Vasco

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sábado, 6 de outubro de 2018

O VENENO DO ESCORPIÃO - O ÚLTIMO CARNAVAL DO RIO CAPITAL DO PAÍS

  BRINCARAM COMO SE ESTIVESSEM  NO ÚLTIMO DIA DO MUNDO
Jorginho, Cauby e Kim Novak no Municipal
Em 21 de abril de 1960, Brasília passava a ser a capital brasileira, tirando do Rio de Janeiro a glória que o carioca celebrava desde o século 18. Que decepção! O "glamour" do Brasil saía da praiana e quente “Cidade Maravilhosa” para a solidão do Planalto Central, onde  havia mais cobras e lagartas do que gente.
Mas o Rio de Janeiro não perderia o charme que, para lá, carregava almas de todo o planeta. Como durante o seu último Carnaval como capital do país. Por sinal, uma folia bissexta. 
A festa começou no sábado 27 de fevereiro,  passou pelo domingo 28, a segunda-feira 29 e soltou o seu último grito carnavalesco na terça 1 de maio. Aliás, na mais do que já raiada quarta-feira de cinzas, 2. Sem falar do baile da noite da sexta-feira 26, no Quintandinha, em Petrópolis.
O malandro carioca não deixou as tilápias da gata por menos 
Os dias do último Carnaval do Rio capital brasileira pareceram seren os últimos do mundo, para os foliões das casas mais badaladas da cidade, o Teatro Municipal e o Hotel Copacabana Palace.
  O baile da noite da segunda-feira, do Municipal, por exemplo, só parou às oito da matina da terça, quando a orquestra mandou o seu derradeiro tom. Uma loucura vivida por oito mil carnavalescos, dos quais 300 turistas estrangeiros, que pagaram Cr$ 2 mil e 400 cruzeiros pelo ingresso simples e Cr$ 48 mil pelo camarote. Valia a pena. 
Os bacanas – ricos, socialites e artistas - estariam e dançando (e dançaram) no mesmo salão em que brilharam estrelas do cinema norte-americano, como as atrizes Kim Novak (convidada do playboy Jorginho Guinle), Linda Darnelle (fantasiou-se de baiana), Julie London e Zza Zza Gabor, que se esbaldava quando tocavam a marchinha “Cadê Zazá?” - um dos maiores clássicos dos carnavais brasileiros, composta por Ari Monteiro/Roberto Martins.
Aquela fora uma noite incomum. Tanto que Kim e Zza Zza, que se detestavam, foram para o camarim do prefeito Sá de Freitas Alvim. Evidentemente, mantendo distâncias. E tudo saiu nos conformes, com o salão de baile foi vigiado por 110 policiais, que não registraram nenhuma rusga.
Para o povão que não entrava, ficar à entrada do Municipal foi delirante ver a chegada de foliões com fantasias luxosas, muitas custando até Cr$ 1 milhão de cruzeiros. Violeta Botelho e Clóvis Bornay, venceram, por sexo, enquanto entre os premiados por originalidade estiveram Núcia Miranda, Lili Marlene, Jorge Costa e Paulo Verelli.  
Diferente! A rainha trocou a coroa por um chapéu
Mas o Copacabana Palace também excedeu. Seu baile, considerado festa de coroas, daquela vez recebeu muitos jovens, além dos “bacanas” e das deusas de Hollywood.   Naquele ano, até suplantou o do Municipal, segundo os cronistas carnavalescos disseram à “Revista do Rádio” – N 550, de 02.04.1960.  O carisma do baile do “Copa” parou o trânsito da avenida em frente, por várias vezes, mas terminou às quatro da madrugada.
 Pelo Carnaval-1960, como nos anteriores, o Rio voltou a ser monarquista. Além do Rei Momo, quatro rainhas  foram coroadas: Rosângela Maldonado, do Cinema; Araci Costa, do Carnaval; Elizabeth Belair, das Vedetes (de teatro), e Fernanda Montenegro, das Atrizes. Esta, por sinal, não aceitou a coroa.
Na época, os desfiles das escolas de samba não eram tão prestigiados pelos “bacanas”,  embora existissem desde 1932 – e não pararam mais, até tornarem-se, hoje, o “maior espetáculo da  Terra”, quando as celebridades aparecem, ou tentam ser notícia. Naquele último desfile dos sambistas do Rio capital do país, quem venceu foi o Salgueiro, com o enredo ‘Quilombo dos Palmares”, produzido pelos carnavalescos Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues.          
 
  FOTOS REPRODUZIDAS DA 'REVISTA DO RÁDIO' - N 550, de 02.06.1960
       
  





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