar, em dueto com ele, “Eu vou tirar você deste lugar”. E o apresentou a Dorival Caymmi, que, também dissera-lhe ter gostado muito da canção e afirmado ser ele o compositor que melhorar expressara o sentimento pelas ‘meninas velhas de guerra”.      

 Beleza! Mas foi em 1973, Odair José compôs o seu maior sucesso (e dilema): letra em que o cara pede à parceira parar de tomar a pílula e terem um filho. Em dois dias no mercado, o disco esgotou-se, as rádios o tocavam insistentemente e os líderes das paradas de sucesso, Roberto Carlos e Agnaldo Timóteo, ficaram para trás.

 Sucesso chegado aos ouvidos da Ditadura, imediatamente, o disco foi proibido, pois o Governo apoiava um programa de controle de natalidade, pelo Nordeste e recebia pressões dos laboratórios multinacionais. De sua parte, Odair José enfrentava até amaças de acabarem com a sua vida. Com medo de cumprirem o que prometiam, fugiu do Brasil e escondeu-se na inglesa  Londres.

 Quando a coisa esfriou, Odair voltou às terras brazilis e soube que “La Pílula” fizera grande sucesso por toda a América Latina - até ser proibida, também, por pressões dos laboratórios multinacionais.

 Tempinho depois, por meio de um amigo do general Golbery do Couto e Silva, a chamada “Iminência Parda do Governo, Odair conseguiu ser recebido pelo homem, de quem esperava uma ajudinha para liberar o seu grande sucesso. Levou um chá de cadeira e foi despachado, em menos de 30 segundos, ao ouvir: “A sua música está proibida e assim vai continuar” – e mandou-o sair da sala.

 Odair José teve outros problemas com a Censura da Ditadura, pois ele era o cantor das empregadas, prostitutas, homossexuais, bissexuais, cornudos, lésbicas e afins, enquanto o Governo era o grande defensor do moral e dos bons costumes. Bem como a Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana.        

 Quando o regime militar dos generais-presidentes transitava pela “abertura lenta e gradual”, de Ernesto Geisel, e seu sucessor, João Figueiredo, avisava que mandaria “prender e arrebentar” quem fosse contra, sem que ninguém esperasse, o Governo liberou “Pare de tomar a pílula”, em 1979 - ainda bem (para Odair José), pois Sidney Magal já estava ali na esquina dizendo para Sandra Rosa Madalena: “O meu sangue ferve por você”.  

  

Nenhum comentário:

Postar um comentário