No
dia da posse de Deodoro da Fonseca e de Floriano Peixoto, respectivamente, como
primeiros presidente e vice da República brasileira, o segundo foi
delirantemente aplaudido, para desgosto do outro. Ciúme de marechais? Sigamos! Quando
o novo regime político do país comemorou o primeiro aniversário, os dois já eram
“inimigos cordiais”. Tanto que Floriano não compareceu às comemorações,
deixando claro ao conterrâneo – ambos eram alagoanos – que não tinha interesse
em reaproximar-se dele.
Mais um tempinho passou, Deodoro renunciou e o
locutor do alto-falante da imaginação gritou: “Brasil informa: modificação no time brasuca: sai Deodoro e entra Floriano”. Rolou a bola e, assim que foi confirmado
titular, pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, Floriano
tirou de campo todos os governadores estaduais nomeados pelo antecessor.
Floriano
governou por um período conturbado, agiu com pulso forte e foi chamado de
“Marechal de Ferro”, do que gostava, “pra carvalho”. Perto de fechar o boteco, ele
recusou-se a apresentar candidato à sua sucessão e garantiu entregar a casa à
sua nova direção. E a entregou ao paulista Prudente de Morais, representante
das oligarquias cafeeiras e que não tinha a sua simpatia. Eram “inimigos
cordiais”.
Embarquemos, agora, em um voo do Concorde e
desçamos de volta ao passado, em 1851, quando o ditador argentino Juan Manuel
Rosas planejava recriar o Vice-Reinado do Prata, unindo o seu país, o Uruguai e
o sul do Brasil. Claro que o Império brasileiro contra-atacou. E armou o
esquema com os inimigos de Rosas, os “unitaristas” e o presidente uruguaio,
Fructuoso Rivera, que tinha de engolir um ministro da Defesa imposto pelo poderoso
vizinho argentino. E o bloco botou Rosas na rua. Rosas não era flor que se
cheirasse.
Para os inimigos do ditador argentino, beleza!
Para quem o apoiava, o Brasil que fosse....exatamente, para onde você pensou. Aliás,
pensar parecia não ser algo muito legal para os caras daquelas bandas. Depois
de Rosas, foi a vez do paraguaio Solano Lopez aparecer com o mesmo pensamento
expansionista. Como o Império brasileiro já era amiguinho dos “hermanos”
argentinos e, ainda mais, dos uruguaios, formou um tripé no meio-de-campo e deu
uma surra no Paraguai que, mesmo assim, matou 60 mil “macaquitos”, como eles
chamavam “los brasileños”.
Peguemos,
novamente, o Concorde e voltemos para o futuro. Pelo rádio da cabine do piloto,
escutemos o locutor da Administração dos Estádios de Minas Gerais gritar:
“ADEMG informa: sai Don Pedro II e entra o marechal Deodoro da Fonseca no time
do Brasil”. Festas em Buenos Aires. Os
argentinos detestavam Pedro II. E rolou a “maricota” para uma nova etapa. O
Brasil chegou a 1950, construiu o Maracanã, o maior estádio de futebol do
planeta, e promoveu a Copa do Mundo, o maior espetáculo da terra. Os argentinos
não comparecerem para a festa.
O
tempo passa, o Império contra-ataca, brasileiros e argentinos tornam-se parceiros,
até no Mercosul, e seguem juntos jogando a Copa Roca, criada pelo malandro
populista e caudilho Júlio Roca, que já via no “balípodo” um meio de engabelar
o povo, assim como Floriano Peixoto fazia no Brasil, com o “Jogo do Bicho” –
nada se cria, tudo se copia, dizia o vascaíno Abelardo “Chacrinha” Barbosa.
Com tantos anos de sacanagens bilaterais, só quatro brasileiros ganharam grandioso
carinho dos argentinos: os cantores Roberto Carlos e Maria Creusa, e o
treinador de futebol Oswaldo Brandão. Por aqui, da turma de lá, nem o Papa
Francisco emplaca. E olhe que o Brasil é o país mais católico do mundo! Os dois
povos “hermanos” são e serão, eternamente, “inimigos cordiais”.
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