Brasília estava no jardim de infância – cinco de idade – quando a Jovem Guarda estourou, por todo o país. Inicialmente, era o nome de programa das tardes de domingo, da TV Record paulistana e que, logo, virou nome da onda iê-iê-iê que rolava na esteira do beatlemaníaco yeah, yeah, yeah.
Os Geniais abriram show para Roberto Carlos,a, |
Por aquele primeiro lustro da década-1960, quando ainda não havia as rádios em FM, os brasilienses só contavam com três emissoras – Nacional (governamental), Planalto e Independência – e três de TV – Nacional, Brasília e Alvorada. Nada que impedisse, porém, a juventude candanga de, também, entrar nos embalos da moda, mesmo em época tremenda de ditadura militar que vigiava até pensamentos.
O clima político era pesado, mas rapazes e moças que não tinham tanta informações, como hoje, nesses tempos de Internet, desde que não falassem mal do Governo, poderiam correr para a SQS 507, na Avenida W-3 Sul e a de maior movimento na cidade, e comprar os últimos lançamentos em botinhas, terninhos, camisas, blusões, calças, cintos e minissaias vendidas pelo principal magazine da capital do país - Bi-Ba-Bô -, bem como discos de vinil, na vizinha Discoteca Paulistinha.
O jovens brasilienses, no entanto, não se contentaram só em imitar os seus ídolos pelas vestimentas e gírias que escandalizavam os coroas, que nem sabiam do que estavam sendo chamados. Começaram a pegar na guitarra e a formar conjuntos que tocavam em festinhas de clubes sociais – Motonáutica, Iate, Jockey, Bancrévea e Unidade de Vizinhança -, em programas das TVs locais e até na boate do Hotel Nacional, algo muito charmoso. Às vezes, animavam bailes fora da cidade.
Este disco do El Son 7 virou raridade |
Daquela primeira turma de embalos jovens candangos, Os Reges (iniciais de Reinaldo (baixo), Edson (guitarra base), Gualberto (guitarra solo), Edson Vitorino (bateria) e Segóvia (crooner) e Os Infernais (Lincoln (guitarra solo), João Lataro (guitarra base), Edson (bateria) e Glay Lataro (vocal), que gravaram um compacto simples e um duplo,- foram os pioneiros, seguidos por Os Geniais (abriu show n cidade com Roberto Carlos, Erasmo e Wanderléa, em 1966) e Os Primitivos (Carlos Alberto (vocal), George (guitarra solo), Luizinho (guitarra solo), Edson (guitarra base), Armandinho (baixo) e Everardo (bateria). Estes eram os mais populares, principalmente por tocar, aos domingos, nos programas Rapsódia e Passarela do Sucesso, da TV Nacional. Chegaram a se apresentar no Rio de Janeiro, nos programas do Chacrinha (TV Tupi), e Festa do Bolinha, de Jair de Taumaturgo (TV Rio) e a gravar um compacto simples, um duplo e um LP.
Também, naqueles inícios de iê-iê-iê brasiliense, sugiram Os Quadradões, Os Matusquelas, Raulino e Seus Big Boys e El Som Sete.
Não era fácil, no entanto, para a turma gravar um disco, como, como conta Edson Vitorino:
- Teve gravação repetida 11 vezes, pela turma do El Som Sete, para ficar tudo legal. Não se podia errar. Tinha-se de tocar certinho, sem o som de nenhuma guitarra cobrindo o de outra. Tudo bem ensaiado. Chegou a haver início de gravação por voltas das 18 horas e, quando o relógio marcava quatro da manhã, só se tinha duas músicas prontas – relembra o Edinho, que foi baterista de Os Reges.
Os Infernais chegaram a gravar compacto duplo e simples |
A gravação do El Som Sete, citada pelo Edinho, segundo ele, foi no PR-Estúdio, em área de 5 x 5 metros, no Edifício Mariana, no Setor Comercial Sul, calculando ter do LP tirado cerca de cinco mil cópias. Cita, ainda que, antes de o disco sair, a rapaziada levou a fita para ganhar um tratamento melhor nos estúdios da CBS (gravadora da moda), no Rio de Janeiro, “pois não tinha como expandir, comprimir e prensar discos em Brasília”, recorda.
- Tempos difíceis, quando a cidade tinha mais barro do que asfalto. Mesmo correndo o risco de chegar sujo ao bailinho no prédio do Jockey Clube, no Setor Comercial Sul, os rapazes compareciam usando ternos – lembra o mesmo Edson Vitorino, segundo o qual o programa Jovem Guarda - liderado por Roberto Carlos, Erasmo e Wanderléa – era transmitido, em videoteipe, em Brasília, pela TV Alvorada, Canal 8.
FOTOS DO ARQUIVO DE EDINHO VITORINO
FOTOS DO ARQUIVO DE EDINHO VITORINO
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