Vasco

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sábado, 23 de maio de 2020

O VENENO DO ESCORPIÃO - CINCO SÉCULOS DE UMA FESTA AROMBADA

Com estes barcos rústicos, os portugueses cruzaram o Atlântico e chegaram ao Brasil, em 15000...
Há cinco séculos, uma rústica caravela saiu de Portugal e veio aportar na Bahia. Em 2.000, quando se comemorava o transcurso exato da data de chegada, uma réplica, turbinada por motor e contendo camarote para o comandante, não conseguiu viajar entre Salvador e Santa Cruz Cabrália, onde seria parte integrante da festa. Governo e empresários gastaram R$ 3,5 milhões para construí-la, mas a grana foi jogada fora, devido problemas que fizeram a nau voltar para o porto de onde partira.
 Uma semana antes da partida, a Marinha mandou colocarem 14 toneladas de chumbo na caravela, por considera-la instável. Haviam esquecido, durante os cálculos da construção, de fatores ambientais. Refeitos os cálculos, descobriram que, em vez de 14, seriam preciso, na verdade, 18 toneladas de chumbo. Como não havia tempo suficiente para a compra, o peso foi completado com cimento.   
... mas com esta modernizada réplica, em 2.000, os brasileiros não conseguiram
 ir, de Salvador a Porto Seguro - reprodução de www.tripadivisor.com
 A caravela partiu da Baía de Todos os Santos, atrasadamente. Mas logo teve de parar de navegar, pois as cordas de sustentação do mastro cederam, sendo preciso reajusta-las. Resolvido o problema, veio mais  um: a bomba d´água que resfriava um dos motores parou de funcionar, deixando a obrigação por conta de um motor auxiliar. Este segurou a barra até os mares que banham a cidade de Ilhéus. Por ali, verificou-se que havia caído água no tanque de óleo. O segundo motor parou e a nau ficou à deriva. A rapaziada, no entanto, resolveu o rebu. Só que ainda haveria mais um outro: o comando hidráulico do leme quebrou. O jeito foi a embarcação voltar, rebocada, para Salvador.
 Já imaginou se Pedro Álvares Cabral dependesse da moderna tecnologia brasileira para descobrir o Brasil? Com certeza, estas bandas tropicais ainda seriam habitada só pelos seis milhões de índios que vivim por aqui comendo mandioca– hoje, são só 350 mil.  
Bem pior, no entanto, do que a viagem da réplica da caravela de Cabral foi o que aconteceu em terra firme. Os cinco mil representantes da Polícia Militar da Bahia,  enviados para dar segurança à comitiva do presidente Fernando Henrique Cardoso, desceram a porrada e jogaram gás lacrimogêneo pra cima de índios e de sem-terras que aproveitavam  a oportunidade para reafirmarem a sua antipatia pelo Governo, que dizia ter entregue ao um desses grupos territórios igual ao de duas Alemanhas e ao outro terras do tamanho de cinco Dinamarcas.
Na festa dos 500tão, a polícia partiu, furiosa, pra cima dos primeiros moradores
 da  terra, como mostra esta imagem de www.comciencia.com.br
 Como as coisas mudaram por aqui, em cinco séculos! Em 1.500, quando Cabral chegou, a sua patota se misturou com os índios. 
Em 2000, Governo e PM os afastaram com gás lacrimogêneo. Sobrou, também, para o ministro do Esporte e Turismo, o organizador da festa Rafael Grecca, demitido dias depois. Se bem que o FHC já andava querendo se livrar dele, por conta de denúncias envolvendo os bingos. 
e sua parte, o presidente da FUNAI, Carlos Frederico Marés, pediu demissão, por ver o Governo fazendo violência digna dos militares que comandavam a Ditadura que foi de 1964 a 1986.
 Pelo restante do planeta, pegou mal as porradas nos manifestantes. Entre outros, os jornais Le Monde (francês) e El País (espanhol), respectivamente, escreveram: “Brasil comemora 500 anos reprimindo índios” e  “Amargo quinto centenário no Brasil”. Qual será a manchete quando o Brasil celebrar 555 temporadas pós Cabral? Tem-se três décadas e meia para pensar.       

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