Vasco

Vasco

sábado, 20 de outubro de 2018

O VENENO DO ESCORPIÃO – DECÁLÓGO DO GLORIOSO JORNALISTA OCTÁVIO BONFIM

DECÁLOGO: TÍTULO DA COLUNA DELE NO  JORNAL DE BRASILIA

Reprodução de www.wilipedia
1 – O Itamaraty enviara convites aos chegados para o banquete em homenagem à visita a Brasilia, do Rei Olavo, da Noruega, em 1967, informando que era obrigatório o uso de “smoking”. Dias antes, muitos convidados haviam comparecido ao almoço oferecido ao legado do Papa, o cardeal Amleto Cicognani (foto), com os mais diferentes ternos. O cerimonial esquecera de passar a informação sobre a idumentária para a gráfica que imprimira os convites. E, para justificar a gafe, dissera ter feito uma “concessão de protocolo”.  Duas décadas depois, em papos “revival” na sala de imprensas da casa, o repórter Octávio Bonfim disse que homenagearia a pisada itamaratiana, inesquecível para os contadores de história, e cumpriu: dias depois, distribuiu na sala de imprensa do Ministério das Relações Exteriores o sanduíche “Concessão de Protocolo”, contendo uma azeitona solitária dentro de um pão francês.         

2 – “Não precisa ser adivinho para saber quem será o próximo presidente da República: o penúltimo ministro do Exército, pois o último (o então atual presidente) será inelegível”. Autor da frase: Octávio Bonfim, que estava certo, pois não ocorriam reeleições durante o regime militar dos generais-presidentes, e os “caras” abençoados pela espada saíam sempre daquele mesmo posto.

3 – Comentário de Octávio Bonfim sobre o ex-presidente da República e marechal Costa e Silva: “Andava mais atrasado do que a Segunda Guerra Mundial. Nunca deixou de usar relógio de pulso com o mostrador do ponteiro para baixo”. Explica-se: mandava o figurino dos oficiais de Infantaria ser preciso proteger o relógio de eventuais choques durante combates.

Reprodução de www.wikipedia
4 - Devido aos seus grande número de servidores, que não dispunham de tempo para fazerem coisas particulares, durante o horário de trabalho, muitos ministérios colocavam salões de barbeiros à disposição da rapaziada, para as tradicionais horas do “deu uma saidinha, volta logo”. No Itamaraty, o barbeiro era um cara muito cascateiro, que vivia contando histórias que ninguém acreditava. Talvez, por isso, o salão andava sempre cheio de gente jogando conversa fora. Certa vez, Octávio Bonfim chegou à sala de imprensa e avisou: “Vou fazer uma sacanagem com o Agnelo?”  O dito cujo já tinha uns vários tempos de atuação na casa, mas nunca sabia do nome do chanceler, do secretário-geral, dos embaixadores e dos conselheiros. Só sabia os dos jornalistas, que viviam na sacanagem com ele, cada um mentindo mais, inventando lorotas.  Pois bem! O Bonfa telefonou para o Agnelo e disse-lhe que o chanceler estava precisando que o barbeiro fosse ao seu gabinete, urgente, fazer-lhe cabelo, barba e bigode. Agnelo se mandou e encontrou-se às portas do gabinete do homem com a secretária, a qual contou da sua missão, deixando-a encabula, pois não havia solicitado nenhum pedido naquele sentido. Em todo o caso, o acompanhou até aos pés do chefe. Ao deparar-se com o ministro Magalhães Pinto, completamente careca, Agnelo percebeu, logo, que havia sido vítima de um trote. E não tinha dúvidas de quem, seria o autor da “saca” – sacou?

5 -  O Itamaraty só marcava entrevista coletiva do chanceler, do secretário geral e dos embaixadores para os inícios de noite. Nunca jamais antes das 18h. Só era bom para os correspondentes estrangeiros, que estavam cinco horas atrasados em relação à Europa e grande parte dos Estados Unidos. Tinham tempo bastante de sobre para enviar material às suas sedes. Certa vez, antes de uma coletiva do embaixador Flecha de Lima, que era o secretário-geral do ministro Abreu Sodré, foi distribuído, pelo inicio da tarde, um documento para a imprensa. Antes de começar a coletiva, o homem indagou aos repórteres se todos haviam lido e o que acharam. Octávio Bonfim mandou: “Eu gostei por um detalhe: até que enfim o governo brasileiro publicou um texto em português. Eu já andava com o complexo de ter nascido em Nova York, ou em Londres. Lia tudo desta casa só em inglês”.

6 – Perto das eleições estaduais de 1986, falava-se muito em acordos entre PMDB e ARENA, em várias regiões do país. Na sala de imprensa do Itamaraty, o correspondente de um a agência noticiosa italiano, Américo René Gianini, indagou ao Octávio Bonfim o que ele pensava sobre o tema. Resposta: “Está sendo dado um grande passo para a formação de partido único no Brasil” – tecnicamente, poderia estar certo.

7 - Octávio Bonfim encontrou-se com o deputado gaúcho Clóvis Stenzel, na Comissão de Relações Exteriors da Câmara, papearam e terminaram indo à sala do famosíssimo “cafezinho do Congresso’, do lado do Salão Verde. Entre um gole e outro, o Bonfa disse: “Deputado, com este seu jeitão de alemão, só falta um “Von” em seu sobrenome para ficar tudo em cima”. Resposta: “Dissestes bem, tchê! Um “vonzinho” aí me garantiria uns votinhos a mais com os amigos do Seu Hermann; da professora Ulda; do doutor Briegel e até do pão duro-do Seu Zimmer”.            

8 - Em viagem pelo Nordeste, Octávio Bonfim reencontrou um velho amigo dos tempos das cavernas. Não se viam desde o período paleozóico. Papo vai, papo vem, o homem contou-lhe terem empresários do setor de moínhos colocado à sua disposição um carro de luxo para as suas andanças, e ele não topado. Comentário do Bonfa: “Fez muito bem o amigo em não aceitar. Diretor da SUNAB- Superintendência Nacional de Abastecimento tem de andar em em um “Jeep” véi, de preferência, só pegando no saculejo”.  
Reproduzido do blogdoeliomar.com.br

9 -  O deputado federal Adauto Bezerra (foto) sofria grandes pressões, dentro do PMDB do Ceará, para a candidatura de Mauro Benevides ao Senado, em troca de posições no futuro governo estadual. Vinha por ali o pleito de 1982 e o homem rechaçava, inteiramente, a proposta. Comentário do "Bonfa": Bezerra não é jegue, mas está amuado". 

10 -  Escreveu o glorioso Bonfim em sua coluna do Jornal de Brasília: "Eu estava à entrada do plenário da Câmara, quando  se cruzaram os deputados Flávio Marcílio-CE e Miro Teixeira-RJ.  O primeiro virou-se para o segundo e disse: "Miro! Você está mais magro. Acho que este seu terno nem é seu, mas do Chagas Freitas (então governador do RJ)". Comentário sacaninha do Bonfa: "Gordo quer ser magro e magro parece que não gosta de magro".       


Nenhum comentário:

Postar um comentário