Célio Taveira Filha,
neto do remador Antônio Taveira, integrante do primeiro grupo campeão de remo
pelo Vasco da Gama, em 1906, foi levado pela Covid-19, durante a madrugada de hoje.
Desde o dia 23 ele esteve internado no Hospital Samaritano, da paraibana João
Pessoa.
Reprodução da Revista do Esporte |
Sujeito espiritualista, que dizia não existir a morte, fazia conferências espíritas e orações em casas de quem o pedia. Também, gostava de enviar e-mail aos chegados, contendo mensagens religiosas. Partiu deixando quatro filhos (dois homens e duas mulheres, oito netos e dois bisnetos)
Maior goleador vascaíno da década-1960,
Célio foi campeão de torneios amistosos no México e no Chile; do I Toro
Internacional do IV Centenário do Rio de Janeiro, da I Taça Guanabara-1965, e da
principal disputa brasileira daquela época, o Torneio Rio-São Paulo-1966. Jogou, também, pela Seleção Brasileira - chegou formar dupla fatal com Pelé - e pelo Corinthians, mas a sua fase mais produtiva aconteceu defendendo o uruguaio
Nacional, de Montevidéu, pelo qual tornou-se o segundo maior goleador do clube
em Taças Libertadores - e terceiro entre os brasileiros. Era um grande ídolo da
torcida tricolor. Tanto que o clube o convidava para todas as suas grandes
comemorações.
A Rádio Globo-RJ foi a Uruguai, transmitir estreia de Célio, no Nacional Foto: álbum do repórter Deni Menezes |
Célio era uma espécie de “Rei da Cidade”, na capital uruguaia. Ao ponto
de uma emissora de rádio, para ganhar pontos na audiência, evidentemente, ofereceu-lhe
a presentação de um programa. Num deles, Célio arrombou o horário,
entrevistando Roberto Carlos, que estava no auge, em 1967, e com discos
vendendo muito por Uruguai, Argentina, Chile e no Paraguai, gravados em
espanhol. Ele foi ao hotel onde o Roberto se hospedava e o deixou muito alegre
pela visita, pois o “Brasa” era torcedor vascaíno. E contou-lhe uma história
interessante: durante noite em que ele e
Erasmo compunham, o “Tremendão” deixara um rádio ligado, baixinho, para
acompanhar a estreia de Garrincha no Corinthians, contra o Vasco. Quando
Célio marcou o seu segundo gol na partida, Erasmo quase o esmaga, com um
abraço, gritando:
“Celhaço" na rede, bicho!”
Este jogo lembrado por Roberto Carlos foi durante a noite de 2 de
março de 1966, no paulistano estádio do Pacaembu, diante de mais de 40
torcedores, e está anotado no caderninho do então repórter Deni Menezes, da
Rádio Globo-RJ. A atuação de Célio foi tão boa, contava o locutor Orlando
Baptista, da Rádio Mauá-RJ, que o presidente do uruguaio Nacional, presente ao
prélio, não sossegou enquanto não o contratou. Para ele, Célio seria o
substituto de Atílio Garcia, o até então insubstituível artilheiro que o seu
clube procurava há mais de uma década.
Célio estreou quebrando tabu, de várias temporadas, sem vitórias do
Nacional sobre o rival Peñarol. Dali por diante ninguém mais o segurou. Só o
goleiro Manga, ex-Botafogo.
Célio (C), entre Luizinho Goiano, Mário Tilico, Lorico e Zezinho foi campeão o principal goleador da I Taça Guanabara - foto reproduzida da revista carioca Manchete |
Contava Célio que o proprietário de um posto de gasolina, perto de onde
treinava o Nacional, por ser torcedor do clube, ofereceu desconto aos atletas e
cartolas que abastecessem o carro em seu estabelecimento. Um dia, quando ele aproveitava
a promoção, o frentista cobrou-lhe uma conta deixada pelo Manga (Aílton Correa
de Arruda). Pagou, mas foi em cima do Manguinha, querendo saber que história
era aquela, e ouviu:
- Célio, você é o rei de Montevidéu. Como ninguém lhe cobra nada e eu
estava duro, de um migué no cara.
Célio deu um esporro no Manga, que fez que não ouviu e, dias depois,
repetiu o golpe. Saiu com outra:
- Célio! Segura mais esta. Se tiver pênalti contra a gente, no domingo
pego, pra você. E se vire lá na frente.
Quis o destino que, aos 40 do segundo tempo, houve uma penalidade
máxima contra o Nacional. E não rolou de Manguinha ir lá catar a bola!
Aos 45, com juiz já levando o apito a boca, pra encerrar a contenda, Célio
marcou o gol da vitória, por 1 x 0. Quando os jogadores chegaram ao vestiário,
após a peleja, o glorioso Manga chegou pra Célio, dizendo:
- Esta vale mais um tanque de gasolina, né?
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