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domingo, 8 de abril de 2018

O DOMINGO É DIA DE MULHER BONITA - NIOMAR MONIZ SODRÉ, BAIANA 'PORRETA'

Uma das instituições mais sublimes da cidade do Rio de Janeiro é o Museu de Arte Moderna- MAMM, pelo que exibe e a sua história de luta muito dura para nascer. Por sinal, não nasceu da barriga de uma mulher, mas da cabeça de uma delas, portadora de visão futurista.
 Na verdade, a primeira gota de esperma a cair no útero gerador da casa partiu de Raymundo de Castro Maya, apoiado por vários mecenas das artes. A proposta, porém,  não entusiasmava e o menino não crescia. Até aparecer, em 1951, Niomar Moniz Sodré, a verdadeira mãe da questão.
 Provisoriamente, o museu funcionou emparedado entre pilotos do prédio do Ministério da Educação. Incansável, Niomar impressionava o seu companheiro de lutas Santiago Dantas – foi deputado federal, chanceler, ministro da Fazenda e único intelectual das esquerdas brasileiras das décadas-1950/1960 - pela capacidade de sonhar. Em 1953, ela exibia o documento de posse do terreno e, em 1954, o presidente da República, Café Filho, batia a primeira estaca do sonho.
 Até chegar ali Niomar fez deus e o diabo se digladiaram muito. A Igreja Católica considerava-se dono do terreno, obrigando-a passar quatro meses lutando contra o bispo-auxiliar do Rio de Janeiro, Don Hélder Câmara, para levantar a casa. Quem diria? Pois foi! A primavera de 1954 rolava e o MAM era excomungado por todos os santos, que não o queriam fazendo parte da vista da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Mulher como Beatriz está muito difícil
 de encontrar, atualmente. 
Se fosse só aquilo, até dava pra segurar. O pior era o prefeito carioca, Sá Freire Alvim,  não autorizar ligar as tubulações de água da Prefeitura com as do MAM e nem a construção de rua de acesso à entrada principal da casa. Tava feia a coisa!
 O tempo foi passando e o MAM não tinha grana para pagar as suas contas. O jeito foi Niomar e a sua patota bater às portas do Congresso Nacional e da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, pedindo uma esmolinha. Até conseguiu-se alguns trocados, mas o caminho mesmo pra valer seria “assaltar” a boa vontade de banqueiros, comerciantes fortes e industriais – ou o museu desabaria. Houve momentos em que rolou até apelar-se para os “papagaios”. Afinal, o MAM era da terra do Maracanã, das aves psitaciforme, da família Psittacidae, também conhecidas, mulata-maracanã e papagaio-de-cara-branca.
 Antes do MAM, havia artistas brasileiros que diziam até passar fome. Nem recomendação de famosos jornalistas críticos de arte motivava compradores. Era difícil vender telas de Emílio Goeldi, de Alberto Guignar, só para citar dois extraordinários artistas. Cândido Portinari temia participar de exposição e ver oferecimento de “preço de banana” por um quadro dele. Momento horror-show!
Inaugurado o MAM, em janeiro de 1958, as coisas mudaram. Os grandes e, indiscutivelmente, talentosos artistas da moderna pintura brasileira passaram a ser mais conhecidos, pela divulgação da imprensa e, por conseguinte, venderem mais. Não era mais preciso, por exemplo, Djanira pendurar-se ao telefone e passar o dia cobrando de quem comprara e não lhe pagara.
Graças ao empenho de Niomar, principalmente, Manabu Mabe, Di Cavalcanti, Antônio Bandeira, Tanaka e muitos outros viram novos horizontes. Compradores de arte  já subiam ao bondinho  de Santa Teresa e iam ao atelier de Djaira. Que legal!
Nascida na Bahia, Niomar Moniz Sodré Bittencourt (após casar-se com Edmundo, proprietário do diário “Correio da Manhã), que fez bem às artes brasileiras, sem ganhar vantagens, viveu entre 10916 e 2003. Em 1969, teve seus direitos políticos cassados, foi presa e processada pela Ditadura dos generais-presidente. Jamais mandou pagar propina a deputado corrupto, como o fez um presidente da República, e nem recebeu auxílio-moradia em cidade onde possuía imóvel, como o fazem 31 mil membros do Judiciário


           FOTO REPRODUZIDA DA REVISTA MANCHETE




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