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quarta-feira, 25 de março de 2020

HISTÓRIAS DO KIKE - RAFA DOURADA

Atletas olímpicos não conquistavam medalha de ouro nas primeiras disputas da era moderna


Se tivesse disputado os jogos olímpicos modernos de 1896 e 1900, a judoca Rafaela Silva, que vai trazer de Paris o bronze por equipes mistas, não teria uma medalha de ouro em sua coleção. As duas primeiras Olimpíadas premiaram os primeiro e segundo colocados, respectivamente, com prata e bronze, além de uma coroa de louros. O ouro só chegou a partir de 1904, tendo o Comitê Olímpico Internacional o concedido, retroativamente, bem como o bronze, a quem merecia.

Em 1904, as medalhas mediam 37,8 centímetros de diâmetro e pesavam 21 gramas. Em 2012, em Londres, caíram para 8,5 cm de diâmetro e peso de 375 a 400 gramas. Uma outra mudança ocorreu no anverso. Entre 1928 e 2000, trazia Nice, a deusa grega da vitória, com o romano Coliseu ao fundo. Em 2004, durante os Jogos de Atenas, os gregos fizeram a correção histórica e trocaram o templo romano pelo estádio do Panathinaikos, onde surgiram, realmente, os Jogos Olímpicos. Assim, cada cidade-sede se divulga.

Filha de família pobre, Rafaela Silva nasceu na Cidade de Deus, área carente da Zona Oeste do Rio de Janeiro. Ela conheceu o tatame em uma academia na rua onde morava, aos oito anos de idade. Foi a maneira que os seus país encontraram para torná-la mais calma, pois ela era muito brigona. No Instituto Reação, criado pelo ex-judoca Flávio Canto, medalha de bronze olímpica-2004, a Rafa foi sendo formada pelo treinador Geraldo Bernardes, que viu potencial nela e pagava as suas passagens e alimentação quando ela competia fora do RJ.

Em 2008, Rafa Silva correspondeu à aposta de Geraldo, conquistando o título mundial sub-20. Em 2009, voltou do Mundial da holandesa Roterdã, com um quinto lugar, a melhor classificação brasileira. Eliminada dos Jogos de Londres-2012, por aplicar um golpe irregular, e devido as insultos racistas, queria abandonar o judô, no que foi impedida pela sua família, o seu treinador, Flávio Canto e uma psicóloga. Ainda bem, pois, nos últimos três anos, além de chegar a liderar o ranking da Federação Internacional de Judô, subiu ao pódio em quase todos os torneios disputados. Entre eles, o Campeonato Mundial de Judô-2013, no Rio de Janeiro.

Até conquistar a primeira medalha brasileira dourada na Olimpíada Rio-2016, Rafaela perdeu disputas internacionais, para a alemã Miriam Roper; a sul-coreana Jandi Kim, sul-coreana e a húngara Hedvig Karakas, a qual devolveu a derrota em 2016, temporada em que venceu, também, Corina Caprioriu, e a mongol Sumya Dorjsuren, na final olímpica diante da primeira do ranking mundial da categoria.

Rafaela, mulher dourada no peso leve (57kg), juntou uma outra glória que nenhum outro judoca brasileiro já conseguiu: campeã olímpica e mundial. Sarah Menezes, Aurélio Miguel e Henrique Guimarães conquistaram o ouro olímpico, mas nunca o do Mundiais. De outra parte, João Derly (duas vezes), Tiago Camilo, Luciano Correa e Mayra Aguiar saíram dourados de Mundiais, mas, não, olimpicamente.

Glórias, também, para Beatriz Souza, ouro no peso até 78 quilos e o mesmo bronze de Rafaela nesta França-2024.


OBS: este texto foi publicado no Jornal de Brasília de 04.08.2024. Viajou pelo túnel do tempo e veio parar aqui, conforme o link abaixo:


https://jornaldebrasilia.com.br/blogs-e-colunas/historias-da-bola/rafa-dourada-2/ 


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