Em uma noite de sabadão carioquíssimo, uma rapaziada da Tijuca atravessou o túnel, passou pela Lagoa Rodrigo de Freitas e foi parar em Ipanema, a fim de comemorar o aniversário de um amigão - vascaíno, é claro. Devido ao adiantado da madruga em que a tertulha terminara, já dormiu por lá mesmo. Por volta das 10 da matina, foi acabar de acordar nas águas frias da praia, mais precisamente, em frente à Rua Vinícius de Morais, na altura do cruzamento com a Avenida Vieira Souto.
Legal! E, já que o glorioso “Mestre Sol” pegava pesado, a “tchurma” foi obrigada a dar prosseguimento aos trabalhos iniciados no Bar Divino, à Rua Hadock Lobo, na Tijuca, onde se encontrara com os velhos amigos Sebastião Maia, Erasmo e Roberto. Vale ressaltar, que, antes de adentrar às areias de “Ipa”, a moçada passara pelo Bar Grota de Ipanema, e acertado, com o garçon Arlindo, para abastecer-lhes, de meia em meia-hora. O Arlindo, para quem não sabe, é o cara legal que atendia aos telefonemas de Frank Sinatra (para Tom Jobim), e segurava a conta do maestro, quando este e Vinicius esqueciam de solicitá-la – no dia seguinte, eles se lembravam e acertavam tudo.
Pois bom, meu rei! O Arlindo olhava para o filamento de mercáurio do termômetro apregado na parede do estabelecimento, e coçava a cabeça. Tava brabo, o “Mestre Sol”. Mas, combinado era combinado. Ainda mais com amigos da Tijuca. Naquele dia, perto das quatro e meia da tarde, quando ele levou o último lote de loiras estupidamente polares, juntamente com ele, chegou o ex-almriante Vasco Vasconcelos, comandante de esquadras de um país que não tinha nem mar. E, claro que o carinha, não desperdiçou a oportunidade de molhar o pescoço por dentro, convidado que fora pela moçada. Além de pedir uma carona para o Maracanã, onde o Club de Regatas Vascoda Gama enfrentaria, logo mais, o glorioso “Tricolor de Aço”, o Esporte Clube Bahia.
“Vamo que vamo, entra´i, vamo lá!” A caranga da vascainada deslizou, como uma serpente no asfalto, e já chegava perto do “Marca”, quando o ex-almirante saiu com lance esquisito: “Sei não, mas nun tô botando muita fé no meu xará, não. Ele só falta perder do Beijoca. Já levou gol de Beijinho”,
Ninguém sacou alhures. Teve tente até entendendo que o ex-almirante falara Beijing, a segunda maior cidade da República Popular da China. Ainda bem que o glorioso Mauro Prais, que dirigia a viatura, entrou na jogada, interceptando o lance: “Rapaziada, o Vasco jamais jogou naquela cidade chinesa. O nosso prezado Vasco está aludindo ao meia Beijinho, que marcou o gol de honra do Madureira, no dia 5 de setembro, pelo Campeonato Carioca de 1948, na Rua Conselheiro Galvão. O Beijinho formava no ataque do “Madura” ao lado de Valdir Pereira da Silva, o grande Didi, bicampeão mundial na Suécia e no Chile”.
Dizer o quê? Diante daqueles explicativos do “SuperMauro”, que sabia mais da vida do “Almirante”, do que o dito cujo, o ex-almirante ficou sem ação até pra bater uma lateral. Pois bem! Instantes depois, a rapaziada adentrou às arquibancadas do “Maraca”, aplaudiu a entrada, nas quatro linhas, de Mazaropi, Toninho, Abelão Braga, Gaúcho, Marco Antônio, Zé Mário “Pinóquio”, Carlos Alberto Zanata, Luís Fumanchu, Roberto Dinamite, Galdino e Luis Carlos Lemos, e perdeu tempo gastando as mãos. A galera não botava na rede a pauta do chefe Paulo Emilio, que até tentou mudar a sorte da copntenda, mandando o atacante Marcelo para a vaga do lateral-direito Toninho, e Jair Pereira para a de Zanata.
E, já que o Vasco não fazia gol, o injuriado Vasco Vasconcelos jogava pragas e distribuía impropérios à “Turma da Colina”. Então, o glorioso Esporte Clube Bahia, com Beijoca no comando do seu ataque, chegou lá. Aos 45 minutos do segundo tempo, de pênalti. Dada a nova saída de bola, Sua Senhoria, o Árbitro, assoprou o apito final da pugna, deixando 22.551 pagantes atônitos. Diante do assucedido, Mauro Prais improvisou um TJD ali mesmo na arquibancada, julgou o ex-almirante Vasco Vasconcelos e o considerou culpado pela derrota. E anunciou-lhe a punição: “Vasco! Quando o Vasco for jogar e você estiver a fim de malhar, não pinte mais, nos pedindo carona, em Ipanema. Aquela (praga e os impropérios), não é a nossa praia”.
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