Vasco

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sábado, 9 de maio de 2020

O VENENO DO ESCORPIÃO - TREMENDÃO FOI "CROONER" DE RENATO E SEUS BUE CAPS ANTES DA JOVEM GURDA ESTOURAR

  Ed Wilson, irmão de Renato e de Paulo César Barros, decidiu tentar a carreira solo. Embora ele tocasse o violão-base, a vaga que abriu no conjunto Renato e Seus Blue Caps foi para um um crooner (cantor), na qual entrou Erasmo Carlos, que passou uma temporada e meia com o grupo.     

 Erasmo conheceu Renato durante o programa Clube do Rock que Carlos Imperial apresentava na TV. Para chegar até lá, ele foi apresentado, por um amigo dos dois, a Roberto Carlos, que não era da sua turma, da Rua Matoso, na Tijuca, mas estudava no mesmo colégio – Ultra, na Praça da Bandeira. Lá pelas tantas, o novo amigo foi à sua casa pegar a letra de um rock  - Hound Rock – sucesso de Elvis Presley, para cantar no pré-show de Bill Halley e Seus Cometas, no Maracanãzinho, e, de quebra, afinou o violão dele, que não sabia tocar, e tocou um pouco. Por fim, o convidou a aparecer na TV.

            Erasmo está em pé, ao centro, quando cantava para a banda carioca


 Entrosado com a rapaziada do rock que ia ao programa do Imperial, Erasmo formou grupo cantante – Os Snakes – com os amigos Trindade, Arlênio e China. Ninguém tocava violão. Por ali, Tim Maia lhe ensinou a fazer os acordes de lá maior, ré, dó e mi, e chamou  Roberto Carlos para formarem o conjunto Os Sputnik, que chamavam os Snakes para acompanha-los nos vocais, barato rolou até os inícios de 1960, o fim dos Snakes, que gravaram pelo selo Mocambo, enquanto Roberto Carlos gravava um bolachão em 78 rotações para a Polydor.

 Quando Roberto chegou à CBS, os Sakes fizeram vocais para a faixa Malena. Depois, Erasmo ouviu, com Bobby Darin, não entendeu nada, porque não falava inglês, mas resolveu fazer uma letras baseada no que a música lhe dizia. Renato fez as firulas de guitarra, Roberto gravou, com Renato e Seus Blue Caps, e a música fez a carreira do capixaba decolar, sendo tocada pelo dia inteiro nas lojas de discos do Rio de Janeiro.    

     Roberto, Wanderléa e Erasmo foi o trio mais + mais do iê-iê-iê brazuca

  

Além do "Splish, Splash", Erasmo já havia contribuído com “Eu quero twist”, de sua parceria com Carlos Imperial, para o primeiro LP - “Twist” – de Renato e Seus Blue Caps, cantada na gravação por Reynaldo Rayol, irmão de Agnaldo Rayol. Mais tarde, já fora do grupo, ele cantou, com a turma, Gatinha Manhosa  e em Menina Linda, o sucesso que consagrou os Blue Caps, quando a banda que trocara a gravadora Copacabana pela CBS gravou o seu primeiro LP na nova casa – Viva a Juventude.

Em seus primeiros tempos com Renato e Seus Blue Caps, o repertório cantado por Erasmo Carlos não era só rock. Como eles faziam muitos bailes, rolava, também, boleros, para a moçada dançar de rostinho colado.

O interessante nessas história é que, embora tivesse sido parte de Os Snakes, que foram contratados pela CBS, esta gravadora não queria Erasmo como cantor-solo. O chefão da casa, Evandro Ribeiro, lhe disse: “Se já temos o Roberto Carlos, que canta no seu mesmo estilo, pra quê mais você?”. Recusado pela CBS – as gravadoras Odeon e RCA Victor também não o quiseram – Erasmo, então, procurou a RGE, que tinha em seu cast Chico Buarque e Maysa. Para ter o que mostrar a Benil Santos e Raul Sampaio, os homens que comandavam o selo, ele levou por referência o que havia gravado com Renato e Seus Blue Caps. Ganhou o emprego e gravou um compacto simples (vinil, na época), com Terror dos Namorados e Jacaré (como as pranchas de surf eram chamadas, de inicio, no Brasil). Chegado o momento de fazer o seu primeiro LP na RGE, em 1965  – A Pescaria -, Erasmo chamou Renato e Seus Blue Caps para acompanha-lo. Nesse ponto, Renato Barros contou uma história sacaníssima:

- O Erasmo (Carlos) havia incluído no disco uma música – Tom & Jerry -, do Getúlio (Cortes) e foi à representação do personagem pedir autorização para usar a imagem dos dois ratinhos na capa do LP. Tentou fazer parecer que seria promoção para os personagens figurarem na capa do seu dico. Então, o cara do escritório (de representação dos filmes da Metro Goldwin Mayer) que não o conhecia, bateu: “Acho que será promoção para o senhor, pois Tom e Jerry são conhecidos em todo o planeta. Já o senhor, estou conhecendo agora”. 

 O LP “A Pescaria” incluiu peças composta por Erasmo e Renato Barros  - “Beatlemania”, que teve música do segundo e letra do primeiro. Era um chegas pra lá nas garotas qe só queriam saber dos Beatles. Confira: “Vou acabar com a beatlemania/ Que atacou o meu bem/ É a ordem do dia/ Cabelo comprido/Nunca foi prova de ser mal/Se eu não puder na mão/ Eu brigo até de pau/Podem vir todos quatro/Que eu não temo ninguém/Só não quero que fique/Alucinando meu bem/Tenham calma amigos/A paz vai voltar/Pois com a beatlemania/Eu prometo acabar”.

                                 REPRODUÇÃO DA REVISTA INTERVALO

     A gravadora CBS não queria Erasmo competindo com Roberto Caralos


 Certa vez, Erasmo declarou que os Beatles eram o modelo para a sua patota só em termos de vestuário (terninhos com quatro botões), calçados (botinhas) e cabelos compridos, pois a moçada tinha influências mesmo era do rock´n´roll surgido antes deles. Confessava-se, assumidamente,  alienados por aquela época e que gostava alienação dos rapazes de Liverpool, ao ponto de imitá-los em entrevistas à imprensa, com respostas desconcertantes, para perguntas tipo “o que achava da guerra no Vietnam”, respondendo: “Tem, guerra no Vietnam? Não me avisaram”.

 Enquanto Renato e Seus Blue Caps gravaram várias versões dos Beatles, feitas pelo Renato e o seu irmão Paulo César, todas com muito sucesso, Erasmo Carlos só fez versão de uma beatlemaníaca – We said  today. Isso porque, segundo Gélson Morais, que foi baterista da banda, Erasmo se ligava muito mais no rock norte-americano, deixando os ingleses em segundo plano.


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