Quando o patrão queixava-se que a grana havia
sumido da praça, o caboclo lá do sertão da Bahia disse-lhe:
-
Doutor! Terra onde não tem “muié-dama” não corre dinheiro. O “trem” delas é
danado demais!
Parece
que o caboclinho tinha (ou ainda tem) razão. Quem quiser tirar as provas é só
dar uma viajada nesse tempão de meu deus (gíria baiana), ir até o ano 2.340 antes de “Jisus”, como pronunciava o caboclinho.
Foi por ali que um “sujeitin discarado” damiou uma sacerdotisa, em Azupiranau, às
margens do Rio Eufrates, na Mesopotânia (atual Iraque), e sumiu de circulação, de modos que o filho
Sargão jamais “shakes hands” com ele. Então, sem mensalão para criar o barrigudinho,
a mãe colocou-o em uma cesta de vime e soltou-a na correnteza do rio, onde o
aguardeiro do palácio real a encontrou e fez do garoto seu filho adotivo. Ensinou-lhes
ofícios e, quando ele já era um rapagão, arrumou-lhe o emprego de copeiro do
rei.
O
jovem Sargão tornou-se um belo rapaz e ganhou a simpatia de Ishtar, mulher detentora
do maior potencial erótico do pedaço, capaz de ajudar os seus chegados a se
tornarem reis. Se bem que Sargão fez a parte dele, quando guerreiro, conquistando
a Suméria e tornando-se rei absoluto da Mesopotâmia, o que rolou mais tesão ainda
em Ishtar.
Sargão, no entanto, pisou na bola, não
ensinando as manhas da sacanagem ao seu neto Naram-Sim, que ainda pegou Ishtar
dando um caldo. Como avô já fora de cena, o incompetente carinha desviou
oferendas divinas para a sedutora coroa e, por praga dos sacerdotes, viu o seu
império ruir, em 2.193 AC, derrubado
pelos gutis, da Baixa Mesopotânia. Tudo por causa de um “trem danado”. E de uma
“véa” assanhada. Confere?
Mas ninguém se estrepou mais, por causa “daquilo”
do que Lucius Domitius Ahenonbarbus. História complicada. Pra começar, a
sua mãe Agrippina, casada com Gnaeus
Domitius, tinha um “trem” que emprestava ao
irmão, amante e Imperador Gaius Caesar Germanicus, mais conhecido da
galera por Calígula, que não tinha
herdeiros. Mafiosa, “Agrippa” começou a conspirar contra o parceiro de cama. E
se deu mal. Terminou exilada onde hoje fica a italiana Sicília. Enquanto curtia
um tempinho fora, porém, o seu chifrudo marido bateu as botas e o depravado Calígula
foi assassinado. Moral da história da Roma antiga: o trono sobrou para o seu
sobrinho Tiberius Claudius Nero Caesar Drusus. Que legal!
De volta a Roma, sem Caligula, a esfuziante
Agrippina aplicou um golpe no ricaço Gaius Sallustius Passienus Crispus.
Casou-se com ele, o envenenou, ficou com a grana e passou a ceder o seu “trem
danado” ao sobrinho e Imperador Tiberius. Este foi na sua conversa durante os
“rasgas fronhas” e tirou a sua esposa Messalina da jogada, condenada a visitara
o além, como conspiradora.
Era 49 depois de “Jisus” e a terrível e então
nova (quarta) esposa de Tiberius foi para o próximo golpe. Seu filho Lucius
Domitius Ahenonbarbus estava com 13 anos de idade e, por ser mais velho do que
Britannicus (rebento legítimo do soberano),
passou a ser o primeiro aspirante ao trono romano, caso o Imperador
faltasse, evidentemente. Nada do que a insuperável mafiosa “Agrippa” não
pudesse resolver.
Como
adoção era comum pela elite romana, Lúcios virou Nero Claudius Caesar Drusos e
o xodó do papai adotivo, que deu-lhe maioridade, aos 14, e casou-o com a sua
filha Octavia. Passados cinco trepidantes temporadas do casório com o
Imperador, o “Cine Roma” exibiu uma reprise, na sessão da tarde, película em
que Agripina, pela segunda vez, matava o marido. E o “zebrão” Nero subia ao
trono. Beleza! – para a curriola deles.
Durante o primeiro lustro do reinado do novo
Imperador, ele só queria saber de corridas de bigas e de orgias. Dançava o que
tocava e era mais inofensivo do que o ataque do Vasco do final do Brasileirão
da Série-B-20016. Com aquilo, Agrippina mandava em Roma. Até o dia em que Nero
conheceu a escrava Claudia Acte, requisitou o seu “trem” e gostou tanto que
apaixonou-se por ele. Só que o trem descarilou. Sua velha quis esganá-lo e passou
a conspirar para derrubá-lo e colocar o fantoche Britannicus em seu lugar. Matar por matar, Nero matou primeiro – os dois. De quebra, matou, também, a esposa
Octávia. Tudo por causa de um “trem descarrilado”.
Mas nem só o “Cine Roma” exibia filmes sobre
“trem trepidante”. O “Cine Brasília”, por exemplo, já colocou em cartaz um alucinante. No
roteiro, o Senador que mandava no barraco traçava uma moça televisiva e
fazia-lhe um rebento, mantido às custas
de dinheiro dito politicamente nada correto. Ligeiramente! Era apeado do cargo,
mas, na continuação da fita, voltava ao poder e dava uma de Imperador,
incluindo um nó na “Dona Justa”, que teve de negociar os seus caprichos.
Convenhamos:
o mundo é mesmo, indubitavelmente (termo registrado), uma aldeia de atitudes
contínuas. O que acontecia na
Mesopotânia, há 4.356 anos, ainda acontece em Brasília. PRÓXIMO EDITORIAL? DIA 20. TEMA: NÉLSON RODRIGUES
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