Vasco

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domingo, 24 de maio de 2020

HISTÓRIAS DO FUTEBOL BRASILIENSE. O GAMA E O GRINGO BOM EM PORTUGUÊS

     Hermano tivava dez no idioma brazuca, mas era zero em bola rolando

 Bicampeão do Torneio Incentivo, em 23 de junho de 1978, o Gama tinha por próximo passo eleger uma nova diretoria. Por unanimidade (130 com direito a voto), os conselheiros, escolheram Osvando Lima, cinco dias após a conquista do título, para comandar o rumo do Periquitão no biênio 1978/80. Comerciante proprietário de uma das principais lojas de vestuário da cidade do Gamas - Casa Lima -, Osvando tinha por principal meta construir o parque desportivo e a sede do clube.  Depois, olharia para o futebol.  Mas este terminou ganhando a sua prioridade.   

 Como o treinador Manoel Cajueiro deixara o clube, após o final do Torneio Incentivo-78, Osvando manteve o preparador físico Vanderlei Sales e entregou-lhe, interinamente, o comando técnico do time, repassado a Jaime do Santos durante o Campeonato Candango. Antes, porém, Vanderlei comandou a equipe na festa de recebimento das faixas de bi do Incentivo-78,  num amistoso, com a Anapolina-GO, em  seis de agosto daquele mesmo 1978.

Foto reproduzida do Jornal de Brasília

  Bom comerciante que era, Osvando Lima armou, logo, um meio de motivar a torcida para o amistoso interestadual, divulgando que o Gama lançaria o primeiro “gringo” do futebol candango. A curiosidade foi grande, tanta que a atração da partida já nem era mais a entrega das faixas, mas a expectativa pela estreia do hermano  Ricardo Daniel Equaras, de 26 aos, que teria jogado pelo argentino Gymnasia Y Esgrima e sido indicado pelo grande goleiro vascaíno/argentino Andrada. O treinador Jaime dos Santos, que receberia o time, na terça-feira, estava animadíssimo, pela chace de ter um argentino em seu futuro grupo. Para o jovem futebol profissional candango, era o máximo.

 Veio, então, o jogo das faixas, no Bezerrão, numa tarde de domingo. Por aquele tempo, era costume o torcedor ouvir o jogo, acompanhando as narrações de Aílton Dias e de Marcelo Ramos colando aos ouvidos os aqueles antigos radinhos à pilha. Os dois, anunciaram: “O Gama jogará com: Chico; Carlão, Kidão, Manoel Silva e Edvaldo; Santana. Júlio e Vicente; Manoel Ferreira, Roldão e Alves”. Assim que terminou de falar, Marcelo Ramo teve a frente de sua cabine tomada por torcedores, gritando: “Cadê o ‘gringo?”

 A Anapolina tinha um bom time, para o futebol do Centro-Oeste. O que atuou naquela tarde, por exemplo  – Moacir; Wilson, Mura , Gideone e Nilton; Roberto Chaves, Luis Carlos e Raimundinho; Natinho, Paulo Campos e Maurício –  era páreo duro para Goiás, Goiânia e Vila Nova, os principais de Goiás. Fazendo um jogo muito equilibrado, o visitante abriu 1 x 0, com gol de Paulo Campos. Aí a torcida gamense voltou gritar mais, daquela vez cobrando do presidente: “Cadê o ‘gringo’, Osvando, ele existe?”

 Como o Gama não conseguia empatar, Vanderlei Sales mandou Equaras para o jogo. O argentino, que chegara dizendo-se, indistintamente, ponta-direita, centroavante e meia-armador, atuando na armação, com a mesma desenvoltura que o fazia pelos flancos, “setor preferido”, era tão ruim, mas tão ruim, que Toninho Cândido, o diretor de futebol alviverde, não só o mandou embora do clube: o expulsou do planeta.

Oficialmente, Osvando Lima dissera que Equaras, que falava um português quase perfeito, recebera uma proposta, irrecusável, para voltar a trabalhar no consulado brasileiro da cidade argentina de La Plata, onde já teria servido e se tornado fluente em nosso idioma. Enfim, ele contratara um “gringo” que havia aprendido a falar como brasileiro, mas esquecera de jogar futebol como um argentino.

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