A
esposa samaritana de Herodes, "O Grande", Rei da Judeia e que nada fez de
importante para merecer o título (entre 40 a 36 AC) – foi tão inexpressiva,
historicamente, quanto a antecessora Dóris. Em compensação, nasceu para ter
parte nas mais badaladas emoções patrocinadas por quem passou do seu lado.
Maltace tornou-se cunhada de Salomé I, uma das maiores
encrenqueiras do reinado de Herodes, a quem pediu e foi atendida na matança de dois
dos seus maridos, José (também tio) e Costobar, pai de sua filha Berenice.
Ainda não é a Salomé que arrancou a cabeça de João Batista. Vamos chegar lá.
O que Maltace jamais imaginaria seria ter os
seus dois filhos – Arquelau, o mais velho,
e Antipas (depois, Herodes Antipas) – saindo no pau pela herança
política do pai. O filme aqui se passa entre 4 AC e 6 DC, quando o chefão do mundo ocidental já
era de Otaviano, "O Augusto", primeiro imperador romano (31 AC a 14 DC), após
derrubar Marco Antônio. Resumo da ópera: Arquelau não chegou a rei, mas
levou o governo da Judéia, da Samaria e
da Iduméia, enquanto o irmão ficou com a Galiléia e a Peréia, a Transjordânia.
Claro que a tia Salomé I não deixaria que a incluíssem fora dessa. No rolo,
embolsou 500 mil moedas de prata, o comando das cidades de Azoto, Fasélida, Jâmnia e o palácio real de
Ascalon – muito endereço para anotar na caderneta da família.
Se todas estas emoções fossem poucas para Maltace, que tal mais um
pouco de embalo? Como Herodes, "O Grande", tinha por um dos seus esportes
predileto casar-se e fazer filhos – teve 10 esposas –, Arquelau mandou a Lei
Mosaica à PQP e casou-se com Glafira,
ex-mulher do seu irmão meio-irmão Alexandre, com quem tinha rebentos
e arrebentou a boca do balão. Mas
Antipas, o segundo filho de Maltace, foi quem aprontou emoções estratosféricas,
mandando na Transjordânia, entre 4 AC e 39 DC. Chutou a esposa, filha do rei nabateu Aretas
IV, por causa de Herodíades, mulher de um seu meio-irmão, filho de Mariamna II
(uma das esposas de Herodes, "O Grande"). A moça era sobrinha da “Mari II”, filha de Artistóbulo,
filho da “Mari I” e mãe de Salomé II, que casou-se com Filipe, um outro
meio-irmão de Antipas. Que rolo, hem?
O
rolo maior, no entanto, rolou quando o profeta João Batista, que já estava na
estrada desde 29 DC, desaprovou, segundo os evangelhos de Marcos e Mateus, o
casamento de Antipas com Heroídes, que ficou uma fera, mesmo sabendo que o Torá
proibia casamento com cunhada, enquanto o “ex” estivesse vivo.
Pois
bem! Durante um aniversário do filho de Maltace, a vingativa Herodíades incitou a filha Salomé II a dançar
a dança que encantara Antipas, que prometeu-lhe presentear-lhe com o que
ela pedisse. E, em “nome da mãe”, ela pediu a cabeça do João.
Ciumenta
e dominadora, Herodíades derrubou o filho de Maltace. Quando Filipe, um outro filho de Herodes, "O
Grande", bateu as botas e o novo imperador romano, Gaio Calígula (37 DC),
transferiu os seus territórios – Aurinítide,
Batanéia, Gaulinítide, Panéias e
Traconítide – para o irmão de Herodíades, Agripa I, e o fez rei, a mulher
passou a encher o saco dele para conseguir-lhe o mesmo status real. Mas não rolou.
Os dois filhos de Maltace deram-lhe emoções
diferentes diante do que conta os Evangelhos sobre o “Salvador”. De acordo com
Mateus, foi a política administrativa de Arquelau na Judéia que fez José, Maria
e Jesus se instalarem na Galiléia, e não em Belém. De sua parte, Lucas relata
que Pilatos considerava Antipas mais qualificado a proferir uma sentença contra
um galileu, e o entregou. Irritado, por Jesus não ter feito um milagre, ordenou
que os seus solados o humilhassem e o devolveu a Pilatos e ao rumo da cruz –
Maltace foi uma autêntica mãe no olho furacão.
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